Família

Avós para toda obra

Imagem Avós para toda obra

Publicado em 19/12/2012, às 08h00 - Atualizado em 12/02/2022, às 13h00 por Redação Pais&Filhos


Cidinha busca Téo e Martim na escola alguns dias por semana. Dá banho e jantar para os dois. Às quartas-feiras, leva os irmãos na natação. No dia em que o mais velho precisou se vestir de Gato de Botas para uma apresentação na escola, foi até a rua 25 de março comprar apetrechos para fazer a fantasia. Wilza busca os meninos na escola nos outros dias da semana. Também dá banho, jantar, leva na natação. E, de vez em quando, os leva para dormir na casa dela. Cidinha é avó de Téo e de Martim. Wilza também.

É graças a essa dupla incansável que o casal Adriana Nunes e Tomás Vieira consegue dar conta do trabalho e da criação dos filhos. A família de Téo e de Martim não é exceção. Já faz tempo que a participação dos avós no cotidiano dos netos não se restringe mais às férias e ao almoço de domingo. “Dou aula à noite e chego em casa tarde”, conta Adriana. “Não sei o que faria sem elas.”

Com as longas jornadas de trabalho que as mães enfrentam ao lado dos pais, os avós têm sido cada vez mais solicitados a ajudar na criação das crianças. Em muitos casos, além dos cuidados diários, representam uma fonte importante de sustento financeiro.

Dados do IBGE apontam que 20% dos domicílios brasileiros têm idosos como chefes de família, o que corresponde a mais de 8 milhões de lares.

Vovós modernas

Aquele estereótipo da vovó tricotando na cadeira de balanço e do velhinho distribuindo presentes para os netinhos já não corresponde à realidade. Não mesmo.

Os avós de hoje pertencem a uma geração que encabeçou mudanças importantes na estrutura familiar. “Eles são mais liberais, mais saudáveis, mais ativos e economicamente mais estáveis do que os avós de épocas passadas. Essas diferenças se traduzem em novas maneiras de se relacionar com os netos”, afirma a psicoterapeuta Lidia Aratangy, mãe de Cláudia, Silvia, Ucha e Sérgio, e autora do Livro dos Avós (Ed. Primavera Editorial).

Do lado dos netos, eles têm pais cada vez mais velhos e menos irmãos. Entram na escola cada vez mais cedo e passam menos tempo com as mães. E elas continuam a se desdobrar para conseguir conciliar a maternidade com a carreira. Com tudo isso acontecendo, uma das marcas do novo relacionamento entre avós e netos diz respeito ao papel de co-educação que os primeiros vêm assumindo ao lado dos pais. Afinal, a convivência cotidiana traz consigo responsabilidades que não cabiam aos avós de domingo.

Uma coisa é chupar bala antes do almoço, no final de semana, na casa da vovó. Outra coisa é comer doce fora de hora a semana toda.
A advogada Daniella Meggiolaro, mãe de Guilhermina e Letícia, conhece essa história: “Como buscar minhas filhas na escola faz parte da rotina das avós, já tive que puxar a orelha das duas para não ficar dando balas e presentes em excesso”, lembra. “Mas, por outro lado, entendo que as avós queiram dar carinho sem medida e sem censura”.

Maíra Duarte, mãe de Miguel e Benjamin, é mais enfática: “Não tem nada a ver essa história de que a avó tem que estragar a criança. Acho que, sendo outra referência de cuidadora, ela tem o papel de auxiliar os pais.” Morando com o marido e os filhos na casa da mãe, Maíra conta que suas escolhas, enquanto mãe,  são bastante respeitadas. “Se eu não dou açúcar para os meus filhos, ela também não dá”, conta.

Para Lidia, a parceria estabelecida entre pais e avós é fundamental para a criação das crianças. “Os avós precisam escapar do estereótipo de protetores dos netos e aliados da transgressão”, diz.

Mas ela também alerta: “Na casa da avó, valem os limites da avó. Faz parte dessa relação certa aliança entre avó e neto, na qual cabem algumas pequenas transgressões ao regulamento da casa dos pais”.

Palpite é bom ou ruim?

Existe uma linha fina, mas bem delimitada, entre palpitar e interferir. Segundo Lidia Aratangy, a ajuda que os avós oferecem não lhes dá direito de tomar decisões pelos filhos nem de impor modelos na resolução de conflitos familiares.

