Bebês

Saltos de desenvolvimento do bebê: por que você não deve usar esse termo e quais marcos prestar atenção

O termo “saltos de desenvolvimento” dão a impressão equivocada que o bebê adquire habilidades de uma hora para outra

Publicado em 22/07/2022, às 11h26 - Atualizado em 26/07/2022, às 15h46 por Cecilia Malavolta


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Quem nunca ouviu o termo “saltos de desenvolvimento” que atire a primeira pedra. Na teoria, esse nome foi dado aos momentos em que o bebê passa por fases muito rápidas de desenvolvimento neurológico, quase que de um dia para o outro. No entanto, é preciso dar um passo para trás quando pensamos no assunto.

“O desenvolvimento das crianças acontece de forma linear. Todo mês tem coisas novas e os bebês vão desenvolvendo muitas habilidades. No começo, mexem os olhos para se comunicar com os pais logo nos primeiros meses. Conseguem pegar objetos com as duas mãos por volta de cinco meses, ficam sentados com seis meses, mais ou menos, andam por volta de um ano e falam com um ano e meio, dois anos”, lista o médico do departamento Materno-Infantil do Hospital Albert Einstein, Claudio Len, colunista da Pais&Filhos e pai de Fernando, Beatriz e Silvia.

O raciocínio do especialista mostra a construção do desenvolvimento infantil: gradativa, linear, constante. A ideia de que as crianças se desenvolvem a partir de saltos, ou seja, um rompante rápido de mudanças que mostrem a evolução neurológica e motora delas, pode ser uma maneira descomplicada de explicar algo extremamente complexo, mas que nem sempre é a melhor saída.

O termo “saltos de desenvolvimento” dão a impressão equivocada que o bebê adquire habilidades de uma hora para outra

“Isso é um jeito de simplificar e homogeneizar todo mundo. Cada criança tem sua história, sua família e seu desenvolvimento. São tantos detalhes que eu acredito que a expressão ‘saltos de desenvolvimento’ tenta simplificar uma coisa que é muito complexa. O desenvolvimento infantil é contínuo. Não é uma coisa que tem saltos e picos”, enfatiza dr. Claudio.

Os sintomas dos “saltos de desenvolvimento” e a ciência

Basta uma busca rápida no Google para nos deparamos com as mais diversas explicações do que são os saltos de desenvolvimento de um bebê e como os pais podem identificar os sinais de que o filho está passando por essa fase. Na internet, os sintomas que apontam esse desenvolvimento rápido são: carência, choro constante, desejo de colo, mudanças de sono e alterações no apetite.

O pediatra explica que não existem comprovações científicas de que esses sintomas realmente fazem sentido com o momento de desenvolvimento da criança – até porque, ele reforça, ela se desenvolve de maneira linear e constante, e não de um salto para o outro. “Não é nada disso. Por que o bebê está carente? Porque ele quer chamar os pais e ter contato com eles, não é salto de desenvolvimento. Mas isso acontece o tempo todo, não só em determinada idade. O bebê vai se comunicar de acordo com a habilidade que ele tem no momento: uma criança com dois anos vai chorar e pedir pelos pais. Aos seis meses, vai gritar. Isso não é questão de salto, e sim de comportamento”, explica.

Como surgiram os “saltos de desenvolvimento”

“Esse termo, que vem sendo bastante usado popularmente, é baseado em uma pesquisada realizada por um casal no final da década de 1980”, explica a dra Eliete Faria, neuropediatra, colaboradora voluntária do ambulatório de transtorno do espectro autista PROTEA do Ipq da FMUSP e mãe de Sara e Estela. De acordo com a especialista, os pesquisadores fizeram uma observação de chimpanzés que viviam livremente na África. “Eles perceberam que esses animais passavam por alguns períodos em que havia uma regressão no desenvolvimento, que descreveram ter um comportamento com mais choro e ficar mais próximos da mãe. E, logo depois disso, eles tinham alguma aquisição de desenvolvimento”.

