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“Seu filho não precisa do seu leite, ele precisa de você”

A gente idealiza a amamentação, mas é um momento difícil - Divulgação
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Publicado em 13/11/2019, às 11h30 por Rafaela Donini


A gente idealiza a amamentação, mas é um momento difícil (Foto: Divulgação)

A maternidade é um momento tão aguardado por nós que há uma idealização e desejo de que tudo seja tão perfeito, que muitas vezes não nos preparamos para as surpresas e desafios da vida. Estava eu, logo após dar à luz pela segunda vez, acreditando que já havia vivido de tudo e tiraria de letra, quando comecei a sofrer um sério problema de amamentação com o Vicente, que me levou a passar por duas intervenções cirúrgicas e um processo pesado e desgastante. 

Na época, eu não sabia, mas algum tempo depois fui descobrir que se tratavam das mastites, ou seja, um processo inflamatório nas glândulas mamárias que pode evoluir para uma infecção, como foi o meu caso. A minha surpresa com a notícia mostra a falta de informações sobre a maternidade real, sem o filtro do Instagram e a legenda de Chico Buarque. Já que 10 a 20% das mulheres apresentam pelo menos um episódio de mastite ao longo da amamentação. 

Com a minha primeira filha, Donatella, eu não havia tido nada. Tinha pouco leite, ela não era gulosa e amamentei até os 6 meses de idade, porque ela mesma já não queria mais. Foi quase natural para mim. Quando Vicente nasceu, já comecei a notar as diferenças. Ele era guloso, eu produzia bastante leite, a ponto de tirar na maquininha tamanha quantidade. Com o tempo, o bico do peito acabou ferindo (o que facilita a entrada de bactérias que causam a mastite) e segui a risca a velha dica de tomar sol e cheguei a usar laser para ajudar. 

Naquele instinto materno de ser super-heroína e fazer o possível e impossível pelos nossos filhos, eu continuei amamentando. Eu sentia tanta dor, mas persisti por ele. Quando tudo parecia melhorar, senti um caroço na mama esquerda, junto de uma vermelhidão. Buscando acompanhamento médico, passei a tomar um antibiótico (mais tranquilo, para não precisar parar de amamentar), mas não surtiu efeito. A inflamação só aumentava.  

Como leiga no assunto, não sabia muito bem o quanto do volume era causado pela inflamação e o quanto era leite. Eu apenas percebi visualmente, pois a mama esquerda (inflamada) passou a ficar muito desproporcional em relação a outra. Pedi ajuda e agradeço por ter feito isso até hoje. Foi apenas com uma especialista que percebi a gravidade da situação e voltei a fazer um ultrassom. Assim, sem mais, fui transferida imediatamente para o hospital, tendo apenas 1h para passar em casa e fazer uma mala.   

Ser internada, receber anestesia geral, passar por uma cirurgia, deixar um bebê e uma criança de 4 anos, parar de amamentar… Foi traumático viver isso. Costumo ser bastante positiva, mas o pânico me invadiu e pensei que não sairia daquele hospital viva. A mastologista percebeu o meu desespero e disse as palavras que eu precisava escutar: “Seu filho não precisa do seu leite, ele precisa de você”. Isso não significa que todos os meus medos sumiram, eu fiquei tão nervosa que voltei da anestesia lúcida e lembro claramente de abrir o olho e só conseguir ter um sentimento, alívio. Nossa, estou viva! 

Tudo parecia ter voltado ao normal, mas tive um novo susto. A infecção não havia sido completamente curada e precisei passar por uma nova cirurgia. Na segunda vez, o cansaço bateu. Eu só queria que acabasse. Em compensação, meu filho não teve nada. Eu tinha tantos problemas para resolver comigo e parece que ele sentiu isso. É como se ele tivesse amadurecido tanto e tentava verbalizar para mim: “Mãe, vai cuidar de você, porque eu estou superbem”. O mesmo com Donatella. Foi a primeira vez que ela me viu debilitada, com o peito enfaixado e drenos todos pendurados e me permitiu ter tempo para curar. 

É muito engraçado como os nossos filhos têm uma percepção e capacidade de analisar o ambiente e conseguir amadurecer com tudo isso. Hoje, com minha saúde em ordem, olho para trás e vejo que por algum motivo eu precisava passar por isso e ter esse aprendizado. Sentir todas as emoções que senti e, por outro lado, agradecer por não ter acontecido o pior. Essa é a minha história, mas conversa com a de tantas outras mulheres que enfrentam essa situação, inclusive com casos ainda mais graves. Nós queremos que tudo seja perfeito, mas, às vezes, o desconhecido vem e assume o protagonismo. Ainda há muito para descobrir e redescobrir com a maternidade. Essa é a minha única certeza agora.  

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