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Quando o pai espera o bebê

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Publicado em 04/11/2013, às 17h12 - Atualizado em 23/09/2020, às 05h21 por Redação Pais&Filhos


(Foto: iStock)

Sua mulher vai ter bebê, mas você não precisa sentir as dores do parto”. Assim começa a reportagem da Pais & Filhos publicada na nossa edição número 3, em novembro de 1968. O marido descrito na reportagem quer participar, mas parece que apenas consegue ficar preocupado. Tão preocupado que uma das explicações é que se trata de um egocêntrico que não suporta deixar de ser o protagonista do casal.

Mas não é só isso. Pode ser que ele seja um “sofredor”, aquele que se identifica tanto com a grávida que acaba precisando de mais cuidados que ela. O pior tipo descrito é o do desertor, dividido em dois subgrupos: os que se desinteressam da mulher “porque ela já não está tão atraente” e os do tipo infantil, que dependem de uma companheira maternal e ficam alarmados com a futura presença de uma criança de verdade.

Na década de 1960, o pai podia ficar na sala de espera distribuindo charutos que não seria malvisto. Era o território masculino por excelência.

Mauricio de Sousa (aquele mesmo, da sua infância), pai da Mônica e de outros nove filhos, conta que costumava ficar do lado de fora da sala de parto. Só sabia que a criança tinha nascido quando uma luzinha se acendia. Com os anos, a entrada na sala de parto para o pai foi liberada.

No recém-começado século 21, é desejável que o pai se sinta grávido desde o começo. E participar não é mais opção. Já virou não faz mais que a obrigação. A palavra “grávido”, hoje verbete de dicionários mais modernos como o novo Aulete, não aparece nenhuma vez na matéria de 45 anos atrás.

O Manual do Grávido – um Guia Completo do Pré-Natal ao Parto para Você Curtir sua Gravidez e sua Grávida (Ed. Publifolha), o primeiro guia brasileiro de gravidez exclusivamente dedicado ao homem, foi lançado em 1999. Com o passar dos anos, o filão ganhou vários títulos, escritos por médicos, como Claudio Csillag, pai de David, Lina e Gabriel, um dos autores do Manual do Grávido, e jornalistas, como Humberto Saccomandi, pai de Catarina, Anna e Vitória,  coautor do livro pioneiro.

“Antes, havia muita coisa para a mulher e o casal, mas nada para nós, pobres grávidos”, conta Humberto, que acompanhou o parto da filha mais velha e da caçula, mas não esteve presente no nascimento da do meio, porque estava fora do Brasil. Prova de que a presença do pai é fundamental é que a filha o cobra até hoje.

“Antigamente, o homem participava menos da gravidez. Quase nenhum marido acompanhava a mulher ao ginecologista e/ou ao obstetra. Hoje, não. A mulher espera que o homem participe. A sociedade, isto é, família e amigos, também espera isso. E acho que o homem aprendeu a gostar de participar”, resume Saccomandi. Ou seja: da proibição de entrar na sala de parto para a obrigação foi um pulo.  “É claro que temos homens que não querem ver o parto”, admite o ginecologista e especialista em reprodução assistida Augusto Bussab, filho de Neuza e Nemtallah. “Mas tento mostrar que nada é obrigatório. Não há necessidade de tanta cobrança”, diz

Desejos: ontem e sempre

Em 1968, a participação masculina quase que se reduzia a encontrar geleia de jenipapo num mundo sem delivery e serviços 24 horas. A reportagem da época aconselha: “Não vá sair correndo feito um louco apenas porque sua mulher desejou comer fruta-do-conde às 3 da madrugada”. No século 21, os desejos ainda preocupam os maridos e ganham capítulos especiais nos livros para grávidos.

No Manual do Grávido os autores aconselham algumas adaptações para não ter de se arriscar pela madrugada, como trocar fios de ovos por espaguete com açúcar (muito açúcar).

O blogueiro Renato Kaufmann, pai de Lucia, do Diário de Um Grávido, brincou com a situação quando perguntamos se a mulher tinha desejos na gravidez: “Ela teve. Por exemplo, ela desejava que eu ligasse de madrugada pra brigar com o ginecologista/obstetra. De resto, eu sei que não existe isso de ‘desejo estranho’, o que existe é um complô pra se aproveitar dos homens nesse momento delicado. Ou ainda: o desejo que existe é o de ver o homem ralar!”, brinca.

