Gravidez

Saiba quais os possíveis destinos da placenta depois do parto

Imagem Saiba quais os possíveis destinos da placenta depois do parto

Publicado em 12/08/2015, às 13h57 - Atualizado em 10/05/2021, às 10h20 por Redação Pais&Filhos


A placenta é tratada, em muitos lugares, como lixo hospitalar e descartada depois do nascimento do bebê, quando é expelida. Com tantos tabus em torno desse órgão que se desenvolve apenas durante a gravidez — a placenta possui início, meio e fim — é comum que as mulheres tenham dúvidas e até mesmo estranhamento ao ouvirem falar sobre placentofagia, o ato de comer a placenta após o nascimento, comum entre os demais mamíferos. E cada vez mais famílias decidem escolher outro fim ao órgão que nutriu o seu bebê durante a gravidez.

A placenta é um anexo embrionário responsável pelas trocas de nutrientes e gases entre a mãe e a criança, atuando como um filtro para diversas substâncias, além de produzir hormônios responsáveis pela manutenção da gestação. Ou seja, é ela que mantém o nosso bebê vivo e saudável dentro da gente. É a glândula que faz a função de órgãos como rim, pulmão e fígado. Depois da formação da placenta, por volta da 13ª semana de gestação, ela se fixa no endométrio, membrana que cobre a parede uterina.

Vale muito mais que uma refeição

A maioria das mães que comeram um pedacinho da placenta dizem que se sentiram absolutamente revigoradas após o parto. Acredita-se que o alto teor de ferro e a presença dos hormônios progesterona e ocitocina colaborem para o bem-estar da mãe, além de prevenir problemas como a depressão pós-parto e ajudar na produção de leite e recuperação do útero.

Por esses e outros motivos que Tatiana e Edson Medeiros, pais do Akin, toparam esse desafio. Ambos estavam em busca de um parto mais humanizado quando conheceram a doula Carolina Meira, filha de Maria e Rudmar, que lhes explicou os benefícios da placentofagia. Perguntada se teve receio ou nojo, Tatiana é categórica: “Em nenhum momento! Não sei como conseguem associar um órgão tão importante a esse sentimento. Sinto respeito, amor, gratidão por ter nutrido meu filho”.

Ela afirma que após o parto sentiu um cansaço intenso, mas que a ingestão da placenta reestabeleceu seu corpo: “Parecia que nada tinha acontecido. Tomei banho em pé e sozinha, não senti fraqueza nem tontura”. Edson não relutou em acompanhar Tati e confessa que tinha curiosidade: “Havíamos conversado sobre os benefícios e ela me perguntou se eu comeria. Eu disse que sim. Não tive nenhum receio”, afirma.

Para as mães praticantes da placentofagia o parto é mais do que uma experiência biológica. É o caso da terapeuta Clara Coelho, mãe de Wayra, que durante uma viagem de um ano pela América Latina confrontou-se com a diversidade de povos, desconstruindo muitas das referências que ela tinha para sua gravidez De volta ao Brasil, buscou grupos em defesa do parto humanizado e conheceu a placentofagia. “Resgatar um ato sadio e benéfico para a mãe e para o bebê era sim minha opção. Tinha um respeito imenso com aquele órgão. Era o meu corpo sendo capaz de curar-me e nutrir-me”, recorda.

Cuidados para ficar de olho

No entanto, a ingestão da placenta ainda divide médicos e especialistas, portanto é preciso alguns cuidados antes de tomar a decisão: “Não há benefícios comprovados e é necessário uma análise da placenta para verificar a existência de doenças”, reforça o ginecologista e obstetra Alfonso Massaguer, diretor clínico da Clínica Mãe, filho de Marilene e José.

