Publicado em 14/08/2021, às 16h00 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Quer dizer, então, que nosso dia chegou. Da mesma forma como olhávamos para nossos pais, com seus topetes e blazers brancos, da mesma forma que achávamos que eles não sabiam de nada, nem ajustar o tracking do videocassete, da mesma forma que sentíamos vergonha do jeito como eles puxavam conversa com nossos amigos, imitando nossas gírias e perguntando das “gatinhas” (ARGH!), chegou nosso dia: o mundo gira e somos nós, agora, motivo de constrangimento para nossos pimpolhos (CRINGE!).
A tendência vinha de 2019, quando o termo “ok, boomer” viralizou na internet como uma forma dos jovens esnobarem os mais velhos e suas opiniões. “Acho que a juventude de hoje está perdida!”. “Ok, boomer”. “Acho que as redes sociais fazem mal!”. “Ok, boomer”. “Acho que as mudanças climáticas não são causadas pelo homem”. “Ok, boomer”. Era uma forma deles dizerem que estávamos por fora. Cringe, o termo da moda, é o velho “vergonha alheia”, mas um “vergonha alheia” de adulto e tudo o que os adultos fazem.
Pedi para que minha filha adolescente me passasse uma lista de coisas cringe e, acreditem, praticamente TUDO o que a gente faz é cringe. Se você está lendo essa coluna na revista, é cringe. Se está lendo esta coluna na internet, também é cringe, pois jovens não leem coluna em site de revista. Se usa gif no Whatsapp, é cringe. Adulto fazendo dancinha de TikTok? Cringe! Adulto que gosta de BTS? Cringe! Falar que o problema são os boletos? Cringe! Dizer que ama café? Cringe! Usar o emoji que chora de rir? Cringe! Colocar legenda longa demais nas fotos do Instagram? Cringe! Se está lendo a palavra como se fosse CRINGÊ, meu deus, MUITO CRINGE!
Talvez, nossa única saída seja aceitar nossa condição. Negar que somos cringe é ainda mais cringe, ouvi dizer. “Não tem problema você ser cringe, pai”, minha filha me disse. “Mas você acha que sou muito cringe?”, perguntei. “Sou um jovem adulto estiloso, gente boa, que não faz você pagar mico”, eu disse, e ela explodiu de rir. “‘Pagar mico’, HAHAHAHAAHA”, ela disse. “Pai, o negócio é aceitar”. Resignado, coloquei um podcast para tocar no meu fone de ouvido bluetooth, enquanto tomava meu café e pagava boletos.
“Mãe, quando você era pequena já existia internet?”, me pergunta a Aurora, com 9 anos. “Não, nem computador. Nem celular, nem tablet, muito menos videochamada”, respondo eu, Ana, 43 primaveras nas costas, maior de idade e vacinada. “Sério?” Replicou a pequena, e saiu, rindo às pencas, quase tropeçando de tanto achar graça.
Essas crianças de hoje não imaginam o que era ter uma lição de casa que demandasse pesquisa pra quem não tinha uma enciclopédia em casa, como eu. Dá-lhe caminhar até a biblioteca pública e perguntar, perguntar, até achar algo que nos auxiliasse. Era uma função do cão, mas quanta coisa a gente exercitava: sair de casa, falar com estranhos, selecionar trechos e copiar, à mão. Bem diferente de procurar no Google, ler bem por cima e dar um Ctrl+C, Ctrl+V.
Nem tudo era melhor antes, óbvio que não. Os biscoitos que minha adolescente faz, após pesquisar dez minutos de tutoriais na internet, são muito melhores do que os duros e disformes que minhas avós faziam, e até mesmo os que a minha mãe, panificadora de mão cheia, faz. Isso tudo por uma razão muito simples: essas novas gerações têm um repertório de conhecimento acumulado gigante ao alcance das mãos. Quando usam do jeito certo é uma maravilha. Eu vejo progresso, evolução na Humanidade. O problema é que nem sempre é assim.
Nossos filhos nasceram numa época muito peculiar, podem assistir à aula de casa quando preciso, maratonar o que gostam nas telas e muitas outras coisas boas e práticas. Por outro lado, às vezes querem tudo tão pronto, tão rápido que me questiono se um dia vão se virar (bem) sozinhos. Agora a moda das crianças e dos jovens adolescentes é dizer que tudo que a gente faz ou gosta é cafona, criaram até um termo pra isso, cringe. Unha assim, cabelo assado, tudo virou cringe. Quer saber? Tudo bem, não tô nem aí. Que bom que eles gostam de outras coisas, pensam diferente, têm as suas próprias gírias. Que chato seria se o tempo passasse e as pessoas continuassem sempre iguais.
Há quem diga que nós humanos somos pouco originais, eu discordo. Se a gente olha pras pessoas com curiosidade e não achando que elas vão ser sempre iguais, a vida é tão mais interessante. Nossos filhos não são nossas miniaturas, são novas pessoas, do seu tempo, com suas ideias. Eu só não gosto quando a Aurora, aquela mesma que não acredita que não tinha internet quando eu nasci, me chama de noob, que significa novato, principalmente nas tecnologias. E não gosto porque… Ela tem razão!
Moral: “Os jovens querem se diferenciar da gente e isso é a coisa mais normal do mundo. Normal e antiga, vai dizer que você se identificava com os gostos dos teus pais quando era criança?”
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