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Quem tem medo do racismo?

Falar sobre racismo com nossas crianças é uma necessidade - Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

Publicado em 06/04/2023, às 08h38 - Atualizado às 08h44 por Toda Família Preta Importa


**Texto por Luciana Bento. Mulher-preta-mãe em tempo integral.  Socióloga, mestranda em educação e pesquisadora de educação antirracista e diversidade. Realiza formações em educação antirracista e literatura negra. Fala sobre maternidade, literatura e negritude nos perfis @amaepreta e @quilomboliterio. É apreentadora do QLCast, um podcast de entrevistas com personalidades negras e é membro do Clã das Pretas, um podcast de literatura com protagonismo preto. Mãe da Aisha, de 10 anos, da Naíma, de 8 anos, e de dois meninos que não chegaram a nascer.

Falar sobre racismo com nossas crianças é uma necessidade
Falar sobre racismo com nossas crianças é uma necessidade (Foto: Arquivo Pessoal)

Ser mãe sempre é um desafio. Ser a pessoa responsável por apresentar o mundo para seres são inocentes e indefesos não é fácil. Sou mãe de duas meninas e o tempo todo eu me pergunto se estou criando duas meninas para serem elas mesmas ou para serem reflexos dos meus medos. Nem sempre a resposta dessa pergunta é simples.

Eu tenho medo de um monte de insetos. Baratas, besouros, todos essas bichinhos voadores que de repente podem pousar em mim, tudo me assusta. É difícil proporcionar às minhas filhas contato com a natureza se eu mesma morro de medo de tudo. É muito complicado separar a minha experiência com os insetos das experiências que eu gostaria de ofertar para que elas cresçam sem sentir o pavor que eu sinto ao ter um contato mais próximo com a natureza.

É fácil entender a necessidade de separamos o que é nosso e o que nossos filhos e filhas podem construir na relação com os outros e com o mundo. Mas algumas vezes o medo que nos aflige tem alguns impactos tão cruéis na nossa existência que precisam ser compartilhados com as crianças. Eu tenho medo do racismo e eu, infelizmente, preciso ensinar as minhas filhas a terem medo também.

Vivemos em uma sociedade racista. Faz parte do cotidiano no Brasil relatos de casos em que pessoas negras foram discriminadas e sofreram diferentes tipos de violências físicas ou psicológicas por ser negras. E eu sou mãe de meninas negras em uma sociedade racista. Como não passar o meu medo do que o racismo pode causar na vida de uma pessoa negras pra elas?

Esse é um caso em que o medo nos protege. Temer a forma como o racismo pode impactar a nossa vida nos faz tomar decisões mais focadas em nos proteger. Andar sempre com os documentos em caso de uma abordagem policial. Saber identificar quando somos preteridas na escolha de pares na escola e entender que a culpa não é nossa. Não ser tomada pela raiva quando tocam em nossos cabelos sem permissão. Não abrir a bolsa quando estiver dentro de um estabelecimento comercial. Sempre observar se no espaço existem mais pessoas negras ou se somos as únicas, porque quanto menos pessoas negras mais vulneráveis ao racismo estaremos. São tantos detalhes que vamos incorporando no cotidiano que nos protegem, mas também nos aprisionam em um estado de constante alerta.

Racismo traz medos em todos os lugares
Racismo traz medos em todos os lugares (Foto: Arquivo Pessoal)

E mesmo assim somos pegas desprevenidas quando acontece. Sim, o racismo sempre se manifesta. Algumas vezes é mais explicito, com alguém dizendo algo ofensivo ou nos tratando de forma discriminatória. Mas outras vezes é tão sutil que nos faz questionar a nossa própria percepção e sanidade mental. Será que isso foi racismo ou é coisa da minha cabeça?

Ter que ensinar pra minhas filhas sobre racismo é um aspecto bem dolorido da maternidade negra. Quando elas eram bem pequenas, eu me questionava sobre quando começar a falar sobre relações raciais com elas. Espero acontecer alguma coisa ou falo pra elas antes que aconteça? Eu gosto de me prevenir e optei por falar com elas antes de qualquer fato. Não queria que elas, nem por um segundo, se considerassem inferiores por serem meninas negras. E falar sobre racismo com crianças tão pequenas e inocentes é muito difícil. Mas mais que difícil, é triste.

Foi um processo lento de irmos enxergando as diferenças, cores de pele, formatos de nariz, texturas de cabelos… E percebendo a riqueza das diferenças entre as pessoas. Em paralelo, eu oferecia a elas cada vez mais referências de negritude ocupando espaços na sociedade em que, em geral, não vemos pessoas negras: médicas, empresárias, astronautas, fazendeiras, princesas. Minhas meninas cresceram ouvindo que menina negra pode ocupar todos os espaços da mesma forma que qualquer outra pessoa. E esse movimento de empoderamento lhes deu ferramentas para lidar com o racismo desde muito pequenas, com a consciência de que os atos discriminatórios são um reflexo da incapacidade do outro em lidar com as diferenças e que elas não são inferiores por estarem sendo alvo dessa discriminação.

Eu percebo, pela minha experiência com as meninas, que crescer assim tem permitido que elas estabeleça outra postura diante do enfrentamento ao racismo. Entender como o sistema funciona nos ajuda a encarar o medo e buscar uma solução problema. E na nossa parte, como pessoas negras alvo do racismo cotidiano, encarar o problema é não se esconder nem ignorar os casos de racismo e, principalmente, denunciar, cobrar por soluções para o problema e implicar as pessoas brancas nesse processo. Porque o racismo é um problema que só permanece vivo em nossa sociedade porque pessoas brancas se beneficiam dele.

Nenhuma preparação que a gente faça vai acabar com a dor do racismo quando ele se manifesta. E por isso eu tenho medo. Um medo me mantém alerta, daqueles que a gente fala “vai com medo mesmo”, o medo me faz buscar a coragem para combater o racismo de forma ativa, para que minhas filhas cresçam também com essa coragem de lutar por uma sociedade sem racismo. Com a esperança de que, no futuro, as próximas gerações não precisem estar sempre se protegendo e desenvolvendo estratégias pra não sofrerem por ser quem são. E que os medos das mães pretas do futuro sejam só de passar para suas crianças medos de insetos e outras coisas mais banais.

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