O vínculo entre pai e filho é tão importante que nossa colunista Flávia Werlang superou até a mágoa de ter passado toda a gestação sozinha
Carreguei a nossa filha durante nove meses sozinha. Literalmente. Todas as vezes que eu procurei Mr. Pai para pedir atenção e participação tinha que escutar os seus lamentos. Ele dizia que não estava preparado para a paternidade, que a notícia o pegou de surpresa. Mas, o que mais me entristecia, era quando ele falava que não tinha certeza se era o pai da nossa filhinha. De um modo ou de outro a indisponibilidade dele era evidente. E aquilo me cortava o coração. Tinha vontade de sumir para sempre da vida dele. Mas não consegui ser egoísta porque havia um elo entre nós dois e eu não podia ignorá-lo.
Quando entrei em trabalho de parto engoli toda a rejeição e sentimento de abandono e o chamei para participar daquele momento mágico, o nascimento da nossa filha. Não, ele não entrou no centro cirúrgico, não apertou a minha mão enquanto eu rezava para tudo dar certo e nem me disse “Obrigado!” pela nossa filha linda ou ainda por eu ter passado por tudo aquilo sozinha.
Desde o parto, pai e filha têm criado um elo que é só deles, independente de mim. Fico feliz e até me sinto realizada por isso ter acontecido. Eu sei o quanto faz falta a presença de um pai e o quanto a idealização do mesmo pode ser mais prejudicial do que conhecê-lo tal como ele é, em carne e osso, com qualidades e defeitos.
Mas, no entanto, há dias em que eu e Mr. Pai nos desentendemos em alguma questão sobre a educação da Luna e ele ameaça tirá-la de mim. Diz que pode recorrer pela guarda dela judicialmente. O mais interessante é que eu não consigo sentir raiva dessas atitudes, digamos infantis, porque eu sei que no fundo são laços de amor que afloram a cada dia. Lutei tanto para minha filha – que ficou nove meses sozinha comigo – ser reconhecida e criar um vínculo com esse pai que encaro esse afrontamento como sinal de que o esforço valeu a pena.
Flávia Werlang, mãe de Luna, autora do blog Grávida, estado civil mãe (solteira). Esta coluna é destinada a todas mulheres que, assim como eu, engravidaram “sozinhas”.