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O tempo fechou

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Publicado em 23/04/2014, às 10h33 - Atualizado em 10/05/2021, às 10h14 por Redação Pais&Filhos


Cansada dos gritos de seus três filhos, a vendedora de carros e dona de casa Frankie resolveu filmar com o celular cada uma das discussões com as crianças. Depois de algumas cenas, reuniu a família em volta da TV para que todos assistissem a forma como as crianças andavam se comportando. Mas aí veio a surpresa: a cada grito dos filhos, ela mesma aumentava o tom de voz e começava um longo sermão aos berros. A cena é ficção, aconteceu na série de TV The Middle, mas poderia ter acontecido bem aí, na sua casa mesmo. Afinal, quem nunca, exausta de tanto tentar ser obedecida por uma  criança, soltou o verbo?

A terapeuta familiar americana Amy McCready, criadora do Positive Parenting Solutions – algo como soluções positivas para os pais – contou em entrevista ao jornal The New York Times que a atual geração de pais é a aquela que, ao mesmo tempo, parabeniza os filhos por simples atos como assoar o nariz e grita com eles com frequência. Para ela, gritar é a nova palmada, já que virou uma recorrência dos pais na hora da bronca.

Ok, todo mundo perde a paciência. É absolutamente normal, e, se acontecer de vez em quando, não é nada tão grave. Mas sem cair na tentação de, com culpa e arrependida, deixar o assunto morrer. O melhor, depois de respirar fundo e se acalmar, é conversar com seu filho.

A psicóloga e coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp, Vera Zimmermann, mãe de Henrique e Ana, explica que pedir desculpas é importante, mas igualmente essencial é fazer com que a criança entenda sua responsabilidade naquela situação.  “Nessa hora, é importante mostrar para a criança qual atitude fez com que você perdesse o controle. Assim, você faz com que ela também assuma sua parte”, explica.

Depois de muito falar com seu filho mais velho e pedir inúmeras vezes que parasse de bagunçar, a blogueira Bárbara Saleh, mãe de Kassem e Sueli, normalmente calma, chegou ao seu limite: gritou para que ele parasse.

O som alto chocou o menino e a mãe, que depois do episódio sentiu a culpa pesando. “Eu me assustei tanto que logo percebi que essa nunca é a melhor saída.” Para evitar situações como essa, Bárbara fez um combinado com o filho: mostrou que, assim como ele, não gostava de gritos, e prometeu avisar quando percebesse que estava a ponto de estourar.

Que gritar não é a melhor solução, isso é fato. Mas mostra para a criança que você é tão humana quanto ela. “É importante expor para seu filho que você também tem suas emoções, fica brava, triste, contente. Os filhos têm de perceber que eles também erram”, explica a psicóloga Vera.

Soltando os cachorros

A consultora familiar Renata Konzen, mãe de Helena, Flora e Ísis, conta que uma das maiores preocupações dos pais que atende é esta: gritar com os filhos. “Muitos gritam e até batem, querendo educar. Normalmente isso é fruto de uma repetição do passado. Fazem achando que, assim, preparam as crianças para o futuro”, diz.

Mas não é bem assim. Pesquisas mostram que o grito é ineficiente na educação das crianças e ainda perigoso para seu desenvolvimento relacionado à disciplina. Um estudo recente publicado pela Universidade de Pittsburgh e pelo Instituto de Pesquisa da Universidade de Michigan mostrou que, entre adolescentes de 13 a 14 anos e pais que costumam gritar, existe uma maior taxa de mau comportamento e maiores sintomas de depressão.

Uma das possíveis justificativas para isso é que, até 2 anos, crianças não processam bem os sentimentos, então quando o pai ou a mãe grita, o que ela sente é que, se não se comportar, não vai ser amada.

Segundo Renata Konzen, o caminho pode ser dois: o da revolta ou o da submissão. Isso vale para famílias em que o grito é algo recorrente, encarado como rotina.

