A magia da criança mesmo na hora da dor

Esta semana tivemos a perda do nosso gatinho e tudo está muito triste lá em casa. O Gabi, que já tem nove anos, está sofrendo como a gente. Sentindo a falta, a dor da ausência e a saudade. A casa está em luto, é fato. Exceto Rafael, que administrou superbem a partida de Luke e diz que ele virou um super-herói. Pelo menos acredita nisso piamente.

O Luke ganhou escudo, espada e uma capa. Está no prédio da Liga da Justiça com o Batman e o Super-Homem. Ficou forte e agora irá protegê-lo. “Ele virou estrelinha e um super-herói”, diz.

E ele já sabe que não verá o Luke novamente, assim como nunca viu o Batman humano, a não ser o boneco. Mas ele tem certeza que, assim como os tais bonecos, o Luke está por aí, protegendo ele com a sua capa de herói.

Fico me perguntando por que a gente perde essa magia tão cedo. Gabriel acha graça de tudo isso, mas no fim do dia ele chora pela ausência do nosso gatinho. Enquanto Rafa corre pela sala e fala: “vem, Batman, vem Luke!”. Gabi, aos nove anos, já não acredita mais nesse doce mundo imaginário. Ele já tem um ceticismo meio de adulto, sabe? Uma coisa sem brilho. É preto no preto, branco no branco. “Eu queria ter dito mais vezes que o amava”, me falou.

A vida seria mais fácil com o mundo do Rafael e seus super-heróis. Se para cada perda tivesse uma estrela. Se para casa ausência existisse uma missão. Se cada derrota fosse apenas uma luta perdida. “O vilão ganhou apenas dessa vez, mamãe! Ao combate!”.

A vida seria mais fácil se não levássemos tudo tão a sério. Se pudéssemos adentrar nesse mundo e olhar a vida pelos olhos das crianças. Sem as regras, burocracias e dores da vida real.

É um período de luto, eu sei. A cada um tem a sua maneira de viver a tristeza. Até as crianças. Mas elas, espertas que são, deixam a tristeza logo de lado e partem para onde está a alegria.

Nanna Pretto é mãe de Gabriel e Rafael, embaixadora da Pais&Filhos e editora do blog Dica de Mãe.

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