Publicado em 05/05/2011, às 21h00 por Redação Pais&Filhos
Uma mãe solteira conta como mulheres que optaram por fazer inseminação, que terminaram o relacionamento durante a gravidez ou que não tinham um relacionamento sério ao engravidar enfrentam as dificuldades de estarem sozinhas durante a gestação e criação dos filhos
Por Flavia Werlang, mãe de Luna
Tive dificuldade de me orgulhar por ser mãe solteira porque, no fundo do coração, sentia-me muito envergonhada por o pai de Lulu ter sumido e me deixado sozinha para criar minha filha. Demorei anos para entender que, ao lhe dar meu coração eu havia feito o pior investimento possível de minha vida, mas havia recebido o melhor de todos os retornos. O que há de vergonhoso nisso? Quando olho minhas fotos com Lulu, fico pensando como eu não via como éramos lindas e corajosas. Há muito tempo, quando éramos só nós duas. Levante a cabeça. Orgulhe-se de sua força e de sua capacidade para ir em frente. Agradeça por tudo que você é e tudo que recebeu. Amém. Assim escreveu a mãe solteira Betty Londergan em seu livro Mamãe Sexy – Um Guia para Sobreviver à Maternidade Mantendo-se Mulher (ed. Gente).
Eu sou mãe solteira. Estava “ficando” com um cara há três meses, sem saber que ele tinha outra. Deixei a coisa rolar e, como deixei meu destino nas mãos da famosa pílula do dia seguinte, acabei engravidando. Passei a gravidez sozinha, chegando até a frequentar um curso de gestantes para casais. Recomendação às grávidas solteiras: não façam esse tipo de curso. Ele é ótimo, mas escutar palestras sobre a importância do pai na gestação foi uma das experiências mais dolorosas por que já passei.
Seja por opção ou pela falta dela, ser mãe solteira é sair do lugar-comum. A sociedade nos cobra que encontremos o príncipe encantado e realizemos a fantasia da maternidade. Quem é que, quando criança, imaginava a Barbie engravidando de um relacionamento casual? Ou escolhendo as características de um pai ideal em um banco de sêmen? E mais: que o Ken largaria a boneca mais cobiçada do mundo após o teste de farmácia acusar dois palitinhos?
O psicanalista Mário Corso, pai de Laura e Júlia, explica que a mulher sonha com o filho para si, este que a completará, realizará seus desejos e a fará sentir-se realmente feminina. “Pensar que uma mulher possa dispensar totalmente da presença física de um pai, quer seja na hora da criação ou mesmo da concepção, é revolucionário, assustador e tão novo que ainda não sabemos nem como catalogar essa realidade. Mas ela existe”, afirma o psicanalista. Corso e sua mulher, autores do livro A Psicanálise na Terra do Nunca (Ed. Penso), concordam que a gestação solitária exige que a mulher seja suficientemente corajosa para negociar entre sua condição e a pressão social por uma solução mais convencional, ou seja, criar filhos dentro de uma família nuclear padrão.
Nós, mães solteiras, viveremos sempre esse impasse em todos os lugares públicos, e teremos de ter, ou desenvolver, muita segurança para bancar nosso papel num contexto onde corremos o risco de sermos olhadas como incompletas ou insuficientes.
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Grávida de um relacionamento casual
Somos mulheres esclarecidas e conhecemos os métodos contraceptivos: pílula, camisinha, DIU. Mas existe algo em nós, muito mais forte que a razão, que nos fez brincar com o destino. Sim, Freud explica. “A mulher que não faz uso de nenhum método anticoncepcional pode nem se dar conta conscientemente, mas deseja ficar grávida. Isso também vale para o homem que não usa preservativo na relação. É o chamado pensamento mágico: ‘Não vai acontecer comigo!’”, explica a terapeuta familiar Maria Tereza Maldonado, mãe de Mariana e Cristiano.
Eu, que confiei na “pílula do dia seguinte”, acabei passando os oito meses de gestação sozinha. A pior parte foi não ter com quem discutir meus medos, minhas inseguranças, quem me acompanhar nos exames – dividir a euforia de escutar o coração batendo pela primeira vez e sair de lá querendo gritar que havia um ser vivo ali dentro da barriga.
Corso explica que as gestantes exigem estar em estado de graça constante, o que é impossível em uma experiência impactante como a gravidez. “Todos esses conflitos e a fragilidade decorrente deles são mais duros de vivenciar sem um apoio, sem alguém com quem dialogar ou mesmo partilhar durante a jornada. Por isso uma gestação solitária é mais pesada. Essa companhia não precisa ser o pai da criança. A diferença é que o pai é alguém que está na mesma viagem, portanto tende a ser mais fácil se desenvolver um nível de empatia”, afirma o psicanalista.
