Criança

Meu filho não come nada!

Imagem Meu filho não come nada!

Publicado em 09/09/2013, às 14h27 - Atualizado em 23/09/2020, às 14h02 por Redação Pais&Filhos


Apesar da epidemia de obesidade infantil, uma das principais queixas das mães nos consultórios pediátricos não é a de que o filho come demais, mas o contrário: de que não come nada, de que a filha rejeita praticamente tudo, chora e faz birra diante do prato de comida, que tem ânsia de vômito ao se deparar com determinados alimentos. Dados de pesquisas internacionais mostram que a queixa afeta entre 10% e 25% das crianças. No Brasil, as dificuldades de comer atingem mais de 50% delas.

Enquanto isso, a gente padece na cozinha inventando uma comida diferente a cada dia para tentar fazer com que as crianças comam. A hora do almoço ou do jantar está chegando e nosso estômago já começa a embrulhar… De tensão.

Elas não comem nada e, no prato, além da comida, sobram também chateação e preocupação com a saúde das crianças. Se são magrinhas, principalmente, a gente acha que qualquer gripe vai deixá-las esquálidas, com o ritmo de crescimento comprometido. Essas preocupações podem até ser válidas, mas são exageradas.

Provavelmente, seus filhos, assim como a grande maioria das crianças brasileiras que comem pouco, nunca tiveram, nem nunca terão, problemas de saúde causado pelo apetite de passarinho.

“Alimentar os filhos está no DNA das mães, mas quando elas começam a racionalizar demais esse ato, acabam perdendo o lado instintivo e esquecendo que o papel delas é o de preparar e oferecer a comida. Só. Não cabe a elas decidir quanto o filho vai comer, nem determinar o tamanho da fome da criança”, explica o nutrólogo Carlos Alberto Nogueira, pai de Maria Eduarda, diretor do Departamento de Nutrologia da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia). Além disso, o sentimento forte de que é preciso alimentar o filho para garantir a sobrevivência dele acaba atrapalhando a percepção de algumas mães de que as crianças também têm suas preferências. “Tem sabores que elas aceitam e outros, não. Como qualquer pessoa”, diz o especialista.

O nutrólogo explica que, no caso de bebês, são os pais que decidem quais alimentos serão consumidos e os filhos, o quanto comer. “Para as crianças maiores, os pais decidem o que, onde e quando comer. E elas, o quanto.” A criança tem o direito de decidir a quantidade da comida e é importante não interferir no “botão da saciedade” infantil. O ser humano tem um mecanismo no cérebro que o solicita para comer exatamente a quantidade que o corpo precisa. Se as mães controlam a quantidade da comida, dando mais alimento que o necessário, podem alterar esse monitoramento interno.

Nesses casos, para ficar mais tranquila, garanta que seu filho esteja comendo todos os nutrientes necessários, mesmo que pouco. Ou seja, capriche na qualidade do alimento oferecido, em vez da quantidade. O importante é que ali estejam proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais.

A crise dos 2 e 3 anos

“A queixa materna de que o filho come mal é mais frequente quando ele está com 2 ou 3 anos”, afirma o pediatra Fábio Ancona Lopes, professor titular de nutrologia do departamento de pediatria da Unifesp, pai de quatro filhos e avô de três crianças. “Esse é o período da falsa anorexia do pré-escolar.” Com 5 meses, o bebê dobra o peso do nascimento e com 11 para 12 meses, triplica. Para dar conta desse crescimento veloz, a criança come de tudo, mesmo. Tem muita fome. Do primeiro para o segundo ano de vida, o crescimento ainda é rápido. Ou seja, ainda come bastante, mas como não dobra mais de tamanho, a fome começa a se adaptar à velocidade do desenvolvimento infantil. Entre o segundo e terceiro ano de vida – até por volta do 10º aniversário – a criança cresce, mas em um ritmo lento. Logo, não tem a mesma fome e não vai comer mais “aquela pratada”.

A gente fica perdida com essa mudança no apetite, e as brigas à mesa passam a ser frequentes. Algumas mães chegam a deprimir. “Toda mãe que acha que o filho não está comendo deve procurar um profissional para ser avaliada, porque, mesmo que a criança esteja bem de saúde, existe um problema com a mãe, que está sofrendo e precisa de ajuda e de orientação para que a hora da refeição volte a ser prazerosa”, orienta Carlos Nogueira. Existem alguns casos de recusa provocados por transtornos alimentares ou doenças, como as alergias, mas que apenas uma investigação criteriosa pode determinar o problema. O mais comum mesmo é a criança comer pouco porque tem apetite de passarinho.

Desenvolvimento infantil à mesa

Além da redução na velocidade de crescimento, algo importante acontece nesse período no desenvolvimento infantil: “A criança começa a se impor mais na família, experimentando a sua personalidade, passa a querer comer sozinha e, se não é respeitada, chora, grita, joga o prato no chão, sai do cadeirão. Também começa a apontar para os alimentos que deseja comer e a rejeitar outros, principalmente aqueles que não conhece, e rapidamente aprende que pode chantagear os familiares, pois nota que a família se mobiliza quando ele faz alguma birra à mesa”, diz Fábio Ancona Lopes.

