Colunas / Se eu pudesse eu gritava

Um médico e uma criança

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Publicado em 26/06/2016, às 08h26 - Atualizado às 09h37 por Tatiana Schunck


Ontem tivemos de levar Joaquim ao médico, o doutor Marcelo. Dr. Marcelo é um médico que escuta, enxerga, respeita e ensina sobre a saúde de cada um. Dá para dizer esse mínimo do Marcelo. Lá em casa, entre eu e meu marido, ele é um tipo de deus. Brincamos assim.

Vamos falar com deus! No caminho, Joaquim sabe que vamos ao Dr. Marcelo e vive uma espécie de contentamento por saber que está indo num lugar de confiança e se sente um tanto maior de si. De vez em quando sorri sozinho no banco de trás. Balbucia baixo algumas palavras, pois essa conversa pertence somente a ele e ao médico. De vez em quando nos olha pelo espelho.

Quando está no consultório, ele espera sentado no chão com alguns brinquedos, concentrado em montar ou desmontar algo. Quando Marcelo entra, Joaquim para o que está fazendo, puxa a escada que fica embaixo da maca e a posiciona para subir. Sobe sozinho, proclama que está de botas e que não pode pisar na maca de botas. Tira-as. Senta-se. Espera e olha para o doutor com um sentimento que não sei nomear. Seu olhar espera e entrega.

Deita-se na maca e já sabe qual é a sequência que Marcelo fará em seu corpo. Levanta a camiseta, olha para o teto e sabe que as mãos do médico tocarão sua barriga, com batidinhas de leve circulando o abdome. Joaquim respira fundo, diz que não dói. Depois abre a boca de dragão e não reclama. Quando Marcelo pede para ele virar a cabeça para o lado, ele vira, mas com o canto do olho continua a ver o médico. Esse encantamento é visível pelo esforço do canto do olho.

Marcelo é interrompido por Joaquim algumas vezes, por algumas perguntas. Dr. Marcelo, eu tô com tosse, né? É Joaquim? É, dr Marcelo. Quando ele se senta e mostra as costas, Marcelo pede para ele respirar fundo, Joaquim diz alto com a voz abafada pela posição da cabeça para baixo: você não tem agulha? Marcelo olha para Joaquim e diz que não tem não. Joaquim volta a olhar para baixo e confia.

Essa entrega é um tipo cura. Normalmente Joaquim sai do consultório maior, mais feliz e sabendo alguma coisa. Em casa, ele repete a sequência em mim ou no pai, ora ele é o médico, ora o paciente. Fico pensando como será a altura do Marcelo no tamanho do Joaquim, que tem quatro anos. Marcelo é bem alto, tem cabelo branquinho já. E Joaquim o enxerga como lugar. Não sei explicar direito, mas sinto que Joaquim recebe um lugar na relação com o médico. Feliz em acompanhar esse crescimento cheio de manifestação de sentimento de aceitação de si.


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Comportamento