Publicado em 09/08/2015, às 15h54 - Atualizado em 02/12/2020, às 12h41 por Adriana Cury, Diretora Geral | Mãe de Alice
“Meu pai era um homem simples, mas teve grandeza. E o mais importante, ele torcia por mim. Para mim, esse é o significado maior de um pai. Alguém capaz de torcer, sempre, sem nenhuma condição, nenhuma imposição. Porque a única condição entre pai e filho deve ser sempre o amor”. Esse trecho emocionante foi retirado do depoimento do jornalista e escritor Walcyr Carrasco sobre seu pai, para o livro Grandes Amigos: Pais e Filhos.
Não se nasce pai, torna-se pai. Criar e cuidar de uma criança são tarefas árduas que exigem esforço, tempo, dedicação, paciência… Por isso, não deve ser responsabilidade única da mãe. Quando o trabalho é dividido entre mãe e pai, além de ficar mais rico, ele fica mais fácil. Pai e mãe devem participar de todo o processo de desenvolvimento e a função paterna vai muito além de “ajudar” a mãe a cuidar dos filhos.
É normal que nos primeiros meses de vida do bebê, enquanto ele ainda está sendo amamentado e durante o período de licença-maternidade, a mãe se dedique mais tempo ao filho. Mas depois deste período, o pai também deve estar presente em tudo. Na consulta com o pediatra, nas reuniões escolares ou em emergências que exigem que os pais saiam do trabalho, a presença de ambos é essencial.
A rotina da família, a carga de trabalho e a divisão de tarefas dentro do lar devem ser decididas em conjunto, de preferência com equilíbrio entre as partes. “Pesquisas demonstram que a figura paterna possibilita à criança a entrada no contato social de forma mais segura. Proporciona o equilíbrio que a criança precisa”, explica a psicóloga Márcia Orsi. Segundo ela, estabelecer limites e ajudar o filho a ter noção de certo e errado são algumas das atitudes decisivas para a formação do caráter e também fazem parte da função paterna.
Vínculo para a vida
Para Márcia, a participação ativa do pai na criação fortalece o filho para a vida individual e social, além de promover segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional. “Separar um tempo para brincar, ler, estudar e conversar com os filhos é fundamental. Mostrar o mundo masculino é importante para o equilíbrio da criança”, afirma a psicóloga. Você, pai, é exemplo a ser seguido e é referência quanto à integridade, ética e valores.
Betty Monteiro, pedagoga e psicóloga explica que o pai é o primeiro ‘outro’ na vida da criança, a primeira pessoa que introduz uma relação além da materna. “Imagine uma planta que se alimenta da seiva da árvore. Este é o símbolo simbiótico, o primeiro tipo de vínculo que a criança estabelece com a mãe. O pai vem para quebrar este vínculo”, justifica a psicóloga. “A criança espera coisas diferentes de pai e mãe. Geralmente o pai representa proteção e a mãe representa cuidado. Uma criança que tem um pai presente e participativo cresce se sentindo mais segura”, completa.
Presença marcante
“Na nossa cultura, nós não estimulamos que os meninos se preparem para ser pai. Quando um menino brinca de boneca, sua masculinidade é questionada, por isso temos modelos de pais que são apenas pais mecânicos, que apenas executam ordens, mas não estão conectados aos filhos. É aquele pai que está dando banho só porque a mãe pediu”, diz Betty. Ela também afirma que, geralmente, a criança que cresce sem a presença da figura paterna busca esse modelo masculino em outra pessoa, como um avô, tio ou amigo da família, e que isso é importante para a construção da identidade.
Por isso, é necessário que o pai não esteja apenas fisicamente presente, mas que contribua para a educação e a formação dos filhos, e não seja indiferente ao desenvolvimento deles. Quando uma criança se sente rejeitada pelo pai, ou não se sente que é desejada como um filho, pode ficar frustrada, insegura e ansiosa. Já quando o filho se sente querido, a sensação de bem-estar é muito maior e isso é essencial para o desenvolvimento emocional.
Consultoria:
Márcia Orsi, psicóloga especialista em Intervenção Familiar do Instituto Terapia Sistêmica (ITS), de São José do Rio Preto.
Betty Monteiro, pedagoga, psicóloga, escritora e embaixadora Pais&Filhos.
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