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A vida como ela é: o simples torna o dia a dia perfeito

Getty Images

Publicado em 03/07/2021, às 11h13 por Ana Cardoso e Marcos Piangers


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Ele: cuidado, contém positividade tóxica

Nosso carro furou o pneu. Nosso fogão está meio entupido. Nosso trinco da porta do corredor cai e faz um barulhão. A descarga do banheiro faz um barulhinho chato. Tenho que arrumar o armário da área de serviço. Acho que cada pessoa na família idealiza um apartamento diferente, mais novo, maior, com espaço pra horta, um terraço com piscina. Se for possível, ótimo, quem sabe um dia, mas hoje é sábado e nosso apartamento é o lugar mais feliz do mundo.

São as coisas simples da rotina que deixam ela tão especial em família (Foto: Getty Images)

Eu me pergunto se as outras famílias são tão felizes. Se no som do vizinho também toca Gil. Não adianta nem me abandonar, se a esposa prepara uma lentilha, se as crianças arrumam a mesa, se alguém prepara um suco de laranja, se ele abre um vinho branco, mistério sempre há de pintar por aí. Eu me pergunto se as outras famílias estão agora preparando almoço, se os outros apartamentos têm plantas brotando por todos os cantos, se eles também têm uma batata-doce em um copo de água dando ramas gigantescas. Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais.

Coloco os pratos na mesa da sala e olho para os talheres, já faz algum tempo que as meninas não usam colher de plástico. Eu lembro, parece que foi ontem. Elas usavam garfinhos de plástico azul-claro. O prato da pequena ainda tem um desenho de coruja, mas já é um prato de gente grande.

O tempo passou tão rápido nos últimos dez anos, mas tão lentamente nos últimos dez meses. Minhas filhas crescem devagar, como as plantas espalhadas aqui pela casa. Todo dia uma folha nova se abre vagarosa. Que não sabe nada, que morre afogada por mim. Me pergunto se as pessoas tiveram a chance de acordar hoje e aproveitaram meia hora da manhã para ficarem abraçadas nos filhos. Me pergunto se as esposas também leram um livro, se os filhos adolescentes acordaram meio-dia, se de tarde o vinho fez efeito e teve soneca, se de noite todos se abraçam antes de dormir, se agradecem, obrigado, obrigado, obrigado, tem que arrumar o pneu do carro, o trinco, a descarga, o armário da área de serviço, que estes sejam sempre os nossos maiores problemas.

Ela: o simples não intoxica

O médico que sempre te deixa horas esperando na sala de espera dificilmente vai te curar porque você já está tão cansada quando te chama, que tudo que sair daquela boca será recebido com má  vontade pelo teu cérebro. Nós somos uma máquina, comandada por um emaranhado de massa cinzenta. Se essa massa encasqueta com algo, nosso corpo obedece, às vezes atropelando a razão e as leis de causa e efeito.

Por isso, precisamos tratar nossos sentimentos e pensamentos com gentileza. Sempre defendi que as redes sociais eram um lugar pra mostrar coisas belas, que não havia mesmo motivo para vermos (nem mostrarmos) vômitos, olheiras ou uma bandeja cheia de remédios no Instagram. De uns  tempos pra cá, no entanto, venho passando por tantos questionamentos internos que sou capaz de ficar meses sem postar nada.

É como se, de repente, tudo soasse como ostentação. Poucos posts me cravam um riso na alma, como os da Clara Maria, filha da Tatá Werneck. Bom mesmo é vida real, legenda engraçadinha, criança com cabelo todo bagunçado. O resto é autopropaganda de vida perfeita. É foto de casal que faz textão de amor e um mês depois se separa, é viagem pra fora que termina com covid na volta. É tanta informação que ninguém precisa. É a tal da positividade tóxica. Mensagem ou gente feliz, rica ou sarada demais na internet fazem muitas pessoas se sentirem um lixo.

Estamos vivendo um momento atípico, uma realidade paralela, quase distópica. Algumas pessoas têm registrado isso com beleza ímpar, encapsulando esses momentos em sua totalidade, na alegria e na tristeza. Um dia poderemos rever isso e lembrar exatamente do que passamos agora. O bonito e o feio. E o segredo pra não ser irritante, e deixar o outro mal, como o médico atrasado, é a simplicidade. A felicidade está nos momentos simples, sempre esteve. A internet que andou glamourizando demais a vida e fazendo a gente se sentir miserável por não ser, ter e parecer tão bom quanto o outro. É hora de virar esse jogo.

Moral: “Não tenha vergonha de quem você é, do seu carro, dos seus dias ruins. Ostentar é a maior cafonice que existe!”


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