Publicado em 16/05/2019, às 12h17 - Atualizado em 30/01/2020, às 19h28 por Isabella Zacharias, Filha de Aldenisa e Carlos
Para as pessoas que assistiram Bird Box era difícil decidir o que era mais aterrorizante: o pesadelo apocalíptico em que ver um monstro nebuloso te obriga a cometer suicídio ou a perspectiva de proteger seus filhos de um perigo enquanto está todo mundo vendado.
A personagem de Sandra Bullock provou duas coisas que pais e mães sabem: quando você ama seus filhos, não há obstáculos que você não possa superar – e ser pai ou mãe sem visão é, sem dúvidas, prova disso.
Os pais cegos não só são heróis de ação e aventura na vida real, mas também encontram soluções inteligentes para os desafios implacáveis que surgem em seu caminho. Isso significa manter as crianças seguras no parquinho, além de lidar com as tarefas diárias, como preparar o jantar.
No entanto, esses pais confrontam constantemente o ceticismo de outras pessoas sobre suas habilidades, muitas vezes a partir do dia em que seu bebê nasce. É comum que assistentes sociais e outros funcionários dos hospitais questionem se um pai cego será capaz de ser um bom pai/mãe.
Isso é muito difícil para pais cegos que sentem que precisam ser perfeitos e ter tudo sob controle o tempo todo.
Nós não somos “incríveis”
Pode ser impossível para alguns de nós imaginar como os pais lidam com todas as responsabilidades da paternidade sem poder enxergar. “As pessoas dizem que é incrível que eu possa andar pela calçada ou tirar o lixo ou cozinhar uma refeição para minha família”, diz Debbie Stein. “O que eles não entendem é que, mesmo quando alguém pretende fazer esses comentários como elogios, eles estão insultando”.
Ter uma atitude positiva é crucial. “Todos os dias, eu faço uma escolha”, diz Holly Bonner, mãe de 2 filhos, que perdeu a maior parte da visão como resultado do tratamento do câncer de mama antes de seus filhos nascerem. “Eu deixo as tensões da paternidade chegarem até mim ou procuro ver o lado positivo? Concentrar minha atenção no que realmente importa na vida é meu mecanismo para enfrentar a maternidade”, ela conta.
Nós temos maneiras diferentes de fazer as coisas
Muitos pais cegos colocam sininhos nos sapatos de seus bebês e crianças para que possam ouvir onde seus filhos estão. Eles colocam rótulos em braille nos alimentos em seus armários, adesivos nos botões de microondas e marcas ou entalhes de tinta nos remédios.
Eles compram termômetros com sons e lápis triangulares para que eles não caiam da mesa. Para alimentar o bebê, eles tocam a bochecha ou o queixo com o mindinho para localizar sua boca. “Nós aprendemos a prestar mais atenção nos nossos filhos”, diz Melissa Riccobono, mãe de 3 filhos.
Geralmente não precisamos de ajuda, mas agradecemos
Quando pais cegos estão andando na rua com seus filhos, eles podem parar em uma esquina e parecerem perdidos. “Há chances, mas na maioria das vezes nós só estamos tirando um tempo para ouvir o tráfego e decidir se é hora de atravessar”, diz Ashley Nemeth, mãe de 3 filhos. “A coisa mais assustadora é quando um estranho agarra meu braço e começa a me levar para algum lugar, é desorientador”.
É sempre bom perguntar se há alguma maneira de ajudar. “Normalmente, eu respondo: obrigada, estou bem”, diz a youtuber Joy Ross, mãe de 2 filhos. “Mas houve momentos em que estava no shopping com meu cão-guia e quis encontrar um lugar para descansar e me recompor. Desejei que alguém parasse e perguntasse se eu precisava de ajuda ou me oferecesse uma cadeira”.
Por mais fofo que um cão-guia seja, não fale com ele nem faça carinho enquanto ele estiver trabalhando, recomenda Ashley Nemeth. Se você tem um vizinho com deficiência visual, dê a ele seu número de telefone e deixe-o ter certeza de que ele é bem-vindo para ligar caso precise de alguma coisa.
Nós podemos ajudar também
Pais cegos querem ser tratados como qualquer outra pessoa que tenha algo valioso para contribuir. Por exemplo, eles podem querer ser voluntários na sala de aula dos filhos, mas o professor pode não convidá-los. “Uma mãe que eu conheço se inscreveu para ajudar em uma festa de volta às aulas e trouxe lanches, bebidas e copos, mas quando chegou lá, as outras mães a colocaram em uma cadeira e a deixaram sozinha”, diz Stacy Cervenka, mãe de 2 filhos.
