Publicado em 31/10/2019, às 13h06 - Atualizado às 13h08 por Regina G Politi
A primeira coisa que acontece quando temos um filho é que vamos procurar o “colo” da nossa própria mãe, como se quiséssemos voltar a ser filhas, frente ao enorme e desconhecido mundo da maternidade que se revela quando nos tornamos mães!
Bate um medo, uma insegurança, e até uma impotência frente aquele ser tão frágil, tão dependente, que qualquer coisa pode ser fatal. Não é fácil para a mulher, principalmente quando se trata de uma mãe de primeira viagem, inexperiente, recém-saída de um parto, onde mais da metade dos seus hormônios, vitaminas e energia foram embora de uma hora para outra, interrompendo um processo instalado há 9 meses no seu corpo.
Quantas incertezas, preocupações e responsabilidades surgem num profundo mar de fortes e intensas emoções, que emergem sei lá de onde, tudo de uma vez. Dor e amor. Alegria e medo. Felicidade e preocupação. Tudo junto, misturado e combinado a potência 4: eu, ele, nós, vós.
Uma vontade de chorar, de ser cuidada e se recuperar do parto, que ao mesmo tempo é fonte e prova de vida gerado dentro de você, desde a concepção até o nascimento. Esse ser que é tão pequeno e já tão poderoso, mas que assusta, preocupa, tira o sossego e o sono (profundo e reparador) por um bom tempo.
Que experiência transformadora: o milagre da vida.
Nos damos conta rapidamente que tudo mudou e questões surgem: “E agora, como será? Que tipo de mãe eu serei? Que filho ele será? Que pai ele terá? Terei capacidade e condições físicas e emocionais de alimentar, proteger e me responsabilizar por tudo do que ele precisa? Vou dar conta do recado? E se eu ficar doente ou fraca, ou morrer?”. E sobre essa última questão, é exatamente isso, as mães experimentam o medo de morrer. Sair na rua e ser atropelada, por exemplo. Esse é um relato mais do que comum no meu consultório nesses 30 anos de atendimento clínico. Elas carregam o leite, o alimento básico que dá vida e saúde ao seu bebê. E se o leite secar, empedrar, etc. Quanta responsabilidade e privilégio!
E a nota do parto, a do apgar? O bebê está bem, alguma surpresa, tudo sob controle? Será que ele vai mamar e eu terei leite suficiente? Será que ele vai arrotar, ter cólicas, chorar, regurgitar, fazer coco e xixi direitinho, e dormir? Ufa! Quantas coisas para se preocupar até que tudo comece a ter um ritmo, uma rotina, e possamos planejar nosso retorno ao dia a dia que não por conta da criança.
Por isso mães, importante: não queiram dar uma de supermulher ou supermãe. Olhem para vocês, para a sua vulnerabilidade e labilidade emocional, típica dessa nova fase de reorganização biopsicossocial. Tudo foi descompensado e uma nova ordem será criada, mas leva tempo para tudo se ajeitar, pouco a pouco, sem pressa e pressão.
Então, peçam ajuda, sim! E dos dois lados: materno e paternos – ou seja, avós, tios, parentes, amigos, agregados. Não sejam onipotentes, orgulhosas e autossuficientes, vocês precisam descansar e se cuidar para serem boas mães. Façam um acordo nas brigas de família, e contem com a ajuda dos que podem ajudar.
Seu filho agradece, pois nada pior que uma mãe estressada, estafada, fadigada e repleta de culpa por se sentir assim: humana, limitada, carente e dependente de pessoas do seu entorno.
Como diz o poeta: “Precisamos de muito pouco para viver, apenas uns dos outros!”. Portanto peçam ajuda! Vocês merecem e precisam.
Dúvidas ou comentários nos mande um e-mail para [email protected].
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