Por isso, o período mais importante para a formação dos hábitos saudáveis à mesa e para a formação do paladar é até os 2 anos de idade. Se, durante esse tempo, a criança nunca foi exposta a alguns alimentos, como beterraba, mamão e abóbora, não vai ser no período de neofobia (medo do novo) alimentar que vai aceitar. “Nessa fase a criança vai comer pouco e somente aquilo que gosta. Se até os 2 anos ficou apenas na batata, macarrão e ovo, vai aceitar só esses alimentos”, diz Carlos Nogueira, que acrescenta: “O que não significa que ela, criança, é seletiva”. Ela apenas não aprendeu a comer. “Os seletivos são aqueles que não gostam de nada de um determinado grupo alimentar. Por exemplo, quem não come nenhuma fruta. Mas, se a criança não gosta de batata frita, mas adora purê, não podemos dizer que ela é seletiva, que não gosta de batata”, afirma o nutrólogo.

Em vez de se culpar, mantenha a calma e entenda que a inapetência faz parte do desenvolvimento infantil. Muitas vezes, a criança chora, faz birra na hora da refeição porque, por exemplo, quer comer sozinha, ter o poder da colher nas mãos, como aconteceu com a blogueira Mônica Brandão e a filha Úrsula, de 4 anos. “No ano passado, depois de dias seguidos de muito estresse e pouca comida, dei uma colher na mão da Úrsula para distraí-la. Ela imediatamente passou a comer sozinha e rejeitou a minha ajuda.” A menina ainda alterna períodos tranquilos à mesa com fases de querer somente macarrão com queijo ou apenas frutas o dia inteiro. Em dias como esses, Mônica tenta manter a calma, além de atender os gostos da menina. Também negocia algumas colheradas a mais. Evita chantagens, trocas por leite ou prêmios, como brinquedo.

Como você viu no começo desta matéria, cada família tem um estilo de alimentar os filhos. Pesquisas mostram que o controlador está presente em mais de 80% das casas brasileiras. O segredo é não entrar numa queda de braço, sendo firme com o que importa, que é a qualidade dos alimentos, e deixando que seu filho decida o acessório, que é o quanto vai comer. Como dizia Groucho Marx, este seria um mundo muito melhor para as crianças se os pais tivessem de comer todo o espinafre.

Você sabia?

O estômago do bebê de 6 meses é do tamanho de um sapatinho. Por isso, é importante oferecer alimentos que, em pequenas quantidades, tenham todos os nutrientes necessários.

Perfil alimentar

• Famílias controladoras

são aquelas rígidas que não permitem que a criança se manifeste e se impõem totalmente à vontade da criança, controlando a quantidade de comida, colocando duas vezes mais no prato do que a criança pode comer.

• Famílias negligentes ou abandonadoras

são famílias que não se importam com o filho e podem levar a criança a ter um quadro de depressão e ansiedade, e o resultado é um filho apático diante do prato de comida.

• Famílias responsivas

são as que respondem à demanda da criança, entendendo se ela é seletiva, se tem pouco apetite, porque é muito ativo, e têm paciência para treinar o paladar e apetite dela.

• Famílias permissivas ou indulgentes

são aquelas que não têm controle sobre a criança e, na primeira dificuldade, acabam cedendo à vontade dela e se tornando reféns.

5 bons alimentos para oferecer às crianças:

Carboidrato: Arroz ou aveia em flocos, cereal;

Leguminosas: Feijão ou ervilha, lentilha;

Proteína: carne (vermelha ou branca), ovo;

Folhas e raízes: Espinafre, cenoura, mandioquinha;

Frutas: laranja- bahia ou mexerica.

Fonte:

Sociedade Brasileira de Pediatria

O básico da alimentação

Dr. Benny Kerzner é um respeitado pediatra e gastroenterologista do Children’s National Medical Center, em Washington, DC, nos EUA, que há mais de 30 anos estuda as desordens alimentares infantis. Ele criou os princípios gerais da alimentação infantil para pediatras e famílias.

Mantenha limites adequados na refeição

• O pai decide onde, quando e o que a criança come;

• O bebê e a criança decide o quanto come;

Evite distração

• O horário da alimentação deve ser livre de ruídos e distração, sem TVs e outros eletrônicos;

•  Use uma cadeira alta para ajudar a criança a ficar limitada ao ambiente da alimentação;

• A cadeira da criança deve estar pertinho da mesa, e seu filho deve ser encorajado a ficar sentado durante a refeição;

Comer para estimular o apetite

• Dê intervalos de 3 a 4 horas entre as refeições;

• O tempo e a frequência das refeições infantis devem coincidir com as refeições dos pais (ou quantas refeições a agenda da família permitir);

Mantenha uma atitude neutra

• Não faça folias nem recorra a brincadeiras;

• Não fique com raiva nem aparente destempero;

Limite de duração da refeição

• A criança deve começar a comer em até 15 minutos do início da refeição;

• As refeições devem durar entre 30 e 35 minutos;

Sirva alimentos apropriados à idade da criança

• Ofereça comidinhas adequadas ao desenvolvimento motor e oral da criança;

• Use porções razoavelmente pequenas, do tamanho do punho da criança, afinal ela tem estômago pequeno;

Apresente novos alimentos sistematicamente

• Respeite a tendência da criança à neofobia (medo do novo) e ofereça um alimento repetidamente – entre 10 e 15 vezes –, antes de desistir;

• Recompense o consumo de alimentos com parabéns e só;

• Mas não use a comida como uma recompensa por bom comportamento;

Tolere a bagunça que a criança pequena costuma fazer

• Use babador ou coloque um plástico sobre o cadeirão ou assento tipo booster;

• Não irrite a criança, limpando sua boca com um guardanapo após cada colherada ou gole.


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Meu Filho Não Come

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