Publicado em 30/09/2024, às 18h00 - Atualizado às 18h46 por Jennifer Detlinger, Editora-chefe | Filha de Lucila e Paulo
"Pai, empresário e ser humano". É dessa forma que Richard Harary se descreve. Entre os diferentes papéis que assumiu ao longo de seus 46 anos de vida, ele entendeu que esses três pilares caminham sempre juntos. Antes de se tornar CEO da MacroBaby, a maior loja física de enxoval para bebê nos EUA, ele não seguiu uma trajetória convencional para o sucesso.
Nascido em São Paulo, filho de imigrantes, Richard chegou aos Estados Unidos aos 18 anos com o objetivo de estudar inglês e encontrar um novo rumo. O que começou como uma pequena loja de malas em Orlando, em 1996, transformou-se em um império de produtos infantis, com a MacroBaby sendo um dos principais destinos de compras para famílias brasileiras e celebridades no exterior.
Em entrevista exclusiva à Pais&Filhos, Richard fala sobre os desafios de equilibrar a vida empresarial com o papel de pai de quatro filhos e como o desejo de ter uma paternidade ativa e presente mudou sua visão de mundo e o inspirou a criar uma empresa que oferece mais do que produtos: um atendimento humanizado para pais e mães que buscam o melhor para seus filhos.
Richard Harary: Sou filho de dois imigrantes, mas nasci em São Paulo. Eu brinco que nunca fui muito bom aluno. Sempre dei muito trabalho pro meus pais. E meus irmãos eram exemplares. Eu vim para os Estados Unidos pela primeira vez com 11 anos. Me apaixonei logo de cara. Quando tinha quase 18 anos, eu estava sem saber o que ia fazer da vida. E pensei que seria bacana ir para os EUA estudar inglês até decidir qual caminho seguir. Cheguei em Orlando com 18 anos, gostei muito das aulas e decidi que iria cursar uma faculdade. Conheci a UCF (Universidade da Flórida Central) e comecei a cursar Psicologia. Eu tinha muita vontade de poder ajudar as pessoas. É algo que me encantava e me encanta muito ainda hoje. Entrei no curso e comecei a ser um bom aluno (risos).
RH: Para ser psicólogo nos EUA, precisa ter um PHD, que leva mais de 10 anos de estudo. Quando eu coloquei na ponta do lápis o quanto isso iria custar, seria uns 200 mil dólares na época, porque eu pagava como estrangeiro. Então pensei: “o único jeito de conseguir pagar como cidadão americano é com um visto de trabalho”. Então, fui atrás de negócios à venda. O meu objetivo era só conseguir o visto. Não achei que entraria nesse mundo de empreendedor.
RH: Tinha uma lojinha de malas à venda e o dono estava querendo 7 mil dólares. Ela se chamava ‘Macro’. Fui lá conhecer e comprei, em 1996. Ela vendia muito pouco, era irrisória. E aí eu pensei: "tenho que pelo menos pagar o aluguel da loja". Fui procurar como eu podia vender mais malas e lembrei que a companhia aérea que quebrou minha mala uma vez, a American Airlines, mandou uma nova. Eu não tinha vergonha nenhuma naquela época, então fui no aeroporto e falei com a American Airlines: "olha, toda mala que quebrar, se vocês quiserem, eu reponho e te dou 20 dólares". Deu muito certo. Fiz isso também para a Delta e outras companhias aéreas. Começaram a me chamar de rei das malas no aeroporto. A loja faturou muito mais do que antes.
RH: Em 1998, uma pessoa me falou: “você já tentou vender num site que chama eBay?”. Coloquei algumas malas à venda e depois comecei a replicar a mesma ideia com outras categorias de produtos: móveis, prancha de surf, eu vendia de tudo. Passou uns 4 anos e recebi uma ligação: “Aqui é da eBay, tivemos a ideia de um programa que chama Voices, e você está sendo convidado pra vir pra Califórnia, queremos te conhecer.” Pensei: "alguma coisa eu devo ter feito de bom pra ser chamado até lá".
