Mulher perde 14 anos de memória e esquece de filha e marido após AVC: “Tinha voltado para 2003”

Aos 44 anos, Edneide Melo, acordou após uma cirurgia sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo na vida dela. No ano de 2017, fez uma cirurgia para retirar pólipos no nariz, após o procedimento ela sofreu dores de cabeça.

Por conta das dores ela foi medicada e dormiu, ao acordar ela não se lembrava de nada, nem mesmo do próprio marido. Em entrevista ao portal Viva Bem, Edneide contou sobre o que viveu: “Minha primeira reação foi perguntar: ‘Bati o carro?’. Ele disse que não e explicou o que estava acontecendo”, disse ela sobre a reação ao acordar.

Ela não entendia a intimidade do marido com ela e se desesperou: “Tive um surto, gritei, coloquei ele para fora do quarto. Dizia para ele não colocar a mão em mim, que ele era louco. Foi uma situação de terror. Olhava sem ter referência nenhuma sobre ele. Eu tinha voltado para 2003. Estranhei o ambiente em que estava. Morava antes em São Paulo e, depois do meu casamento, vim para Santo André. Não reconhecia o hospital”, explicou ela sobre os primeiros momentos após ter esquecido tudo.

Edneide também se chocou ao ver os pais, já que as últimas memórias dela eram de 2003: “Quando eles entraram no quarto, estavam grisalhos e diferentes do que 14 anos atrás. Questionei por que estavam assim e eles sem saber o que estava acontecendo. Um médico me fez algumas perguntas. Disseram que eu estava com uma alergia da anestesia geral, uma disfunção cognitiva pós-operatória, que meu organismo ia expelir e tudo ficaria bem.”, contou ela sobre o diagnóstico inicial

Após pedidos do esposo, Tiago, uma neurologista foi colocada no caso e ela descobriu que na verdade Edneide tinha sofrido um AVC isquêmico que teve como consequência a perda da memória: “Quando tive alta, a esperança era retomar a memória em 30 dias, mas já são 6 anos. Era uma mulher de 38 anos que voltou a ter 25. Tinha atitude de 25, estava casada com uma pessoa que não sabia quem era, com uma filha de 12 anos sem nenhuma memória da maternidade”, contou ela ao Viva Bem.

Após perceber que muitas coisas estavam diferentes, Edneide sofreu diversas crises de ansiedade, por não se lembrar do marido e da filha, de novos amigos e também descobertas sobre pessoas próximas que tinham falecido: “Me doía ver as pessoas chegando e eu sem saber quem eram. As pessoas choravam e eu entrava em desespero. Entrei em depressão e comecei a fazer terapia. Tinha de aprender a conviver com meu marido. Durante dois anos, ele acordava na esperança de eu me lembrar dele — o que não acontecia.”

Edneide falou como foi descobrir que tinha uma filha, Natália, de 12 anos: “Uma coisa que me dói muito é que a primeira vez que a vi, virei o rosto. Disse que ela não tinha nada a ver comigo e que as pessoas estavam loucas de dizer que era minha filha. Eu ainda nem sabia me comportar como mãe. Assistia a vídeos meus como mãe, mas não sentia nenhuma emoção. Entendi que ela era minha filha na sua festa de 15 anos. O fato de vê-la ensaiar, conviver com amigos, dançar a valsa… entendi que minha família estava ali, embora eu não conhecesse nada deles”, explicou ela ao portal.

Após muitas tentativas entre terapias de regressão, rituais e cirurgia espiritual, Edneide continuou sem a memória, dessa maneira ela entendeu a sequela: “Tenho esperança de ter a memória de volta, especialmente pela maternidade, que é algo que me dói muito. Me faz falta o sentimento de carregar aquele ser dentro de mim. Choro pela tristeza de não lembrar”, explicou. 

Apesar disso, ela retomou a vida aos poucos e com ajuda da família e amigos: “Foram 6 anos construindo um amor mais maduro — e em cima de sofrimento. Hoje, amo o Thiago de maneira mais concreta e madura. Não me reapaixonei por ele porque não lembro do outro amor. O que aconteceu é que eu me apaixonei por esse homem de coração tão bom. Para o futuro, quero manter minha família, para seguirmos juntos. Minha família está unida na ausência, passando pelo luto de uma pessoa viva e é isso que não quero mais. Quero cuidar deles também e ser uma referência para pessoas que tenham passado pela mesma coisa.”, disse ela ao Viva Bem.