Colunas / Bebê Leitor

Simplesmente juntos

Laura Alzueta

Publicado em 30/03/2017, às 08h51 por Lô Carvalho


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Eu me alimento, ela se nutre. Eu me mexo para a direita, ela corre para a esquerda. Eu danço, ela chuta. Estamos juntas. Duas em uma. Maior proximidade, impossível. Será?

Ela nasce. O que era apenas um movimento se transforma em cheiro, textura, calor. Sinto-a por completo. Ela é minha. Depois de horas, dias, semanas em meus seios, eu sou dela… Estamos juntas, maior proximidade impossível. Será mesmo?

Ela cresce. Chama por mim, chora nas despedidas, diz que me ama, abre os braços e corre ao meu encontro quando me vê. Vou trabalhar e só penso em voltar para casa. Preciso revê-la. Não posso mais estar longe. Não quero perder nada: o banho, a refeição, a brincadeira, os livros para ler, suas primeiras palavras, suas frases mais completas.

Olho de lado e vejo que não estou só. Tem um homem, 40 anos, ainda de gravata sentado no chão. Chegou antes de mim. Ela o chama de pai e agora ele está lá, ajudando-a a trocar as fraldas dos seus bebês de pelúcia. Passado algum tempo e ele está lá novamente, ajudando-a a trocar os minis sapatos e os mini vestidos da mini boneca. Por que ele faz isso? Nunca ligou para os meus sapatos e tampouco me ajuda a fechar os meus vestidos… Ele está lá, simplesmente junto. “Mais junto impossível!”, explica. Tem certeza?

Ela cresce mais e mais. Entro em casa. Na sala, não encontro ninguém. Olho para os quartos. Uma porta  nos separa. Já não compreendo o que ela diz e ela já não se interessa pelo que tenho a contar. Não corre mais ao meu encontro. Seu rosto já não se abre mais em um sorriso quando me vê. Ele também está lá, em silêncio. Não estamos mais juntos. Comer junto, tomar banho junto, brincar junto, rir junto, ler junto, passear junto, cuidar, amar… Todos esses juntos já não nos representam mais… Preciso saber, o que é realmente estar junto?!

Olho de lado e vejo certa movimentação na cozinha. A porta do quarto agora está aberta. O pó da farinha espalhado pelo chão. Cascas de ovos melam a bancada da pia. “O que você está fazendo?!”. Ele responde: O jantar. Não esquentando o jantar já pronto. Mas fazendo um novo, do zero. “Mas é quarta e são oito da noite!”. O olhar dela brilha. Me mostra a tela do celular, passa um filme. Uma voz mais infantil surge do fundo. É o caçula. “Olha mãe, é a nonna ninja. Olha mãe como ela corta o macarrão. Papai descobriu a receita no face. Vai ter macarrão caseiro pro jantar”. Ele sorri, com uma imensa faca na mão. Vão cortar a massa. O pai enrola, a filha segura e o pequeno vem com a faca. Em silêncio, me retiro. É certo que a bagunça me incomoda, mas preciso refletir.

O pai explica: Mandaram o vídeo e ele precisava fazer igual. Passou o dia tentando descobrir como fazia. Descobriu e logo tinha que por as mãos na massa. Assim ele é. E, sendo assim, a porta dela se abriu. Estavam juntos? Não, simplesmente ERAM juntos. Sim, por que conforme os filhos crescem a gente percebe que não basta estar junto. É preciso mais. O quê?

Procuro por todos os lados e ela insiste: Eu sou eu, seja você! E é no ser que encontro as respostas. Ser mãe, mulher, dona de casa, autora, empresária, cachorreira… Ao me ser, a porta do quarto se abre novamente. Um livro é “roubado” da minha estante. Trata-se de Kant. Não mais leremos juntas. A cumplicidade mudou. É existencial. “Filha, justo o livro mais difícil de ler?”. Ela ri, diz que vai conseguir. Pode demorar anos, tanto que é capaz dos filhos dela encontrarem o mesmo livro na casa dela. Na tentativa de ser ela mesma, prosseguiremos juntas.

P.S. Toda essa reflexão sobre estar juntos surgiu de um bate papo com as meninas daqui da revista Pais&Filhos. Foi por meio delas que conheci o trabalho maravilhoso do Projeto Tempo Junto, da Patrícia Camargo. Ela vai estar no 3º Seminário Internacional Mãe Também é Gente, agora dia 4 de maio. Uma maravilhosa oportunidade para, juntos, prosseguirmos refletindo sobre o que é estar junto dos filhos, do marido, dos amigos e, principalmente, de nós mesmos!

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