Publicado em 28/05/2016, às 05h39 por Ivelise Giarolla
Há um ano fiz uma declaração no meu Facebook, na qual fui muito mal interpretada. Falei que gostaria de um Dia das Mães sozinha, de pijama o dia todo, sem horário para nada. Por que fui escrever isso? Várias mães me responderam “inbox” que isso “não pegava bem”. Por fim, exclui meu comentário, mas aquilo ficou na minha cabeça.
Recentemente, li um comentário da Deborah Secco, em entrevista para a “Revista Glamour”, que me fez reavivar esse tema. Ela disse o seguinte: “No entanto, a maternidade não é feita apenas de bons momentos. Ninguém me avisou que a criança não dá amor no primeiro mês! Ainda mais no meu caso, que não amamentei (ela não teve leite e enfrentou uma mastite). Sentia que qualquer pessoa que estivesse ali trocando fralda, dando banho e mamadeira, pra ela estava bom. É uma dedicação absurda, o bebê demanda de três em três horas cronometradas. Aí você sente que dá muito e não recebe nada em troca. É frustrante”.
Opaaa! Uma atriz famosa falando o que muitas mães jamais falariam em público: a maternidade é frustrante! Sim, a maternidade frustra! E cansa! Cansa demais! Suga todas nossas energias, nos deixa impotente. E ainda temos toda uma sociedade nos julgando a todo o momento, apontado o dedo na nossa cara quando referimos em público que gostaríamos de um tempo sozinha, sem filhos, em silêncio, sem escutar a palavra “mãeeeee” milhões de vezes ao dia, sem solicitações imediatas.
Desta vez fiz diferente. Não escrevi no Facebook. Fiz a pergunta no meu trabalho. “O que gostaria de ganhar no dia das mães?” Digo que 99% das mães falaram “um dia de descanso” e sem os filhos. Por quê? Porque estamos cansadas! E por isso deixaremos de amá-los? NÃO!
Desde a hora da fecundação de nossos filhos já somos culpadas por tudo. Por trabalhar, por não amamentar, por ter chegado atrasada em uma reunião escolar, por dormir no chão brincando com as crianças, por trancar a porta do banheiro escutando as crianças chamar. Sentimos-nos culpadas até por sentar na hora do almoço, ou tentar comer levando algo mais que dez minutos.
Para mim é frequente a pergunta, quando estou no meu treino de corrida ou academia: “quem está com as crianças?”. “Com o pai”, oras. Mas, poderia ser com a avó, com a babá, quem seja. Todavia, automaticamente essa pergunta já ativa a tecla “culpa”, pois jamais podemos deixar nossos filhos para realizar uma atividade de lazer que não os envolvam.
Por que nos sentimos culpadas? Porque a sociedade cria a mulher para ser mãe em tempo integral. Não podemos mais ser a “Ivelise”. Sou “Ivelise mãe” ou somente “a mãe”.
Para minha sorte e felicidade, recentemente fui a um seminário realizado pela Pais&Filhos chamado “Mãe também é gente”. Um dia inteiro recheado de palestras mostrando que não devemos nos sentir culpadas. Lá tive o prazer de conversar com alguns palestrantes após o evento, clamando ajuda e desesperada por não me julgar a mãe ideal.
De uma delas, a Melinda Blau(autora do livro “Encantadora de Famílias”), após eu falar que não conseguia retribuir toda a atenção requerida por minhas duas filhas, escutei a seguinte frase: “não carregue essa culpa em seus ombros. A culpa não é sua”.
Libertemo-nos dessa posição que a sociedade nos impôs: a de mãe em tempo integral. Antes de qualquer coisa somos um individuo único, que necessita de sanidade mental e física para criamos nossos filhos. Não precisamos respirar o ar das crianças para nos vitalizar. Não precisamos nos sentir bruxas por querer um tempo do dia sem os filhos.
Mães estressadas são menos tolerantes e dão menos atenção aos pequenos e à família. Entendi que, para que a balança seja equilibrada, devo oferecer um tempo de qualidade a minha família, não importa o quanto seja, mas quando acontecer esteja verdadeiramente presente.
Três vivas para o movimento “Mãe também é gente”!
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