Família

Cortando o cordão

Imagem Cortando o cordão

Publicado em 07/09/2012, às 08h00 por Redação Pais&Filhos


07/09/2012

por Marcel Rufo, psiquiatra infantil e diretor da Maison des Adolescents, em Paris

Maud, 5 anos, diz que não gosta de ir à escola. Sente as maiorias dificuldades do mundo para se afastar da mãe e exprime um temor bastante intenso da morte. É uma história de intensa fusão entre uma mãe e seu filho. Fusão exagerada que se explica pelo fato de, durante a gravidez, a mãe de Maud ter perdido o pai e a mãe ter morrido um pouco depois. Podemos nos perguntar quem induz e solicita a fusão. Creio que a responsabilidade é, em primeiro lugar, da menininha. Ela nasceu com uma capacidade fusional exacerbada e, sem dúvida, precisa colar. Mas essa “colagem” foi ainda mais excessiva porque a mãe sofreu dois lutos sucessivos e procurava preencher o vazio criado pela perda dos pais.

O pai de Maud está presente na consulta. Mostra-se afetuoso com a filha, consciente de que ela precisa se separar da mãe, embora não saiba muito bem o que fazer para ajudar. Está preparado para cumprir seu papel, mas a mãe tem de lhe dar essa possibilidade. Na nossa entrevista, ela parece disposta a isso, entendendo que é pelo bem da filha. O único remédio para a fusão mãe-filha é o pai. É ele que, por sua presença, seu afeto e também sua serenidade, poderá ajudar as duas a se separarem suavemente, sem que a mãe tenha a impressão de estar abandonando a filha e sem que esta se sinta abandonada.

A fusão se dá essencialmente entre a mãe e seu bebê. Isso não significa que não possa haver fusão com o pai, mas já será uma segunda fusão, menos intensa, portanto, porque supõe uma primeira separação da mãe, que é a única que pode criar a fusão biológica, orgânica e física. Creio, contudo, que, na medida do possível – e no caso de a mãe não estar impedida, física ou psiquicamente, de cumprir seu papel –, o pai não deve se esforçar para estabelecer uma relação fusional por sua vez.

O papel dele é, ao contrário, o de “desfusionar”. O pai é precioso, indispensável, na medida em que dá à mãe forças para não se ocupar exclusivamente de seu bebê. Nesse caso, o bebê sente rapidamente que, na vida da mãe, existe um outro pólo de interesse além dele. E é pelo fato de interessar à mãe que o pai se torna interessante para ele também. Desde os primeiríssimos dias de sua vida, o pai vai introduzir a noção tão essencial de diferença. Porque esse pai não tem a mesma textura de pele que a mãe, não tem a mesma voz, a mesma maneira de carregá-lo ou de brincar com ele, o filho percebe, ainda que confusamente, que entre a mãe e ele já há o terceiro, o diferente, o “igual” e o “não-igual”, que vai ajudá-lo a sair da fusão e se abrir para o mundo.

O pai é alguém que tem de desviar a atenção da mãe de seu bebê sem deixar de ajudá-la e apoiá-la na sua missão materna. Alguém que tem de estar presente, desde o começo. Toda criança teria de ter a impressão de que, já desde antes de seu nascimento, seu pai estava presente perto da mãe, que esta nunca ficou sozinha e que, por conseguinte, ele nunca foi um objeto único de seu amor. As mulheres que escolhem ter filhos com amantes passageiros, as que são abandonadas contra a vontade durante a gravidez, deveriam sempre contar ao filho que ele foi concebido no amor. Não só porque ele precisa saber que a mãe teve outros amores além dele. O filho, sem dúvida, conservará, apesar de tudo, a esperança de ser o único objeto do amor materno, mas essa esperança é menos tóxica do que a certeza de sê-lo, induzida pela ausência do pai, porque sempre comporta uma parcela de dúvida. Entre saber e ter esperanças, há o cheiro do incerto que talvez facilite, nem que seja um pouco, a  separação.


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