Ainda hoje, atender aos desejos femininos é visto como uma maneira de demonstrar cuidado com a futura mãe. A gente gosta, claro. “Achava bacana ver nos filmes os sujeitos correndo para achar quitutes no meio da madrugada. Então, quando minha mulher inventava que queria alguma coisa, normalmente bem corriqueira (chocolate, pizza), eu fazia questão de trazer, até porque eu aproveitava também. Posso garantir que nenhum dos quatro filhos meus nasceu com cara de feijoada com caldo de cana”, brinca o jornalista Luís Fernando Bovo, pai de quatros filhos, Luis Otavio e Laura, do primeiro casamento, e João e Antônio, do segundo. Se a mulher não tem desejos, o futuro pai pode se sentir frustrado, pensando onde foi que ele errou.

A gravidez não mexe apenas com a cabeça dos homens. A ciência comprova que eles passam por mudanças físicas, estimulados pelas mudanças hormonais que acontecem com a mãe e, depois, pelo contato com o bebê. Segundo o dr. Augusto Bussab, a alteração mais comum é o ganho de peso, seguido de excesso de sono e, por último, enjoo. “Este último tem uma boa explicação, pois pode ser ocasionado pela grande ansiedade e medo de como lidar com essa nova situação”, diz o médico.

Um conselho de 1968 parece permanecer válido: “Nem chegue ao exagero de arrumar as malas e partir para a maternidade uma vez por semana, pois sua mulher, mesmo estreante, pode decidir isso sozinha”. Jorge Freire, do blog Nerd Pai, pai de Leonardo, conta que, quando estava chegando no final da gravidez, qualquer ida ao banheiro da esposa no meio da noite preocupava. A pergunta “está tendo contrações?”, virou rotina. “Mas nunca fomos à maternidade fora da hora”, conta.

Bovo participou tanto que se lembra com detalhes dos quatros partos. “Nas duas últimas, foram bem diferentes, e me lembro bem: na do João, que está com 3 anos, fomos para a maternidade às 7h, passamos o dia todo na sala de parto normal e ele nasceu 20h. Na do Antonio, que está com 5 meses, fomos para a maternidade na madrugada. Chegamos às 3h30, e a Paula já estava com 9 cm de dilatação. Quase nasceu no carro. Mas deixamos tudo pronto, escrito numa lista, para fazer o check-list antes de sair. E saímos com tudo: enfeite, lembranças, CDs para embalar o nascimento e Alpino para dar para às enfermeiras”.

Sexoooo

A matéria de 68 sentenciava: “E o principal, mantenha relações sexuais normais. Não vá engrossar as fileiras dos maridos que chegam a ter verdadeiras crises de consciência porque se acreditam monstros incapazes de conter os desejos, quando a situação (pensam eles) é imprópria”. Mesmo com as evidências, isso ainda não era tão claro para todos os homens. Sempre bem-humorado, o blogueiro Renato Kaufmann confirma que os tempos são outros: “Não é pra soar pervertido, mas grávidas são lindas. Além de nós homens termos atração por coisas redondas, como bolas de futebol e peitos, a grávida irradia uma energia muito especial. Algum biólogo evolucionário poderia acrescentar que a mulher grávida também transmite a ‘certeza de que é fértil’”.

A reportagem termina orientando o agora já pai a trabalhar em dobro e poupar sua mulher do esforço físico. “E não há dificuldade. Existe há muito tempo uma coisa chamada supermercado que abre aos sábados, quando o escritório não está a sua espera.” Jorge Freire comenta: “Supermercado aberto de sábado? Sabia que abrem de domingo? Eu é que sempre faço as compras em casa.”

A metamorfose de homem em pai envolve mudanças físicas, emocionais e hormonais

> No primeiro momento, os hormônios o instruem a ficar atento: os níveis do cortisol, hormônio do estresse, atingem o pico de 4 a 6 semanas depois do resultado positivo.

> Três meses após o nascimento, os níveis de testosterona, associado à competitividade, à agressividade e ao desejo sexual, caem drasticamente.

> Alguns futuros pais ganham barriga, mas por causa do excesso de apetite, que pode ser causado por ansiedade diante de tantas mudanças.

> A “síndrome de couvade” faz com que o futuro pai sinta, de verdade, sintomas como enjoo. Ela se deve aos maiores níveis do hormônio prolactina no organismo masculino.

> Os hormônios também estimulam mais conexões em certas áreas do cérebro, contendo a libido e tornando o homem mais paternal.

Consultoria: Augusto Bussab, filho de Neuza e Nemtallah, ginecologista e especialista em reprodução humana, euquerosermae.com.br; Natercia Tiba, mãe de Eduardo e Ricardo, psicóloga e psicoterapeuta de casais e de família, e autora do livro Mulher Sem Script (ed. Integrare), naterciatiba.com.br


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