“Quando chegou a hora da venda de bolos de Halloween na pré-escola da minha filha, uma das mães me disse que não queria que eu cozesse qualquer coisa porque eles estavam com medo de que as crianças comessem”, diz Holly Bonner. “Eles não acharam que eu poderia cozinhas, apesar de que eu cozinho para minha família 6 noites por semana”.
O transporte é o nosso maior desafio, sinta-se à vontade para nos oferecer uma carona
A coisa mais importante que pais cegos não podem fazer é dirigir. Eles usam serviços de transporte público ou andam com seus filhos por todos os lugares. A disponibilidade do Uber tem sido uma grande mudança, mas é uma opção cara.
Nós cuidamos das nossas crianças, eles não cuidam de nós
Quando a filha de Stein tinha 3 anos, as pessoas diziam: “Você está levando sua mãe para passear?” ou “Você deve ser uma grande ajuda para sua mãe em casa”, Stein precisou dar boas respostas. “Minha filha tem apenas 3 anos, as pessoas não precisam dar instruções para que ela cuide de mim”.
Nós podemos manter nossas crianças seguras
Não há pesquisas nem evidências que mostrem que crianças de pais cegos são mais propensas a lesões ou acidentes do que qualquer outra pessoa. “Damos as mãos quando estamos fora de casa, estabelecemos pontos de encontro e limites de onde nossos filhos podem ir e usamos uma comunicação no estilo ‘Marco Polo’ se eles não estão ao nosso lado”, diz Mary Jo Hartle, mãe de 3 filhos.
Tecnologia mudou nossas vidas
Todo iPhone possui configurações que podem ler textos e e-mails em voz alta. Pais cegos usam fones de ouvido sem fio para que possam ouvir discretamente. Softwares e aplicativos de leitura de tela permitem que eles leiam qualquer coisa digital e ouçam descrições de fotos, e é útil que as informações que precisam ser lidas na escola sejam cada vez mais compartilhadas por e-mail ou sites.
Com os filhos, os pais cegos podem assistir filmes e programas de TV com descrições de áudio, que narram o que está acontecendo na tela. Eles usam Facebook e Instagram para manter contato com a família e os amigos e oferecem suporte e conselhos online.
Não tenha pena dos nossos filhos
Pais cegos foram acusados de serem irresponsáveis por terem filhos e trazê-los para uma situação difícil, quando, na verdade, seus filhos estão bem. As crianças costumam ter habilidades verbais particularmente avançadas.
Nicole Fincham-Sheehan era uma mãe solteira de 19 anos quando seu primeiro filho nasceu. Agora ela é casada e acabou de ter seu terceiro filho. Enquanto trabalhava em 2 empregos, Nicole terminou a faculdade e colocou a filha na escola. “Minha filha sempre fez muitas atividades extracurriculares: tênis, futebol, dança, karatê…”, ela conta.
Crianças não veem a cegueira dos pais como um grande problema. “Nosso filho de 4 anos só entende que, para o pai dele ver alguma coisa, ele precisa colocar as mãos nele”, conta Stacy.
Nossos filhos não nos desobedecem só porque não podemos vê-los
“Todo pai sabe que, quando um filho está muito quieto, é porque ele está fazendo algo que não deveria, como pintar a parede com lápis e caneta”, diz Melissa. Os filhos dela às vezes tentam roubar doces, mas depois ela encontra adesivos no chão. “Pela maneira como meus filhos falam, eu posso deduzir se eles estão me dizendo a verdade ou não”, diz Hai Ly, um pai cego de 2 filhos.
Quando se trata de disciplina, as regras não são negociáveis. “Confiamos em nossos filhos e estabelecemos esse nível de confiança porque estabelecemos limites desde o início”.
Gostaríamos que você saísse da sua zona de conforto
Se você nunca conheceu um pai cego antes, pode se sentir estranho ou não ter certeza se deve olhá-lo nos olhos. “Hoje em dia estamos todos com medo de ofender as pessoas, por isso pode parecer mais fácil evitar interagir com uma pessoa cega”, diz Ashley. “Mas eu sempre encorajo as pessoas a me fazerem perguntas”.
“Seria ótimo se outros pais se aproximassem de mim e me vissem como uma mãe normal e não como ‘uma mãe cega’. Meu marido e eu sempre tentamos mostrar às pessoas que estamos confortáveis com a nossa cegueira”, ela conclui.
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