Quando o grito se repete muito, a criança perde o respeito, deixa de o sentir como ameaça e  passa até a provocar mais os pais. Além disso, se é recorrente, o grito deseduca, porque a criança fica sem dimensão do que fez, já que a resposta quase sempre será a mesma – casos mais leves e mais graves têm tratamentos equivalentes

Se na sua casa o grito for fator predominante no dia a dia, ainda dá tempo de mudar. Até os 3 anos, é mais fácil que a criança entenda que mudou a dinâmica familiar. A partir dessa idade e até os 10, é um pouco mais demorado, porque ela já estabeleceu um padrão de comportamento. Se o grito virou hábito dos pais, o hábito dela foi construído em torno disso, e a mudança pode demorar em torno de três meses.

“Com uma criança um pouco mais velha, você pode perceber uma dificuldade maior, mas não é resistência, são recaídas. Ela vai insistir em comportamentos errados para ter a atenção dos pais, pode demorar um pouco a perceber que os bons comportamentos é que garantirão a atenção”, explica a consultora Renata.

Contando até dez

Caroline Portugal, mãe de Giovanna, conta que seu ponto fraco é quando chama a filha para tomar banho e nada dela aparecer. Pede uma, duas, três, quatro vezes… E lá vem o estouro! “Logo ela vem me perguntando por que eu gritei, como se não soubesse”, diz. Banho tem todo dia e, se também tiver grito e broncas a relação entre mãe e filha vai pelo ralo. Por isso, antes de perder a paciência, Caroline respira fundo e conta até dez. “Funciona em 80% das vezes e uso isso pra vida toda”, diz.

Além de desenvolver suas técnicas próprias para driblar o impulso, é importante evitar situações que te façam ter vontade de gritar. E tudo começa pela forma com que você lida com a criança. Ninguém gosta de ouvir gritos, mas a verdade é que eles mostram que a criança conseguiu chamar sua atenção – e talvez fosse esse seu objetivo. Em vez de coroar os maus comportamentos, mostre que vê (e valoriza) os bons comportamentos do seu filho também.

Comunique-se

Sujou, limpou – Procure sempre assinalar a consequência lógica do ato da criança. Por exemplo: ela está com um copo de água na mão, você pede que não ande com ele para não derramar, ela anda e derrama. Em vez de gritar, mostre o que fez de errado e a faça limpar. Ela entenderá que a consequência de sujar é ter de limpar depois.

Combinou, valeu – Você combinou que ele jogaria duas horas de videogame no fim de semana, mas chega a hora de desligar e ele abre o berreiro. Diga que, como o acordo não foi cumprido, no próxima dia ele não poderá jogar. É importante lembrar que um acordo vale para ambos os lados: se você disse que no dia seguinte ele não poderia jogar, não pode voltar atrás.

Seja amorosa – Aplicar uma consequência não significa ser ríspida com a criança. Se ela joga um brinquedo pela janela de casa, por exemplo, pode ser que peça para você ir buscar ou queira um substituto. Você não deve dar um novo brinquedo, nem ir buscar, mas também não precisa deixá-la chorando. Seja firme, mas continue sendo carinhosa.

Dê alternativas – Oferecer opções para a criança é uma forma de evitar desgastes. Por exemplo, se ela vai a uma festa, apresente duas opções de roupas. Isso dá espaço para ela escolher em vez de querer impor.

Pense nele – Dizer “não” o tempo todo é frustrante para os pais e para as crianças. Entender o estágio de desenvolvimento e o que é natural daquela fase é importante.

Respire fundo – Se você precisa contar até dez, seu filho também precisa aprender a respirar fundo e se acalmar. Se ele fizer birra, abaixe-se e fale que você não entende quando ele fala assim e que só entenderá quando ele se acalmar. A partir dos 2 anos, já dá para pedir isso.


Palavras-chave
Comportamento

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