Publicado em 14/01/2013, às 22h00 - Atualizado em 24/03/2016, às 09h37 por Redação Pais&Filhos
Por Matheus Monteiro, filho de Leonice e Edimar
15/01/2013
Ainda que muito seja divulgada e discutida, a relação entre primos é um tema controverso, rodeado de dúvidas e mitos. A questão fica ainda mais complicada se envolver a vontade de ter filhos. Várias pessoas, sem fundamento científico e médico, dizem que é certeza que os bebês nascerão com doenças e malformações. Mas o risco é menor do que se imagina.
De amigos para namorados
As amizades e relações feitas na infância são muito importantes para o desenvolvimento social de uma criança e, dependendo do estímulo e do contato que se estabelece, os primos podem acabar assumindo o papel de primeiros amigos das crianças. Se as famílias se encontram muito e a amizade flui de uma maneira natural, é possível que a cumplicidade siga forte pela vida inteira.
A questão é que alguns podem estender os laços de amizade e se tornarem namorados em determinado momento por causa da proximidade, e por fatores exclusivamente sentimentais – que nem todo mundo entende. “Quando a convivência é muito grande, a identificação também fica maior, já que eles sempre brincam juntos. O laço afetivo vai se formando desde pequeno e, em alguma hora, a paixão aparece”, explica a psicóloga Miriam Barros, mãe de Thiago e Felipe. Segundo ela, a relação amorosa entre primos não necessariamente tem que ser estimulada, mas, se acontecer, deve ser tratada de forma natural.
O namoro consanguíneo tem vantagens e desvantagens peculiares, já que existem parentes em comum. O ponto positivo é que não é preciso se adaptar a família do outro, já que todo mundo se conhece e possivelmente já tem um bom relacionamento. Mas, ao mesmo tempo, os vínculos familiares podem interferir negativamente em situações de brigas ou separações.
O importante, então, é como a família e os amigos irão lidar com isso, para não gerar maiores dificuldades. “Relacionar-se com alguém já não é fácil, e, quando existe uma cobrança negativa, a dificuldade dobra”, afirma o psicólogo Maurício Pinto, pai de Liz e Ian. Mas, segundo ele, o casal não deve abrir mão do relacionamento por conta de pressões e do preconceito.
Filhos: ter ou não ter?
Após assumirem que estão juntos para a família e para os amigos, quando decidem ter filhos, os primos-namorados percebem uma grande quantidade de dúvidas e opiniões difusas. “Tê-los ou não?” “Meus filhos podem nascer com alguma deficiência?” O ideal, antes de tudo, é consultar um geneticista, que levantará todos os dados da genealogia da família e, a partir disto, explicar as possibilidades e riscos da gravidez objetiva e claramente.
Mas as chances de um filho com alguma deficiência ou malformação não é certa e depende de vários fatores. De acordo com uma pesquisa do Conselho Nacional da Sociedade de Genética dos Estados Unidos, o risco de um casal sem parentesco gerar um filho com deficiência é de 3%. Já para casais que têm consanguinidade, o risco sobe para quase 6 ou 8%, caso eles não apresentem histórico de doenças genéticas na família.
“Todos nós carregamos genes bons e genes ruins – que causam alguma doença. Todo gene produz uma proteína, e cada proteína tem uma função no nosso organismo. Geralmente, o gene ruim carrega uma cópia – chamada recessiva – que não se manifesta no nosso corpo quando é única. Dois genes recessivos, porém, acabam se manifestando, e é por isso que existe o risco maior entre primos, já que a origem familiar dos dois, em algum momento, é a mesma. Caso se tenha um filho e ele apresente a doença, é certeza que o gene recessivo está presente em alguém, então o risco passa a ser de 25% na próxima gestação”, explica a pediatra e geneticista clínica Marta Wey Vieira. É aí que se encontra o perigo.
Explicando mais facilmente: se a mãe tiver algum gene com uma alteração recessiva que causa surdez, por exemplo, e o pai também, o filho poderá herdar dos dois, e, assim, os genes juntos irão causar a surdez. Mas, se apenas a mãe tiver o gene, mesmo que o bebê o herde, ele não ficará surdo.
Segundo Marta, quanto maior o parentesco familiar, a chance de isso acontecer também fica maior. E é por isso que o aconselhamento genético é indicado: para calcular os riscos ao investigar as últimas gerações e para avaliar as possibilidades.
Pais primos
Algumas doenças recessivas ocorrem com mais frequência na população. É o caso da anemia falciforme (malformação nas hemácias que causa deficiência no transporte de oxigênio), fibrose cística (que provoca pneumonias de repetição e gera dificuldade de absorção de alimentos) e a surdez. Por isso, o estudo de riscos, feito por especialistas, pode ser iniciado por elas.
Além de tudo, algumas destas, como a fibrose cística, têm tratamento que, quanto antes iniciado melhor. Então, o ideal é avaliar os riscos também depois do nascimento do bebê. E o teste do pezinho é a melhor solução para isso. O ampliado – importante para qualquer casal – é o mais indicado para casais consanguíneos.
Portanto, ciente dos riscos e possibilidades, e depois de ouvir médicos e especialistas, cabe ao casal a decisão final de ter filhos ou não. Chances de gravidez de risco e bebês doentes existem, mas do desejo e da vontade é você quem sabe. A empresária Fernanda Kappel, por exemplo, casou com o primo de terceiro grau, Murilo Thiele, informou-se sobre os possíveis problemas, mas optou por ter os filhos mesmo assim. “Fiz os exames normais e fui sempre acompanhada pelo meu médico. Mesmo sabendo de tudo resolvi arriscar, já que, de qualquer forma que nascesse a criança, ela seria bem amada. Hoje temos um casal, a Ana Luiza e o Théo. Ambos lindos e saudáveis”, comenta orgulhosa. No fim, o “risco” de ter filhos maravilhosos e indispensáveis na sua vida talvez seja maior que qualquer outro.
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