Apesar da ausência de evidências científicas, há quem defenda a placentofagia por motivos que vão além da medicina: “A mulher é a protagonista do seu parto e a equipe está ali para auxiliá-la e respeitar ao máximo suas escolhas e isso não é diferente com relação ao pós-parto e a placenta”, afirma a obstetra Thalita Vital, da clínica Tia Cegonha, filha de Elília e Roberto.

A placenta pode passar por alguns problemas durante a gestação e entre os mais comuns está a sua localização considerada baixa dentro do útero (placenta prévia) ou profunda demais na musculatura (placenta acreta), além da falência placentária, fenômeno no qual o bebê não recebe a quantidade necessária de nutrientes pela placenta e o acompanhamento médico precisa ser ainda mais rigoroso. Infecções, calcificações e descolamentos também podem ocorrer.

O consumo de álcool, cigarros, drogas e medicamentos podem afetar a placenta e prejudicar o feto, como explica o ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz, Cláudio Basbaum, pai de André, David e Alessandro: “Bebidas alcoólicas, fumo, drogas, poluentes atmosféricos e certos medicamentos comprometem a dimensão e a função placentária de nutrir e promover estas trocas gasosas entre mamãe e bebê. São substancias que causam lesões nos vasos placentários, alterando suas funções, e estão diretamente relacionadas ao resultado do bem estar fetal e seu crescimento”, afirma.

A parede uterina da mulher fumante apresenta pontos em que o sangue não circula. Quando a placenta falha em nutrir o bebê, ocorre o que os médicos chamam de insuficiência placentária que causa restrição do crescimento, prematuridade e até a morte do bebê. Por isso, é fundamental fazer o pré-natal, não fumar, não descuidar da alimentação e relatar ao médico imediatamente sangramentos e cólicas. Já em casos em que o bebê nasce empelicado, ou seja, ainda dentro da bolsa placentária que não foi rompida, o procedimento do parto é o mesmo e sem motivos para pânico, pois a membrana pode ser tranquilamente rompida de forma manual.

No mundo animal

Na natureza, todos os mamíferos tem o instinto de comer a placenta após o nascimento dos filhotes e um dos motivos para que isso aconteça é a intenção de não deixar rastros que possam atrair predadores. Quem já viu uma ninhada de cachorrinhos ou gatinhos nascendo, já presenciou esse momento. Curiosidade: os cangurus e dos ornitorrincos são os únicos mamíferos que não comem a placenta, porque a bolsa desses animais é externa.

“Os animais ingerem a membrana amniótica e depois a placenta para limpar o filhote e o local do parto, além de repor as perdas nutricionais”, explica a bióloga e professora do Colégio Objetivo Carla Debelak, mãe de Catherine e Beatriz. Para ela, uma gestação que segue orientações médicas e conta com uma dieta equilibrada e a ingestão de vitaminas torna a placentofagia um ato desnecessário para humanos, uma vez que o corpo da mulher está bem nutrido.

Distúrbios placentários

Placenta prévia

A placenta fixa-se na parte inferior do útero, onde o volume de sangue é menor, fazendo o crescimento do bebê estacionar e dificultando o parto normal. Ocorre geralmente no último trimestre de gestação

Placenta acreta ou acretismo

A placenta se fixa bem até demais no útero e torna a remoção na hora do parto complicada, seguida de uma hemorragia difícil de estancar. Quanto maior o número de cesáreas, maior a chance.

Descolamento de placenta

A placenta é separada parcial ou totalmente da parede uterina. Ocorre em mulheres fumantes, mulheres com pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou hipertensão. Ou ainda, no caso de choque abdominal ou quedas. Em 80% dos casos há cólica e sangramento vaginal.

Outros destinos

Existem laboratórios que encapsulam a placenta para ser tomada como um remédio. Em outros casos, ela é plantada e fica conhecida como “árvore da vida”, que muitas mães acreditam funcionar como uma proteção espiritual para a criança. Há também o “carimbo”, quando a placenta é colocada sobre um papel e forma um desenho que pode ser guardado como recordação.


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