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A solidão da mulher negra

Pensamentos de uma mulher negra sobre a importância da representatividade e edução antirracista - iStock
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Publicado em 23/05/2022, às 09h40 por Toda Família Preta Importa


**Texto por Aretha Soyombo, de 26 anos, filha de Claudia e Kehinde Soyombo. É formada em Letras pela UFMG e atualmente é professora de inglês. É colunista no GRITA projeto e no final de 2021 apresentou um TEDx, em que falou sobre a literatura como ponte para novas perspectivas. Através da educação escolar e das redes sociais, Aretha tenta fazer com que outros jovens negros se sintam acolhidos ao compartilhar suas vivências

Pensamentos de uma mulher negra sobre a importância da representatividade e edução antirracista
Pensamentos de uma mulher negra sobre a importância da representatividade e edução antirracista (Foto: iStock)

Eu tinha uns 20 anos quando estava na faculdade de Letras e comecei a me inteirar mais sobre alguns debates raciais promovidos por algumas pessoas da minha idade, no caso, amigos e amigas universitários. isso não significa que até a faculdade eu não tivesse consciência racial. Sempre tive, uma vez que sou filha de mãe e pai negro. Mãe e pai negro que sempre tiveram essa consciência racial.

Acredito, sim, que a contextualização do meu pai em relação ao racismo seja diferente da minha mãe, uma vez que ele é um homem nigeriano e cresceu num país onde a maioria da população, para não dizer toda, é negra. O que não quer dizer que “o mundo não tenha se despedaçado” fazendo referência ao livro de Chinua Achebe, autor nigeriano que conta como a Nigéria foi muito afetada pela colonização europeia. Mas estamos falando de um país que não teve sua história marcada pela escravidão de pessoas negras.

O fato é: eu nunca passei por essa questão de “me descobri negro em tal momento”. Eu sempre soube que era negra, e nunca tive dúvidas em relação a isso. Acho que isso se deve muito pelo fato da minha mãe ser uma mulher negra que sempre teve consciência racial e sempre promoveu essa consciência na gente mesmo quando isso não era tão debatido na televisão, muito menos nas redes sociais, considerando que eu nasci no meio dos anos 1990.

Mesmo tendo nascido em uma época  em que o debate racial não estava tão em voga como nos dias de hoje, eu sempre percebi na minha família, como um todo, uma preocupação em trazer a questão da representatividade para mim e para meus irmãos. Eu tive minha primeira boneca negra desde quando eu nasci. Eu lembro em um natal que minha mãe rodou o shopping inteiro pra comprar um Ken negro pra mim e pra minha irmã.

Tendo exemplos dentro de casa também de uma família negra feliz, mulheres negras bem sucedidas, me ajudou muito, obviamente, a ter segurança de ser quem eu sou hoje. Mas é claro que quando a gente chega na fase da adolescência, a gente se sente muito influenciado pelas pessoas que estão à nossa volta a maior parte do tempo. Eu agradeço por não ter sido adolescente numa época onde Instagram e Tik Tok eram febres, porque acho que isso teria influenciado ainda mais pra insegurança que eu passei a ter na época que eu me tornei adolescente.

E falando sobre essas questões de adolescência, acho importante contextualizar quem eu sou. Minha família é uma família de classe média, meus pais estudaram na USP e minhas tias, irmãs da minha mãe, também. E porque eu estou falando disso? Porque eu sei que como crescer com alguns privilégios, podendo fazer viagens internacionais na infância, frequentando colégios particulares, fez com que apesar de todos os esforços dos meus pais e das minhas tias de fazer com que eu e meus irmãos crescemos com confiança e uma boa autoestima, eu por muito tempo vivi em solidão por ser a única negra nos espaços que eu frequentava. Para não falar que eu era a única, minha irmã também estava na maioria desses espaços, mas eu percebo como essa solidão interferiu por muito tempo na minha autoestima e na segurança de ser quem eu sou.

Ser a única amiga negra, a única aluna negra, ser a única negra em todos os espaços que eu frequentava me trazia um pouco aquela sensação de solidão de não ter alguém com quem dividir minhas vivências. Muitas vezes, eu compartilhava alguma coisa com alguma colega e comentários como “ah, eu também já passei por isso” ou “ah não tem nada a ver foi só uma coincidência” eram bem comuns.

Mulheres negras debatem muito sobre a nossa solidão afetiva, e eu fui ter contato com esse tema pela primeira vez em 2016. Eu já percebia que eu tinha vivências diferentes das minhas amigas brancas, mas nunca tinha parado pra pensar com tanta clareza o porquê disso. Quando, na faculdade, eu finalmente encontrei meus pares. Encontrei mulheres negras que também beijaram pela primeira vez depois dos 16 anos, mulheres negras que também nunca tinham vivenciado a experiência de um namoro, mulheres negras que geralmente eram as únicas no curso, no estágio, mulheres negras que estavam em uma classe social diferente do que a sociedade espera e que por isso vivem e viveram essa solidão. É necessário que as pessoas, que a sociedade de modo geral entenda que não é apenas a solidão da mulher negra que existe, existe a solidão de pessoas negras.

Quando me tornei professora em um colégio particular de Belo Horizonte, onde eu moro, eu lembro que minha segurança pra fazer o trabalho que eu exerci veio porque eu tinha um diretor negro, eu tinha outros colegas de trabalho que também eram negros. E isso com certeza fez com que meus alunos negros daquele colégio não se sentissem sozinhos num espaço predominantemente branco. Por isso que eu acredito ser necessário e importante a presença de pessoas negras em todos os espaços, em todas as posições, para que a sociedade entenda, aos poucos pelo menos, que a gente pertence a todos os lugares.

Para além disso, essa presença é importante para que crianças negras não cresçam em solidão como muitas crianças negras da minha idade, para que elas nunca tenham dúvidas que podem alcançar e ocupar todos os lugares que elas quiserem.


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