Foi quando eu conheci a CEO da eBay na época. Ela falou: ”Quis vir aqui cumprimentar pessoalmente o segundo maior vendedor da eBay”. Eu nunca podia imaginar que vendia tanto assim e que significava tanto para a eBay. Fui convidado para ser consultor da eBay, era o único brasileiro. Porque eles não tinham contato diário com o vendedor. Era uma plataforma que dependia de quem estava vendendo lá, mas eles não tinham acesso a quem está vendendo. A CEO me disse algo que nunca esqueci: “Cria uma experiência com o teu cliente, é isso que vai contar mais. O maior vendedor de hoje não vai ser o maior vendedor de amanhã, o maior vendedor de amanhã vai ser aquele que tem uma relação melhor com o cliente.”
RH: O ano era 2007, minha primeira filha, Gabriela, estava para nascer. Eu já vendia muitos produtos de bebê na internet, mas nunca tinha aberto nenhum. Eu pensei: “quero o melhor de tudo. Não tô comprando um celular, eu tô comprando um carrinho, quero ver como usar”. Embora a gente vendesse os produtos, eu queria comprar pessoalmente nas lojas. Descobri que o motivo número um de morte infantil é acidente de carro, e que a maioria das cadeirinhas do carro são instaladas erradas.
Fui falar com bombeiros, tirei um certificado para colocar as cadeirinhas da forma certa… Fiquei muito apaixonado por esse assunto de segurança do bebê e pensei: “Por que a gente não pega um espaço do nosso depósito e abrimos um showroom de coisas de bebê?”. Todo mundo dizia que eu estava louco e não iria ganhar dinheiro com isso. Mas falei: “Mesmo se não ganhar, vai ser legal, a gente não precisa, já estamos vendendo muito online”. Abrimos e chamamos de Macrobaby.
RH: Criamos uma relação com as mães desde o começo. Fomos atrás de doulas, para que elas contassem às mães que elas poderiam testar os produtos pessoalmente. Começamos a ir atrás de maternidades, igual fiz com os aeroportos. Fizemos um acordo com a Winnie Palmer, a principal maternidade de Orlando, para levar produtos às mães que estavam internadas, mesmo que elas não comprassem de nós. Focamos muito na parte humanizada da venda. A gente começou a se distanciar muito das outras lojas, trazendo tudo de mais inovador na indústria de bebês.
RH: Sempre foi um prazer para mim lidar com as famílias. De repente, mais ou menos em 2015, vieram algumas celebridades do Brasil, a primeira foi a Ana Hickmann. Foi completamente espontâneo. Aos poucos, ficamos conhecidos como a queridinha entre os famosos. Nunca foi o meu foco vender para brasileiros, também se tornou algo natural. Começamos a se tornar um destino para quem vinha para Orlando, que já tinha um público forte dos parques da Disney e da Universal.
RH: Desde que eu tinha uns 16 anos. Eu queria ser um pai muito presente, diferente do que meu pai foi pra mim. Meus pais são de uma outra geração, onde o pai era o provedor e a mãe fica em casa. A geração dos meus pais foi a última que não tinha tanto contato com os filhos. Mas eu amo o meu pai, sou apaixonado. Ele deu o melhor que tinha para dar. Vai saber como era o pai dele, né? Hoje acho que a gente tem muito mais acesso a ferramentas e informações do que eles tinham naquela época.
RH: Eu queria ser um pai muito amigo. Quando vim para os EUA, acabei não tendo filho tão novo quanto eu imaginava. A Gabriela nasceu quando eu tinha 27 anos. Tenho três filhos meus, e um enteado, da minha esposa atual, que considero como filho também. Minha primeira filha foi a inspiração para a MacroBaby. Eles são minha vida, não tem nada mais importante. Eu nunca, até recentemente, tinha viajado sem eles por perto. Já cheguei a estar no avião indo para o Brasil, tendo uma conferência marcada, e saí do avião e voltei pra casa, porque não queria ficar longe deles.
RH: Nasceu uma coisa que eu não conhecia antes de ter minha filha, um medo que eu não tinha vivência com ele. Eu já tinha estudado, era formado em psicologia, mas foi a primeira vez na minha vida que eu tive crise de pânico. Eu estava tentando conciliar tudo. Ser um pai presente, estar no trabalho. Aconteceu tudo de uma hora para outra.
