Criança

O novo pai

Imagem O novo pai

Publicado em 02/08/2013, às 10h28 - Atualizado em 29/04/2021, às 07h23 por Redação Pais&Filhos


Muitos homens de hoje são o que eu chamo de “os novos novos”, ou seja, nem os pais que ficam em casa nem os que trabalham fora e sustentam a casa, mas, sim, homens que trabalham um pouco e são pais no resto do tempo. Esses, provavelmente, gastam uma boa quantidade de tempo se preocupando se estão desempenhando bem a paternidade. Veja a minha situação: minha mulher estudou mais, tem pós-graduação e tudo o mais, ganha bem e tem uma carreira estável. Eu ganho menos do que ela, tenho um trabalho flexível e instável. Então, na maioria dos dias, tenho de bancar o malabarista: sirvo o cereal, checo se está tudo bem com o carro e garanto a minha parte do orçamento. Mas eu não sou nada de especial: de acordo com o censo americano, uma em cada quatro crianças em idade pré-escolar passa mais tempo com o pai do que com a mãe.

Preciso arranjar tempo para o trabalho, e isso significa que boa parte dos contatos do meu iPhone são de babysitters. Por experiência própria, sei que não é fácil. Depois que consegui deixar tudo em ordem com as crianças, e finalmente achei o caminho para a minha mesa, meu cérebro ainda leva um tempo para trocar a marcha. Será que me lembrei de descongelar os peitos de frango? Por que minha filha comeu a pasta de dente do irmão? Será que não é perigoso? Isso é normal? Eu disse à babá “nada de televisão até as 16h”? Na última vez em que chamei aquela babysitter para uma tarde, minha filha de 6 anos estava feliz porque tinha visto George, o Curioso, em seguida Martha Fala, então Garota Supersábia. Que ótimo.

“As expectativas sobre os pais têm aumentado”, diz Stephanie Coontz, diretora de pesquisa e educação pública de um conselho sobre famílias contemporâneas. “Mas, ao mesmo tempo, esses novos pais demonstram ter menos conflitos trabalho-família do que as mulheres, o que é uma inversão interessante.”

A maioria dos homens na minha situação quer um casamento em que ambos os parceiros possam falar sobre seus respectivos trabalhos no fim do dia. “O lar mantido com dois salários, em que cada parceiro contribui de forma igual, é o que 80% das mulheres e mais de dois terços dos homens gostariam de criar”, diz Kathleen Gerson, professora de Sociologia da Universidade de Nova York. E a maioria desses novos pais quer botar a mão na massa no que diz respeito à criação dos filhos. “Os pais de hoje ainda baseiam boa parte de sua identidade e auto-estima no trabalho. No entanto, eles também são muito mais determinados a se envolver na vida de seus filhos”, explica o psicólogo Joshua Coleman. “Eles se recusam a abrir mão de uma coisa pela outra”.

Está cada vez mais evidente que os homens estão interessados em cuidar de seus filhos. As razões para isso são amplas e incluem a crise econômica e a vontade de aproveitar melhor esse período da vida que passa muito rápido.

Essas expectativas provocaram uma ampla gama de sentimentos nos homens, que vão do orgulho à irritação. Mas as expectativas aumentaram também em relação a obter participação ativa na educação e se devotar mais a uma carreira da qual nunca se é demitido: a de pai.

Menos estudo, menos renda

Para entender como a paternidade mudou, é preciso olhar para a ascensão profissional das mulheres. Hoje, 28% de todas as mulheres americanas entre 30 e 44 anos têm nível educacional superior ao dos maridos, enquanto apenas 19% dos maridos têm mais educação do que suas esposas. Os restantes 53% têm o mesmo nível de educação que o parceiro. Em 2008, as mulheres receberam 57% de todos os graus de bacharel e 51% de todos os doutorados. No Brasil, 59,9% das mulheres possuem 11 anos ou mais de estudo contra 51,9% dos homens.

As mulheres ascenderam academicamente por causa do colapso no mercado de trabalho que atingiu as carreiras predominantemente masculinas. De 2008 a 2009, a taxa de desemprego aumentou 83% entre os homens de 25 anos ou mais, em comparação com 57% entre as mulheres de 25 anos ou mais. Como resultado, um em cada cinco homens com idades entre 25 e 54 anos estão desempregados desde dezembro de 2009. Essa é a mais elevada taxa de desemprego masculino nos Estados Unidos desde 1948.

O fim da ajudinha?

Os homens têm participado mais da criação dos filhos, mas ainda estão muito aquém das mulheres em relação às tarefas da casa. Um estudo recente do Journal of Family Issues descobriu que os maridos gastam 23 horas por semana em tarefas domésticas em comparação com as 42 horas gastas pelas mulheres. “Trabalho doméstico” foi definido como limpar a casa, preparar refeições, lavar a louça, lavar e passar roupas, fazer compras e pagar as contas, entre outros.

Mas nem tudo está perdido. “As mulheres acreditam que os maridos são preguiçosos, mas, desde 1960, os homens dobraram a participação nos trabalhos domésticos”, diz o dr. Coleman. Para ele, os pais até participariam mais… se as mulheres deixassem. “Muitas mulheres têm padrões elevados de como as coisas deveriam ser feitas, o que pode tornar os homens menos motivados.” É o velho e bom “deixa que eu faço, porque você não faz direito”, reconhece? E depois as mulheres reclamam de que estão sobrecarregadas…

E se ele realmente não faz nada direito, dá pra aprender. Na Itália já existe um curso de tarefas domésticas feito especialmente para eles. A ideia é ensinar homens solteiros, viúvos ou separados a cozinhar, fazer faxina, passar roupa… E por que não ensinar pais a cuidar da casa e dos filhos?

