Publicado em 13/02/2021, às 08h28 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Começou ainda no início do ano, quando fomos em uma livraria pela última vez. As meninas, como sempre, escolheram dois livros cada. Anita estava numa fase Jenny Han; Aurora pegou dois da Dora Fantasmagórica; a Ana separou O Som e a Fúria, que nunca tínhamos lido; eu peguei duas reedições do Vonnegut: Matadouro 5 e Cama de Gato. Pedimos um café e começamos a ler nossos livros – e, ali mesmo, depois de três ou quatro frases, comecei a chorar.
A Ana me perguntou: “O que foi?”, e eu respondi: “Não sei”. Mas eu sabia. Era que o mundo já andava tão bruto, tão seco, que ao ler algo bonito eu não aguentei. Chorei de ler o que alguém com alma tinha pra dizer. Uma esperança de que talvez o mundo não seja tão duro assim. E, depois desse episódio, vieram outros tantos.
Lendo Não Era Você Que Eu Esperava, chorei. Quando coloquei um show dos Strokes pra tocar em um sábado de noite, cantei e dancei lavando a louça, e chorei. Semana passada, assistindo A Caminho da Lua com minha filha pequena, chorei. Vendo o novo show do David Byrne, American Utopia, dirigido pelo Spike Lee, chorei. Vendo Hamilton, o espetáculo da Broadway, agora disponível no streaming, chorei. Assistindo Viver Duas Vezes com a minha mãe. Ouvindo Beatles, de manhã, na cozinha. Sozinho, na sala, quando terminei de ver o documentário As Mortes de Dick Johnson.
Tenho chorado tanto. Cada pessoa sente as coisas de um jeito, então imagino que nem todo mundo deva chorar com essas coisas. Minha própria esposa, quando me vê chorando com um livro, ou filme, ou música, me abraça, sem nenhuma lágrima nos olhos. “Meu chorão”, ela diz. E eu choro sem medo. É uma forma de me conectar com os sentimentos mais bonitos. Piangere, não sei se vocês sabem, é chorar em italiano.
Tolstoi dizia que todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira, e em 2020 cada pessoa é infeliz à sua maneira. Tem sido o mais duro dos anos, talvez não para cada um, mas para geral. A Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, que analisa todos os tweets em língua inglesa para perceber como está o humor entre as pessoas do mundo, chegou a esta conclusão.
O ano de 2020 é o mais negativo, desde 2008, quando a pesquisa começou. Você olha o gráfico do estudo e percebe o declínio da nossa felicidade. A pandemia, a quarentena, a economia, os protestos, o gráfico vai mostrando as pessoas mais e mais negativas. Os picos de felicidade são os feriados. O momento mais feliz do ano, o Dia das Mães.
Quando estou com minhas filhas me sinto no paraíso. Quando estamos lendo, juntos, deitados na cama, sou o homem mais feliz do planeta. Quando abraço minha mãe. Quando vou pra praia com minha esposa e sentamos na areia. Ouço as ondas e sinto o sol, tenho a impressão de que não existem problemas no mundo. Há apenas livros, música, a beleza da arte, e pessoas com alma e coração, pra gente conhecer.
Às 4h10 um bando de pássaros conversa na minha janela. Que tanto falam? Como conseguem estar tão animados a essa hora? Dez minutos mais tarde, voam pra árvore do condomínio ao lado. Às 8h dou bom dia pra Alexa, nossa assistente virtual. “Bom dia, aqui estão suas notícias… A temperatura máxima em Curitiba hoje será de 20 graus, com chuva”. Chuva?
Sorrio e me lembro de uma amiga portoalegrense que namorava um americano de São Francisco. Ele vivia a seca, a aridez e o medo de incêndios. Veio visitá-la no Brasil em um outubro chuvoso. Passou o mês na janela do apartamento, na cidade baixa, contemplando chuvas, raios e garoas que vertiam sobre o Guaíba. Quando a Milena lhe encontrava com o rosto molhado, nunca sabia se ele havia aberto a janela e enfiado a cara pra fora ou se eram lágrimas de emoção; ambas situações aconteciam com igual frequência.
Suspirava de paixão pela… chuva! Às 9h, aqui dentro tem “ohmmm”, “inspire, expire”, aula de matemática, podcast em inglês e o início da cantinela “mãe, posso jogar com a Isa?”. Lá fora: sons de carros, pássaros e construções. A rua está tão vazia que tudo ecoa. O bairro está se gentrificando. Haverá espaço para nós no futuro?
Ao meio-dia ligo um youtuber pra fazer o almoço, gosto da energia dos youtubers. “Muito bom dia, meus amigos e minhas amigas”, ele começa. Eu respondo: “Quase boa tarde”. Nunca assisto à transmissão na hora, mas deixo o meu like mesmo sabendo que é tarde para que “aquele like faça diferença e o vídeo chegue a mais pessoas”. À tarde, todos de fone. Silêncio no apartamento 401.
De todos os sons que adentram à casa, o mais inusitado é o da noite: a cantoria de um vizinho no prédio ao lado. Só dá para ouvir do meu banheiro ou do cafofo de onde faço minhas reuniões. “Bornnnnnn to be willllld”. Um karaokê! Que coragem, que desafino, mas que diversão cantar assim pra toda a rua ouvir. Gosto de gente que sabe se divertir. Às 10 da noite, o silêncio é a lei e o sono vem agitado. Às 4h10…
MORAL: “A vida tem nos ensinado a olhar pra dentro. De nós mesmos, de casa, da família. E se o choro vier, deixa chover”
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