Publicado em 20/06/2021, às 04h52 por Ana Cardoso e Marcos Piangers
Assim que as aulas começaram este ano fiquei empolgada. Os números de infectados em Curitiba estavam em queda, a expectativa das meninas estava em alta. A escola havia se organizado para funcionar de modo híbrido. Anita teria aula com uma dúzia de colegas nas terças e quintas de manhã e a Aurora iria ao colégio nas quartas e sextas à tarde, acompanhada de 15 amiguinhos.
De resto, cariam em casa, com seus computadores, fones, revistas, maquiagens, recortes e lanches infinitos durante a aula. As professoras estavam parecendo apresentadoras de jornal quando, após explicar uma tarefa na sala, olhavam bem pra câmera e falavam: agora é com o pessoal de casa, como quem chama uma reportagem ou a previsão do tempo.
No meu íntimo acreditava que esta volta era fundamental para a Aurora. Um ano sem natação, circo, yoga, capoeira e jazz zeram um estrago grande na sua curta vidinha. Ela está com a postura péssima, fraca, cansa com qualquer coisa e quando curva o corpo em direção aos pés, suas mãos não descem além dos joelhos. A mãe, jornalista e socióloga, até se esforça para dar séries de alongamento – todos os dias, às onze da manhã – mas santa de casa não faz milagre. Ela precisava voltar à real.
A Anita tem feito pilates online e encara uma volta na quadra, ou mesmo no bairro todo, diariamente. Mas, também queria sua turma de volta, tirar dúvidas com o professor ao vivo e conviver com pessoas da sua idade. Estava muito animada para ir pra escola “de verdade”. Mesmo que lá não pudesse desligar a câmera, assistir a outra coisa no celular, ouvir música ou ficar rindo no Discord com os amigos. “Foi estranho mãe, senti uma falta da minha chapinha pra ajeitar a franja na aula de matemática”.
Uma semana depois, o Marcos estava ressabiadíssimo. Os casos de covid-19 subiam exponencialmente na cidade. Os leitos disponíveis não eram mais suficientes, o perfil dos doentes agora incluía jovens e crianças. Me bateu medo. Ainda que a escola estivesse aberta, na segunda semana de aula, decidimos não mandar mais as meninas. Ressalto que o Marcos era contra já desde sempre.
Elas protestaram, mas entenderam nossa preocupação. Na terceira semana, a escola fechou de vez. Todos os alunos viraram “da galera de casa”. Até os professores voltaram para o isolamento doméstico. Agora, por mais que as portas sigam fechadas, toda sexta-feira a coordenadora nos manda uma enquete. Foram abertos mais de 300 novos leitos de UTI em Curitiba e os números de contaminados estão caindo aos poucos, ainda assim, sempre respondo: não, não e não.
Meus ovinhos são preciosos demais pra eu botar nessa cesta. Pra mim, já está definido, até julho, sem professores vacinados, não existe a menor chance de elas correrem este risco desnecessário. Por mais que chorem, que a Aurora jogue videogame ao invés de brincar de queimada com os amigos. Depois a gente corre atrás do prejuízo, agora o foco é ficar vivo.
Claro que sim, respondo de pronto, contrariando a regra jornalística de escrever um texto longo antes de dar a resposta que, geralmente, aparece apenas no último parágrafo. Claro que sim, as escolas devem abrir: em primeiríssimo lugar, as escolas públicas, lugar onde tantas crianças têm o único ponto de contato com aprendizado e práticas esportivas; espaço em que muitas delas encontram alimento inexistente em suas casas; ponto de contato com professores que podem avaliar seu estado físico e emocional.
Se crianças fossem a prioridade, escolas públicas de ensino básico seriam prioridade. Mas o orçamento para o ensino básico em 2020 foi o mais baixo da década, de R$ 42,8 bilhões. Sem falar que, com os filhos na escola, as mães poderiam voltar ao trabalho. A pandemia fez com que, atualmente, mais da metade das mulheres brasileiras estejam fora do mercado de trabalho. Das famílias com filhos no Brasil 53% são casais, 26% são mães solo, apenas 3% são pais (homens) sem esposa. As mulheres foram especialmente impactadas pela pandemia e são, antes dela, impactadas profissionalmente pela maternidade.
Trabalho com parentalidade desde 2014, buscando conscientizar pais a serem mais participativos, porque isso mudaria tudo: um pai presente melhora o cuidado da criança, melhora a vida da mãe e melhora seu próprio comportamento, em geral, autodestrutivo. As escolas públicas deveriam reabrir, seguindo os passos obrigatórios: vacinar todos os professores e servidores da escola; estabelecer normas de cuidado com contágio entre crianças e professores e servidores (nenhuma vacina oferece 100% de proteção); investir em testes para todos quando alguém apresentar diagnóstico positivo.
Depois das escolas públicas, as escolas particulares deveriam reabrir seguindo os mesmos protocolos – o impacto da pandemia na saúde mental das mães, pais e crianças e na vida profissional dos pais independe de classe social. Crianças de todos os níveis sociais precisam encontrar na escola o aprendizado, os amigos, as brincadeiras, as práticas esportivas, a cura através da arte, da conversa e do acompanhamento psicológico.
É claro que as escolas deveriam reabrir, para o bem das famílias e das crianças brasileiras. Mas nenhuma escola deveria reabrir sem que todos os funcionários estejam vacinados. Nenhuma escola deveria reabrir sem protocolos sérios de distanciamento e cuidados. Nenhuma escola deveria reabrir se não tivermos investimentos em testes e acompanhamento de contatos contaminados. Nenhuma escola deveria reabrir se as crianças e professores não forem realmente protegidos desse vírus maldito. Nenhuma escola deveria reabrir se a sociedade estiver envolta em caos e desinformação, em desrespeito e individualismo. Ou seja, as escolas deveriam reabrir, é claro. Mas, infelizmente, não deveriam.
Moral: “Aqui temos um consenso: escola, por enquanto, não.”
*A opinião do colunista não reflete necessariamente a opinião da Pais&Filhos
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