Um pai especialmente motivado, Klint Ragsdale descobriu que o seu álcool em gel é ótimo para tirar manchas das roupas de suas filhas. E descobrir novos tiradores de mancha não é seu único talento: ele é conhecido por saber esculpir abóboras. “Eu costumava ser o chefe da família; depois, nos tornamos iguais; agora ela me ultrapassou; então meu ego tem sido escavado lentamente”, ri Ragsdale, pai de gêmeas de 6 anos que trabalha meio-período. A situação deles se reduziu a uma questão de títulos acadêmicos. “Ela tem um mestrado e eu, não.” Em um dia típico, Ragsdale começa dando café da manhã para as meninas, vestindo-as e colocando-as no ônibus. Então, ele faz todas as tarefas da casa antes de vender carros o resto da tarde. “Seria mais fácil ficar com os filhos em tempo integral”, diz ele. “Mas preciso de um emprego para manter minha auto-estima. Cuidar das crianças durante todo o dia não faz muito bem para o ego.” Pois é, agora eles entendem…

Ficar em casa não é fácil 

Isso é o que as mulheres desde Amélia, a mulher de verdade, têm dito. Mas os pais de hoje são mais como Ben George, professor e editor da coleção de ensaios The Book of Dads (O Livro dos Pais). Por três anos ele passou em casa dois dias por semana com sua filha pequena.

Quando ela tinha entre 3 meses e 3 anos. Mas acabou sentindo necessidade de fazer algo de sua vida fora de casa. “Quando estava em casa com minha filha, realmente apreciei testemunhar parte de todas as mudanças em sua vida”, diz ele. “Mas, ao mesmo tempo, sabia que eu não era só um pai. Ser pai não me define totalmente.”

Alguns pais sentem falta da satisfação de poder trazer o cheque pra casa. O professor Steve Kabacj costumava ficar em casa com seus filhos quando eles tinham 3 e 6 anos, mas o arranjo começou a lhe fazer mal. “Adorava sair com as crianças”, lembra. “Mas eu tinha acabado de completar 40 anos, e sem nada acontecendo na minha carreira, praticamente entrei em depressão depois de um tempo. Não contribuir em nada para as finanças da nossa família era desconfortável para mim. Penso naquele tempo com carinho, mas também me lembro que eu era deprimido demais.”

Muitos pais continuam a trabalhar muito mais horas do que gostariam, infelizmente. “Tanto homens quanto mulheres prefeririam trabalhar menos. Quando perguntamos se abririam mão da renda a mais para ter tempo com a família, a maioria disse que sim”, conta o dr. Gerson. “O problema é que eles temem que, se diminuírem o ritmo, serão malvistos pelo chefe”.

A coisa ainda é tão feia que esse pai não quis nem se identificar. Pai de uma menina de 5 anos de idade e de um menino de 2 anos, ele trabalha com finanças em Nova York, em um trabalho que exige que ele saia de casa 7h30 da manhã e não volte até meia-noite ou 1h, na maioria dos dias. Ele calcula que trabalha de 80 a 100 horas por semana, em média, e diz que, entre isso e as viagens de negócios, quase não participa dos cuidados diários de seus filhos. Toma café da manhã com seus pequenos e o resto é um “talvez”. “O único momento real em que posso ajudar é nos finais de semana, e que muitas vezes é interrompido pelo trabalho. Seria bom levar meus filhos para a escola e estar mais envolvido”, afirma ele. “Só estar em casa para jantar durante a semana já seria ótimo.” Quando ele pensa sobre pais que podem, por exemplo, levar seus filhos para uma consulta médica durante o dia, diz que fica feliz por eles. Mas nem sequer imagina como sejam suas vidas.

Pais Modernos, expectativas antigas

“Acho que este é um novo dilema”, diz Coontz. “Em todas as histórias que escutei ao longo dos anos, nunca ouvi os homens de gerações mais velhas relatarem o tipo de conflito que hoje os homens vivem, com dúvidas sobre suas escolhas”.

Com tantas expectativas conflitantes sobre a paternidade e o trabalho, eles sempre se voltam para o dilema no cuidado da criança.

Espera-se que os pais façam mais em casa, estejam mais envolvidos com seus filhos e ainda ganhem a vida – tudo isso em uma sociedade em que os cuidados com a criança são frequentemente assunto delicado. “Vivemos uma era sem precedentes, em que o desejo de compartilhar e o igualitarismo são altos. Mas se os casais estão tão divididos entre o trabalho e o cuidado com as crianças, isso cria uma tensão. Seria bom para nós se pudéssemos ver isso não como um problema de casal, mas como um problema social.

Precisamos dar mais espaço para mães e pais na sociedade.” Alterar uma realidade desse tipo leva tempo, é claro. Até então, os pais, como mães, terão de se acostumar com esse dilema. Não vou mentir – seria ótimo acordar cada manhã em um mundo onde as pessoas agem como adultos, o pagamento é bom e meu trabalho me dá status. Mas a vida como ela é tem suas vantagens. Ontem, entre as atribuições da escrita, tive de segurar a mão da minha filha e falar sobre os ursos polares, enquanto o médico lhe dava uma injeção. Então, eu a abracei enquanto ela chorava. Longa vida ao novo pai.


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