Durante minha gestação, senti muita falta de exemplos de mulheres que haviam passado pela mesma situação, que conseguiram superar essa fase e depois estavam felizes com seus filhotes, de cabeça erguida. Foi por isso que, após alguns meses do nascimento da minha filha, resolvi fazer o blog Grávida, estado civil mãe (solteira) (www.gravidasolteira.blogspot.com), para que grávidas na mesma condição pudessem trocar experiência e servir como uma grande “rede de apoio”.
Betty Londergan fala, em seu livro, da cobrança da sociedade por uma aliança na mulher grávida. “Eu me sentia moral e politicamente correta em ter um bebê fora dos laços do casamento… Apesar de minha tranquilidade interior em ser mãe solteira, senti-me dolorosamente exposta pela falta de algo dourado em meu anular esquerdo… E sentia que aquela área vazia era algo como um grande anúncio em neon que dizia a todos que ele não me quis”, escreveu Betty.
A pernambucana Cinthya Danielle dos Reis Leal, mãe de Pedro Vicente, de 2 anos e 10 meses, nunca namorou oficialmente o pai do filho. “Eu me irritava quando queriam saber sobre o ‘meu marido’. Quem disse que precisa ter marido para engravidar? Tenho uma boa relação com o pai, mas ele mora muito longe e eu crio o meu filho sozinha. É uma barra, mas ele é a melhor coisa que já me aconteceu”, afirma Cinthya.
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Separação durante a gravidez
Quando a gravidez acontece dentro de uma relação estável, imaginamos que a gestante terá todo o apoio e participação do cônjuge. Mas nem sempre é assim. Há casos em que a chegada de um filho mexe com a estrutura da relação e a mulher é obrigada a levar a maternidade sozinha. Ela terá que encarar o luto, as mágoas, os ressentimentos e a tristeza, além de todas as emoções envolvidas na gravidez.
A dermatologista carioca Cristina Werlang, mãe de Marina, 9, e Henrique, 2, era casada há 9 anos quando engravidou pela quinta vez – após três abortos espontâneos.
No terceiro mês de gestação, o pai das crianças saiu de casa e desapareceu. As emoções fortes fizeram Henrique nascer antes do previsto. “Sabe a dor de ver todos os pais juntos e felizes durante os 20 dias que passei sozinha com meu filho no CTI? Sabe a dor de não ter coisas felizes para escrever no ‘livro do bebê’? Sabe a dor de, no meio disso tudo, ter força para recomeçar? Culpei-me muitas vezes por ter sido egoísta, por não conseguir dar amor ao meu filho ainda na barriga. Henrique nunca ganhou um carinho na barriga, uma conversinha 'tête-à-tête', nem mesmo uma roupinha especial comprada pela mãe. Era franzino, magrinho e nem sabia mamar ainda…”, conta Cristina.
A psicóloga Étila Elane Ramos, mãe de Lucas, acredita que a entrada de uma terceira pessoa na relação tanto pode unir, quanto separar. “Quando a relação já está desgastada, às vezes o casal não suporta o fruto desse amor que muitas vezes não existe mais”, analisa Étila.
A paulista Irina Câmara, mãe de João Luccas, de 1 ano, estava na 16ª semana de gestação quando ela e o marido tiveram uma briga e se separaram. “Minha gravidez foi planejada, ele sempre me pedia um filho, desde que começamos a namorar. Então, depois de um ano e meio de relacionamento, resolvi que queria ser mãe e começamos a tentar. Quando confirmei a gravidez, fiquei radiante, mas ele parecia mais feliz com a ideia antes dela se tornar realidade. Acho que, quando ele se deu conta de que teríamos um filho, se assustou, cansou de mim, pirou, ou coisa parecida. Brigamos, ele foi embora e, acredite se quiser, tudo ficou progressivamente melhor. Eu me senti sozinha algumas vezes, mas não abandonada. Ele não me abandonou, nós dois nos abandonamos”, afirma Irina.
Para o psicanalista Mário Corso, existem várias causas para esses comportamentos. “Primeiro, é a falta de capacidade de ser pai, por imaturidade, não estar preparado para essa difícil tarefa. Em segundo lugar, a rivalidade com o bebê; ele tem ciúmes do lugar que perdeu junto da mulher. Esses casos de infantilismo não são tão raros quanto parecem. E, por último, pode ter sido mandado embora. Muitas mulheres fazem um discurso de que querem ficar junto, mas criam uma série de empecilhos que afastam esse pai. Isso pode ser muito sutil. Um casamento é feito de acordos: cada um cede um pouco, mas se um para de ceder… Frequentemente, nesses casos a mulher não admite que está mandado o homem embora depois de tê-lo usado para fazer um filho. Na sua cabeça pode até viver essa saída como um abandono, e pior, depois vender essa mentira para o filho”, pondera Corso.