A teoria dos saltos de desenvolvimento é baseada nessa observação feita pelo casal de pesquisadores. Na década de 1990, esse experimento foi refeito com bebês e, dentro da análise inicial, foram identificados dez momentos em que os seres humanos analisados passavam por momentos semelhantes aos dos chimpanzés. “De acordo com as observações, as crianças teriam um período de regressão e depois um avanço no desenvolvimento. Essa teoria, no entanto, precisa ser vista com muita cautela”, alerta a neuropediatra.

Estudos mais recentes, datados do início da última década até hoje em dia, apontam que o desenvolvimento infantil acontece “de forma contínua, intensa e acelerada desde o período intrauterino, e que a criança está em processo de transformação ao longo de toda a primeira infância, principalmente até os três anos, e depois, ao longo de toda a infância de adolescência, esse desenvolvimento ainda está acontecendo”, conta dra. Eliete.

Um exemplo para mostrar que o desenvolvimento acontece de maneira contínua, e não em saltos, é o ato de andar. “A criança não vai de uma hora para outra começar a andar. Se ela não passar os estágios anteriores, se ela não segurar o pescoço firme, não sentar sozinha, eventualmente pode não engatinhar. Isso tudo bem, mas, antes de andar,  ela vai começar a rolar, se levantar com e  sem apoio, e aí dará os primeiros passos com e sem apoio também”, explica dra. Eliete.

O desenvolvimento infantil é complexo e não pode ser simplificado por meio de termos pouco descritivos (Foto: Getty Images)

Os 10 saltos de desenvolvimento do bebê

Ainda segundo a teoria do casal de pesquisadores, os bebês passam por dez saltos de desenvolvimento ao longo do primeiro ano de vida. “Mas, novamente, essa não é uma boa forma de acompanhar o desenvolvimento neurológico do bebê da criança, porque isso não tem uma comprovação científica replicada com artigos que sejam bem fundamentados. É só uma observação clínica de dois pesquisadores, não foram aplicados testes padronizados para a gente saber se isso acontece mesmo. Não é uma forma fiel para o acompanhamento”, explica a neuropediatra.

Uma publicação realizada pela revista Pediatrics em 2022 fez uma revisão de todos os artigos já publicados sobre o assunto e apontou que 75% das crianças atingem uma determinada habilidade com uma idade específica. “Então, se a criança não atingiu aquela habilidade esperada para a idade determinada por essa pesquisa e para essa revisão, a gente pode considerar que ela tem algum atraso no desenvolvimento e que precisa ser melhor avaliada”, acrescenta dra. Eliete.

Cada bebê é diferente e possui seu próprio tempo, não pode existir uma competição entre pais e crianças para ver quem se desenvolve antes. No entanto, é preciso ficar alerta com os marcos de desenvolvimento porque existe, sim, uma data limite para que seu filho conquiste determinadas habilidades. É extremamente importante saber os prazos para que não haja nenhum prejuízo no futuro.

“Temos que realmente respeitar a individualidade de cada criança, mas também precisamos ter muito claro o que é esperado para cada idade. Pensar que cada um tem o seu tempo e não saber o que é esperado pode ser prejudicial. Nos primeiros dois anos de vida, seu filho terá flutuações porque ele está em desenvolvimento contínuo. Ele pode ter dias em que vai chorar mais, que vai querer comer menos, vão ter dias que ela vai dormir pior, mas porque ela está em adaptação”, diz a neuropediatra.

Novos marcos de desenvolvimento do bebê aos 2 meses

Novos marcos de desenvolvimento do bebê aos 4 meses

Para que o bebê consiga andar sozinho e sem apoios, ele precisa passar por um longo desenvolvimento antes, que é contínuo e intenso (Foto: Getty Images)

Novos marcos de desenvolvimento do bebê aos 6 meses

Novos marcos de desenvolvimento do bebê aos 9 meses

Novos marcos de desenvolvimento do bebê com 1 ano


Palavras-chave
Bebê Família Saúde Desenvolvimento

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