Colunas / Se eu pudesse eu gritava

Aprender a ler

Publicado em 11/12/2014, às 22h00 por Tatiana Schunck


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Nesta noite, meu filho com seus dois anos e alguns meses, resolveu ler. Em seu quarto, com um pequeno Manuel de Barros, sentou-se a ouvir. Quando eu comecei a ler algumas palavras em voz alta, o moleque, com o primeiro canto de Barros: socó-boca-d’água; tomou-me o livro das mãos e disse: vou ler mamãe. Você lê, eu também leio.

Socó-boca-d’água me disse a sua maneira. E em seguida, pediu que eu mostrasse a ele onde estavam estas palavras no papel. Colocou o livro aberto em seu colo e o segurou como folhas soltas da floresta e lhes passava as pontas de seus pequenos dedos como se descobrisse seus nomes. Uma por uma. Como se música pudesse sair de cada palavra.

Ele escolhia alguma palavra quando a folha escolhida já estava aberta e a apontava no papel, também com a ponta do dedo, para que eu a dissesse em voz alta. E ele cantava comigo em seguida. Depois, fez o mesmo com o pai, que também se viu em posição de leitor. Às vezes, ele simplesmente colocava o dedo sobre a palavra e nos olhava fixamente, com um olhar de sapeca, de pilantragem, como se ele, o menino, já soubesse o som que dali sairia.

Enquanto ele repetia e descobria o som das palavras ia passando os dedos sobre as letras, como quem identifica o objeto pelo tato. E sorria enquanto conhecia as palavras.

Depois disse ainda: vou ler mamãe. E sozinho passou a escolher, tocar e inventar o som de cada palavra, sem mim. Eu passei a tentar compreender o que ele cantava. Eu passei a aprendiz da leitura. Eu passei a observar qual palavra ele escolhia e a esperar com meu olhar sapeca e pilantra, pelo som que viria a seguir. Ele se percebeu no lugar de enunciador. E gostou.

Aprendi a ler com meu filho e nada me parece mais justo. Ainda mais se tratando de Manuel de Barros. Eu achei que já o tinha lido, mas hoje, descobri que só uma criança pode dar a ver o que Manuel viu.

Saímos do quarto e ficamos próximos à porta. No corredor, continuamos a ouvir a conversa entre Joaquim e Manuel. Ficou claro que haveriamos de deixa-los a sós. 


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