Colunas / Mãe de Mochila

Marcianos vendem tudo

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Publicado em 26/08/2017, às 09h21 por Rebecca Barreto


Olhando para trás vejo que loucura é passar algumas décadas construindo a nossa vida em pequenos objetos que se acumulam. Se você não é uma acumuladora digna de programa no Discovery, mas também não é daquelas que compra a decoração de uma casa inteira com decorador, você provavelmente acumula histórias de cada fase da vida nos pequenos objetos ao seu redor. E, para padrões paulistas, aquele primeiro apê de 40/50 metros quadrados da moça sozinha logo vira um apartamento de dois/três quartos de uma família começando uma história junto que vai assim progredindo exponencialmente com a chegada de mais filhos. Enfim, faz aqui, um exercício comigo: se hoje você fosse chamada par ir morar em Marte, numa nova colônia habitacional, e pudesse levar 2 caixas por pessoa, faz aqui uma rápida listagem, o que estariam nas suas?

Mudar de país é mais ou menos isso. Meu marido falou que a gente se sente cada vez mais jovem. Ele – que se diz meio Benjamim Button, pois foi pai tão cedo, e agora, depois de velho tem cabelos longos e banda de rock-, fala que parece que voltamos para a casa dos 30, ao ter que repensar qual o jogo de panelas teremos ou qual é o melhor sofá que cabe na nossa casa nova, que já é bem generosa para padrões asiáticos.

Eu concordo muito com ele. A mudança gira a energia das coisas. Coloca pra baixo o que estava em cima e vice versa. Você zera algumas coisas e passa a enxergar aquilo do qual você realmente não abdica. E quando não há jeito, é obrigado a abdicar da presença física de algo, mas passa a carregar consigo, nem que seja na memória, o que aquilo representa.

E mudar significa revalorizar o que você tem até agora. Obriga você a se colocar num patamar na vida. E óbvio, mexer nos fundos dos armários da sua história.

Tudo isso me faz lembrar da minha própria mudança. Já com marido à distância, tinha um deadline pra estar aqui em Singapura, baseado na escolar de minha filha, e isso se resumia a um mês e meio.

O desapego ainda estava num estágio mirim dentro do meu coração. Marie Kondo e suas lições geniais, ainda estavam no nível racional do meu pensamento. E assim, criei um evento no facebook para chamar a galera em casa para um drink com despedida.

Quem me conhece sabe que odeio dizer tchaus, de todos os tipos e tamanhos. Estudei psicanálise, fiz pós, e compreendo as relações humanas num nível bem avançado, mas para mim, qualquer nível de luto é complexo, portanto até dizer tchau numa festa é complicado, é desconfortável. Sou daquelas que sempre saem a francesa, e quem me conhece sabe que não é tipo, é real. O que dizer então deste corte, abrupto e umbilical do que se limitar a 6 metros cúbicos?

O evento no facebook bombou. E todos que conheciam minha casa e minha vida ali convidados, começaram a comentar. Gente foi se apresentando pra outras, já falando “o sofá é meu”. E, assim, comecei a fotografar algumas peças e colocar algum texto mais dedicado no lugar de uma legenda. Assim, o açucareiro em forma de Cisne comprador no antiquário qualquer, quase kitch, virou um ex-bailarino do Barishnikov que foi expulso e tava se sentindo sozinho, pois nem no grupo Corpo conseguia mais lugar.

E virou uma febre.

As pessoas me ligavam para saber se haveria hora de postagens, para poderem reservar. Dos meus amigos mais subversivos sairam propostas de pagamento maior para objetos já reservados por outros em mensagens privadas. Pessoas compravam loucamente até meu abajur colado com superbonder. E foi assim, que o Familia Vende tudo dos Versolatos, virou história em me levantou uma boa grana capaz de pagar a mudança e ainda ajudar a conta da Ikea e da Crate and Barrel.

Mas o mais legal disso tudo, foi como se diz na psicanálise, ver os critérios do meu desapego se desenvolvendo. Primeiro, “o que vai caber nas caixas”, “pra que serve”, “o que me faz lembrar” e “sera que alguem gostaria mais do que eu”.

Foi fácil distinguir das amigas quais que compravam pois queriam um pedaço daquela memoria, outras que indicaram p irmãs ou primas se mudando ou montando casa, outros que até compravam ainda em choque com a capacidade de desapego que acabei desenvolvendo e por dó, arrematavam algo pra vir tomar um café e retirar e tentar entender.

Mas o mais legal desse movimento foram receber as fotos, fotos daqueles objetos em outras casas, fotos das pessoas com seus carretos levando poltrona, desmontando porta pra algo entrar, ou até ver as crianças curtindo um novo brinquedo vindo de outra família. E com isso, sei q as energias dessas coisas que estavam paradas conosco, agora popularam tantos outros lugares, tantas outras famílias construindo novas histórias com objetos e coisas que vou reconhecendo em cada timeline cotidiana dos meus amigos. E assim, o que Freud também chamava de ressignificar, tudo vai ganhando um novo sentido, pois aquilo que temos, de nada adianta ter, se não houver nesta um significado.

E você, quais são os seus metros cúbicos pro próximo vôo para Marte?

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