Ao mesmo tempo, é válido os avós terem o desejo de participar ativamente dos espaços que são levados pelos pais a ocupar. “Não é justo excluir da vida escolar do neto uma avó que é convocada com frequência para servir de motorista nos horários de entrada e saída da escola”, exemplifica a psicoterapeuta.

Adriana, a mãe do Téo e do Martim, é uma defensora dos palpites. “Antigamente, todo mundo se metia na educação dos filhos dos outros e acho que isso era saudável”, acredita. “Hoje, parece que palpitar virou um tabu, que as mães sabem tudo e ninguém pode falar nada”. Ela garante que os palpites da mãe e da sogra são bem-vindos. “Não os recebo como um embate. E, se não concordo com o que ouço, digo que não vou fazer assim. Ou digo que vou fazer e faço do meu jeito”, diverte-se.

Para a secretária Joseli Alves, mãe de Isadora e Matheus, avós palpiteiros não são tão simples de lidar. Há sete meses, ela se mudou para o Canadá com os filhos e o marido. Antes, moravam em cima da casa de seus pais, em São Paulo. “Sempre que falávamos não para nossos filhos, os avós não gostavam. Faziam cara feia e as crianças percebiam esse conflito”, lembra. “Agora somos mais livres para criá-las da maneira que achamos mais adequada”.

Mas não ter avós presentes tem seu lado negativo. “Não tenho com quem deixar as crianças, a não ser com o pai delas. Então, acabaram-se os programas a dois”, lamenta Joseli. “Sinto falta de coisas simples, como, por exemplo, pegar um cinema e, nessas horas, penso em como seria bom ter minha mãe por perto”.

A psicóloga e terapeuta corporal Mariana Russo, mãe de Benjamim, também mora longe dos pais e dos sogros. Embora tenha uma empregada em sua casa, gostaria de poder partilhar os cuidados do filho com os avós. “O contato que eles têm com o neto é diferente, tem muito amor no ar e tudo é feito com prazer”, diz.

No nascimento do filho, Mariana e o marido não queriam ninguém por perto. Mas, diante da insistência de sua mãe, resolveram aceitar o auxílio da avó. “Foi maravilhoso, ela acabou ficando um mês conosco e nos ajudou muito”.

Quem sai ganhando?

A verdade é que, apesar das divergências – e por causa delas, já que conflitos bem administrados são fontes valiosas de crescimento – a parceria no cuidado com as crianças é uma experiência muito rica, para todos as partes envolvidas.

Para os avós, ter os netos presentes é uma injeção de vitalidade, que acaba por oferecer um novo sentido para esta fase da vida. Os pais ganham a tranquilidade e a segurança de saberem que seus filhos estão em ótimas mãos. E mais: cercados de amor e de afeto.

Com essa convivência, as crianças descobrem que existem muitas maneiras de serem amadas e, também,  educadas. E isso lhes proporciona mais abertura para perceber e conviver com as diferenças e oportunidades de viver novas experiência

Quando nasce uma avó

A chegada de um bebê traz à tona um monte de sentimentos. Enquanto os pais estão inseguros, os avós estão ávidos em dar sua contribuição e nem sempre têm claro o limite entre ajudar e invadir.

“A avó de primeira viagem, sem saber bem como deve se comportar nessa posição, tende a defender-se da insegurança ocupando o papel de mãe”, explica Lidia Aratangy. “E a nova mãe, com medo da própria incompetência, revive seu papel de filha adolescente rebelde e intolerante.”

A psicoterapeuta Dulce Amabis, mãe de Ricardo, Guilherme e Mariana, acredita que a principal tarefa dos avós de um recém-nascido é cuidar da mãe recém-nascida. “Eles terão muito tempo para estabelecer sua própria relação com o neto”, diz.

Livro dos avós: na casa dos avós é sempre domingo? – Leonardo Posternak e Lidia Aratangy

Os autores falam sobre o nascimento desse novo tipo de relacionamento. Ser avós requer um equilíbrio entre estar disponível e não ser invasivo.

Primavera Editorial (primaveraeditorial.com.br), R$ 46,49

Consultoria

  • DULCE AMABIS, mãe de Ricardo, Guilherme e Mariana, é psicoterapeuta.
  • LIDIA ARATANGY, mãe de Cláudia, Silvia, Ucha e Sérgio, é psicoterapeuta e autora do Livro dos Avós (Primavera Editorial).

Palavras-chave
Tios e Avós

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