RH: Além disso, a crise imobiliária foi em 2008, e eu tinha muitos imóveis. Mas não posso falar que minha crise foi por causa disso. Eu acho que teria acontecido de qualquer forma. O meu medo era não ter onde morar. O que mudou nessa época foi o medo, foi ter crise do pânico, lidar com ansiedade, depressão, propósito de vida, eu ainda não tinha experimentado tudo isso. Comecei a pensar: ‘E se acontecer algo comigo?’, ‘Quem cuida da minha filha?’. Os medos intensificaram demais e isso me afetou muito, ao ponto de eu querer voltar a morar no Brasil, para me sentir mais em casa.
RH: E eu voltei mesmo. Voltei a morar na casa dos meus pais, com minha filha e tudo. Fiquei morando no Brasil por um ano. A empresa continuou nos Estados Unidos. Mas o problema é que o Brasil que eu procurava não existia mais. Porque o Brasil da minha adolescência, que eu tinha meus amigos, meus pais jovens, não existia mais. O mundo não parou, ele passou. Não pausou para mim. Quando eu voltei para casa, não era mais casa. Eu tive que lidar com isso. Vi que a solução não estava no Brasil.
Em meio a tudo isso, ainda passei por um sequestro. Eu mesmo negociei para sair, paguei o meu próprio resgate. Quando eu saí, automaticamente liguei pra minha família e falei que estava voltando para os EUA. Porque eu pensei: “prefiro estar com depressão em Orlando, vivo, do que no Brasil, e morto. Vou ter que fazer acontecer, vou ter que me tratar, não tem mais para onde correr”. E comecei realmente a me tratar, a fortalecer a mim mesmo, paralelamente ao Richard empresário. Porque os mundos têm que caminhar juntos, não tem como pausar. O Richard pai, empresário e ser humano.
RH: Nesse meio tempo, eu tive mais dois filhos. Eu queria muito gêmeos, cheguei a fazer promessa e tudo, de repente minha mulher engravidou, e veio um casal de gêmeos, o Alexander e a Rebeca. No começo, causou mais ansiedade ainda, só multiplicou os medos, mas eu não podia pausar a minha vida. Você vai aprendendo a lidar com a ansiedade e a depressão. Mas eles me deram muito propósito de vida. Eu sou um pai muito presente. A gente conversa sobre coisas da vida. Eles são, de longe, meus melhores amigos. Estou com eles em casa todo dia, converso com eles, equipo eles para a vida, não financeiramente, mas de princípios, valores, de como lidar com a ansiedade.
RH: Hoje eu tenho, basicamente, dois filhos e duas filhas. Eu sinto muito a diferença na maturidade, as meninas são mais maduras que os meninos. Não tem jeito. Quando preciso conversar de coisas da vida, eu falo muito com as minhas filhas. Com eles, é diferente a conversa. Eles são muito mais preocupados com o lado financeiro, eu vejo que eles têm uma preocupação financeira maior que elas. E eles já ganham o próprio dinheiro, compram e vendem produtos. Eu vejo a conta deles e falo: “Caramba!”. Então, não é que eu falo muito sobre isso, mas eu dou uma educação financeira para eles.
RH: Eu sou judeu. Meu pai é um cara que passou por guerra, ele teve muita escassez. Ele sabe o que é não ter nada. Mas ele nunca foi assim com os filhos. Ele se esforçava muito para dar o melhor. Mas muito mais do que falar, ele se preocupava em não esbanjar. E isso passa de geração em geração.
RH: Não, chega já (risos)! Eu tenho um Golden Retriever, que adoro. E agora tem uma gata também, que trouxe do Brasil pra cá. Eu adoro criança. Porém, acho que ninguém é 100% preparado para ser pai. A gente faz o que aprendeu dos nosso pais e tenta melhorar. Eu tinha muito medo de morrer e deixar meus filhos. E agora que eles estão grandes, maiores, é muito gostoso saber que vivemos uma nova fase.
RH: Com certeza, tudo mesmo. Não tem nada mais importante para mim do que minha família. E família a gente cria também. Quando eu falo de família, eu falo dos meus pais também, é uma continuação.Eu não estaria aqui se não fosse eles, o apoio deles, o amor deles. Estranhos, muitas vezes, vêm e vão. A família, a gente às vezes pode até ir, mas sempre volta.
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