Publicado em 16/09/2024, às 15h23 por Malu Lopes, Estagiária | Filha de Carmem e Single
Uma nova pesquisa conduzida pela Universidade do Colorado em Boulder indica que a exposição prolongada à fumaça de incêndios florestais pode elevar o risco de doenças mentais entre jovens. Este estudo, envolvendo 10.000 crianças com idades entre 9 e 11 anos, representa um dos primeiros esforços para investigar como a poluição por partículas finas afeta a saúde mental de adolescentes.
O estudo, publicado na revista *Environmental Health Perspectives*, sugere que cada dia adicional exposto a altos níveis de poluição do ar aumenta o risco de desenvolvimento de sintomas de doenças mentais em jovens. Harry Smolker, o principal autor e pesquisador associado do Instituto de Ciência Cognitiva da CU Boulder, explicou: “Descobrimos que um maior número de dias com níveis de poluição atmosférica por partículas finas acima dos padrões da EPA foi associado ao aumento dos sintomas de doença mental, tanto durante o ano de exposição quanto até um ano depois.”
A pesquisa surge em um contexto onde a fumaça de incêndios florestais, especialmente no sul da Califórnia, tem coberto amplas áreas do oeste dos Estados Unidos, afetando até locais como Las Vegas e partes do Colorado. Apesar das melhorias gerais na qualidade do ar nas últimas décadas devido a restrições de emissões, a frequência crescente de incêndios florestais está criando novos desafios relacionados à poluição atmosférica.
Enquanto os impactos da poluição do ar sobre a saúde física, como doenças respiratórias e cardíacas, são bem conhecidos, o efeito sobre a saúde mental é uma área de estudo mais recente. O material particulado, especialmente o PM 2,5, que tem menos de 2,5 micrômetros de diâmetro, é pequeno o suficiente para penetrar na barreira hematoencefálica e potencialmente causar inflamação cerebral, danos celulares e reações imunológicas que podem levar a alterações comportamentais e cognitivas.
Estudos anteriores mostraram que a poluição do ar pode aumentar internações hospitalares por depressão, tentativas de suicídio e episódios psicóticos em adultos. Além disso, há evidências de que exposições ambientais durante a gravidez podem levar a déficits motores e cognitivos em crianças. O estudo da Universidade do Colorado em Boulder é pioneiro na análise desses impactos específicos em adolescentes, cujos cérebros ainda estão em fase de desenvolvimento.
Os pesquisadores analisaram dados de participantes do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente (ABCD), o maior estudo de longo prazo sobre desenvolvimento cerebral e saúde infantil nos Estados Unidos. Utilizando informações sobre os endereços dos participantes e dados históricos de qualidade do ar, eles determinaram o número de dias em que os jovens foram expostos a níveis de PM 2,5 superiores a 35 microgramas por metro cúbico — o limite estabelecido pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) como inseguro.
Os resultados mostraram que cerca de um terço dos participantes foi exposto a níveis inseguros em pelo menos um dia, com alguns indivíduos enfrentando exposições extremas, chegando a 199 microgramas/m³, mais de cinco vezes o nível considerado seguro. Analisando questionários de pais ao longo de três anos, os pesquisadores descobriram que a exposição repetida a esses níveis perigosos estava associada a um aumento significativo nos sintomas de depressão e ansiedade entre os jovens, mesmo após um ano da exposição.
A pesquisa revelou que cada dia adicional de exposição a altos níveis de poluição tinha um impacto mensurável no aumento dos sintomas mentais, com uma elevação média de 0,01 ponto em uma escala de 1 a 50 para cada dia de exposição. Embora essa mudança possa parecer pequena, Smolker ressaltou que “não é trivial”, especialmente quando se considera o efeito acumulativo de múltiplas exposições.
Além disso, o estudo sugere que alguns jovens podem ser geneticamente mais vulneráveis aos efeitos negativos da poluição do ar. Embora a pesquisa não tenha focado exclusivamente nas fontes da poluição, a coautora do estudo, Colleen Reid, geógrafa do Instituto de Ciências Comportamentais da CU Boulder, indicou que a maioria das exposições analisadas pode ter sido, em parte, devido à fumaça de incêndios florestais.
“Os eventos de fumaça de incêndios florestais estão se tornando cada vez mais comuns, e este estudo se soma a um crescente conjunto de evidências de que eles podem afetar nossa saúde”, concluiu Reid.
Este estudo destaca a necessidade urgente de estratégias para mitigar os efeitos da poluição do ar sobre a saúde mental dos jovens e sublinha a importância de medidas eficazes para reduzir a exposição a poluentes atmosféricos. A pesquisa contribui significativamente para a compreensão dos impactos da poluição ambiental na saúde mental e oferece uma base para futuras investigações e políticas públicas voltadas para proteger o bem-estar das próximas gerações.
O clima seco tem provocado um aumento significativo nas queimadas, afetando tanto o Norte quanto o Sul do Brasil. A combinação de calor extremo e vegetação seca tem criado condições ideais para incêndios. A fumaça das queimadas da Amazônia e do Pantanal está se deslocando para os estados do Sul e do Sudeste, formando um corredor de poluição que agrava a qualidade do ar em diversas regiões.
Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam que foram registrados 7.028 focos de calor em todo o país no final de semana passado. Em julho e agosto, o número de queimadas atingiu recordes, especialmente na Amazônia, onde a falta de chuva tem afetado as bacias hidrográficas e deixado a vegetação mais suscetível ao fogo.
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