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Inseminação artificial
Para algumas mulheres, a maternidade é um objetivo. São mulheres modernas, independentes, que priorizaram a carreira e, agora, o relógio biológico começa a bater mais forte. Hoje, a inseminação artificial permite que a mulher decida sozinha quando quer engravidar. “A procura está crescente em mulheres solteiras de 35 anos que não acharam seu ‘príncipe encantado’”, afirma Eduardo Motta, pai de Daniella e Camila, diretor do Huntington Centro de Medicina Reprodutiva.
Motta considera muito importante o apoio familiar. De acordo com ele, existe o momento da excitação e, depois, vem a fase da cobrança. “A sociedade é muito preconceituosa por você não ter achado um marido, o pai do seu filho. Poder contar com a família é muito importante”, afirma o especialista. Para ele, a terapia é fundamental no momento de tomar a atitude. Ele ainda acredita que, se as mulheres que o procuram pudessem recorrer a uma mágica que atendesse aos seus pedidos, certamente iriam escolher um companheiro para, juntos, terem um filho. “Mas, como se adaptou à realidade da própria vida, essa mulher toma as rédeas do seu destino e realiza seus sonhos com as ferramentas que estão ao seu alcance: a inseminação artificial”, pondera.
Marilu, de 44 anos, fez o procedimento há cinco anos e não se arrepende. “Eu cuido da minha filha sozinha, sou eu que decido como será a educação dela, tive o apoio da minha família e nunca tive problemas em falar que era uma produção independente”, disse a paulista que conta com duas babás para manter a rotina da casa. Nos primeiros dias, de pós-parto e amamentação, Marilu contou também com a ajuda da mãe.
No filme Coincidências do Amor (2010), a atriz Jennifer Aniston interpreta Kassie, uma mulher que quer engravidar e recorre a um doador de espermatozóide. Ela decide fazer a festa da gravidez e seu amigo Wally (Jason Bateman) troca o “material” do doador após ter bebido demais. Sete anos depois, eles descobrem que Sebastian (Thomas Robinson) é filho dos dois. Nesse caso, o roteiro juntou uma pitada de conto de fadas à decisão da mulher moderna.
O interessante é como Kassie conta a Sebastian sobre seu nascimento: “Quando quis engravidar, mamãe não tinha marido, mas o queria muito. Ela foi ao médico e ele a mandou procurar bastante semente. Então ela procurou um ‘fornecedor de semente.’” Aliás, Sebastian tem uma compulsão curiosa: ele coleciona porta-retratos, mas não coloca fotografias nos mesmos. Ele costuma deixá-los com as fotos do próprio banco de imagens que já vem neles.
Em uma conversa com o pai, o menino revela o segredo da sua mania: na falta de fotos de família para colocar nos porta-retratos, ele inventa uma história para cada personagem do banco de imagens. Um pode ser seu tio, outro seu avô, outro uma tia-avó, e assim vai preenchendo os vazios dos álbuns e costurando os buracos da sua própria história.
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Mães solteiras famosas
J.K. Rowling
A criadora do fenômeno Harry Potter, J.K. Rowling foi casada com um jornalista com quem teve a sua filha, Jéssica, em 1993. No ano seguinte, ela estava divorciada, falida e não tinha dinheiro nem para deixar sua filha numa creche.
Sandra Bullock
Em 2010, a atriz pediu o divórcio. Ela havia iniciado um processo de adoção há quatro anos e decidiu criar o menino Louis sozinha. A filha do ex-marido Jesse James, Sunny, foi quem sugeriu que os dois adotassem.
A criadora do fenômeno Harry Potter, J.K. Rowling foi casada com um jornalista com quem teve a sua filha, Jéssica, em 1993. No ano seguinte, ela estava divorciada, falida e não tinha dinheiro nem para deixar sua filha numa creche.
Para saber mais
Criando Filho Homem Sem a Presença do Pai, de Richard Bromfield
Aborda ligação e separação; dependência e autonomia.
Ed. M.Books (www.mbooks.com.br), R$39
Fadas no divã, de Diana Corso e Mário Corso
Relaciona a psicanálise às histórias infantis.
Ed. artmed (www.artmed.com.br), R$82
Mamãe Sexy – Um Guia para Sobreviver à Maternidade Mantendo-se Mulher, de Betty Londergan
Dá conselhos sobre gravidez.
Ed. Gente (www.editoragente.com.br), R$ 29,90
Um Grande Garoto, de Nick Hornby
O livro conta a história de Marcus, filho de uma mãe solteira.
Ed. Rocco (www.rocco.com.br), R$ 40,50
Consultoria: Eduardo Motta, pai de daniella e camila, é diretor do Huntington Centro de Medicina Reprodutiva. Étila Elane Ramos, mãe de Lucas, é psicóloga. Maria Tereza Maldonado, mãe de Mariana e Cristiano, é terapeuta familiar. Mário Corso, pai de Laura e Júlia, é psicanalista.
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