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Quem ensina o quê?

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Publicado em 07/02/2012, às 08h00 por Redação Pais&Filhos


Escolas ensinam, pais educam. Parece simples, mas não é tanto. Afinal, hoje as crianças passam a maior parte do tempo na escola – e os pais, trabalhando. Mas isso não justifica a delegação de tarefas. O ideal é manter o diálogo e cada um fazer a sua parte, seguindo os mesmos valores.

por Luciana Alvarez, mãe de Marcelo

Acho que vou tirar meu filho dessa escola. Ele anda dormindo muito tarde, diz uma mãe, em plena reunião de pais do colégio. A outra, minutos depois, conta sua própria experiência: “Meu filho só quer comer porcarias e não aceita nenhuma verdura. O que eu faço?”. A reunião é imaginária, mas todo mundo já viu questões como estas surgirem nas conversas de pais com professores. Aí, a gente para e pensa: afinal, o que a escola tem a ver com isso? Controlar o horário em que o filho dorme ou como ele deve se alimentar não é papel dos pais?

Algum tempo atrás, a escola era responsável por passar os conteúdos de matemática, português, ciências, história etc. As famílias educavam para os valores e ainda ensinavam os fazeres básicos, como escovar dentes e amarrar cadarços. Nenhum dos lados interferia no trabalho do outro… Mas hoje, pais completamente sem tempo “terceirizam” atribuições que antes eram sua responsabilidade: exigem que os colégios deem alimentação saudável, passem conceitos de higiene, promovam passeios, diversão, consciência social.
As escolas, por sua vez, agora pedem que os pais acompanhem os deveres escolares e tomem alguma atitude se o rendimento do filho estiver abaixo do esperado. Qualquer problema, vão logo indicando para professores particulares, psicólogos, psicopedagogos, não é? Por causa disso, a família sente que deve saber mais – e opinar, é claro – sobre o quê e como a escola está ensinando.  

Problema sem resposta

A falta de uma fronteira clara, definindo qual é o papel de cada um, acaba transformando a educação das crianças em uma “batata quente”, diz Daniela Rogatis, mãe de Nick, Joey e Marie, consultora de família da Companhia de Educação. “A escola foi assumindo responsabilidades além das tradicionais, porque a família não estava dando conta delas. Há muitos anos, quando a escola começou a ensinar a escovar os dentes, teve início a confusão”, afirma.

Daniela explica que, num passado recente, as crianças dividiam seu tempo entre escola, rua, clube e casa da avó; mas, atualmente, passam mais e mais horas dentro de um único ambiente, o escolar. “Por isso, essa instituição precisa ter uma postura mais firme sobre valores”, afirma. O problema de os pais jogarem tudo no colo dos professores sempre aparece, nem que seja tarde demais: “Quando o filho tem 15 anos, os pais se perguntam onde foi que ele aprendeu aquele comportamento. Às vezes, veio lá do ensino infantil”, completa Daniela.

Outra razão do ruído entre família e escola, segundo Quézia Bombonatto, mãe de Rodrigo e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, é que os pais não querem para seus filhos o modelo de educação que receberam, pois o consideram repressor. Só que não há outro referencial. “Estamos numa fase crítica, de construção de um novo modelo educacional. Além disso, temos também novos modelos de família: crianças com guarda compartilhada, criadas por avós, por pais solteiros ou pais do mesmo sexo. A escola também não sabe com que família está falando.”

Valores em sala de aula

Independentemente de qualquer mudança na vida das famílias, a escola mantém, como sua função principal, promover a aprendizagem dos estudantes. A diferença é que, hoje, o aluno é visto de forma ampla, para além do aspecto intelectual.

“A escola tem o dever de formar, ajudar a preparar as pessoas para sua existência social. Isso é muito mais que instruir”, afirma Silvio Barini Pinto, diretor do Colégio São Domingos e padrasto de Julia. E, para cumprir tal missão, a escola necessita de valores e princípios, garante: “Mesmo que não explicitem, as escolas transmitem princípios. Na busca da ordem, as escolas com regras e princípios obscuros têm mais problemas com indisciplina. Quanto mais claros forem os princípios, mais chances de praticar uma formação coerente”.

Por ser um ambiente em que a criança deixa a privacidade do lar para fazer parte de um grupo, a escola é mesmo um espaço ótimo para trabalhar a socialização: convivência em grupo, respeito às diferenças, cidadania, obediência a autoridades. “Na escola, a criança vive no coletivo. Muitas vezes, chega aqui com fralda, chupeta, mas vai deixando por observar o colega”, exemplifica Rosa Costa, diretora do colégio Augusto Laranja, mãe de Bruno e Fábio. “Temos a preocupação de educar um cidadão íntegro, responsável. Hoje, o professor precisa ser um educador”, completa.

Participação 

Se as escolas estão se preparando para assumir cada vez mais funções na educação das crianças, então os pais podem relaxar, certo? Claro que não. Na verdade, os pais querem, sim, participar, mesmo que não estejam tão presentes quanto os pais de antigamente – e ainda que muitas vezes não saibam exatamente como devem apoiar a vida escolar do filho. Assim, a escola que consegue trazer os pais para perto sem cobranças tem um diferencial.

A psicóloga Magnolia Lima de Souza Santos  adora ir às reuniões de pais da escola da filha, Clarissa, de 7 anos. “Na pré-escola, ela estava em um colégio considerado bom, desses tradicionais, mas as reuniões de pais eram muito rasas", conta.

Já na escola em que Clarissa estuda hoje, a professora coloca os pais em roda, faz atividades práticas para mostrar o que as crianças estão aprendendo. “Além disso, eles agendam reuniões individuais com pais a cada semestre, para a gente acompanhar como ela está se desenvolvendo em todos os aspectos, não só na aprendizagem em si”, explica Magnolia.

A necessidade de dar atenção para o aluno de forma ampla, e ao mesmo tempo colocar os pais a par de tudo, fez com que alguns colégios criassem serviços de tutorias, como existe no São Domingos e no Catamarã. “Os pais vêm ao colégio a cada três meses. Conversamos sobre as crianças como seres completos, o que inclui vários aspectos, entre eles o físico, o acadêmico, o afetivo/social”, relata a coordenadora da educação infantil do colégio Catamarã, Luciana Sigaud Sellos, mãe de Pedro, Paulo e Ana Luísa.

Parceria

Com os pais desejando participar, e as escolas prontas para ir além da instrução, o caminho para o fim da confusão passa, obrigatoriamente, pelo diálogo. “Não se trata de dizer que cada um tem papel fixo e que o descumprimento de algum desses papéis alivia a outra parte de cumprir o seu também”, afirma Barini Pinto, do São Domingos. Segundo ele, o ideal é a definição conjunta de estratégias e avaliação constante do funcionamento delas.

Família e escola devem, portanto, trabalhar em parceria para dar uma educação completa e coerente às crianças. “A escola precisa dar respaldo para os valores que os pais ensinam e vice-versa. As crianças precisam de uma parceria entre as duas partes para aprender”, afirma Quézia. “A escola pode trabalhar a ética e a cidadania, mas se valores como disciplina, limites e pontualidade não vierem de casa, não é na escola que elas vão aprender”, completa.

Ou seja, se em casa os pais são desorganizados, não adianta matricular em uma escola que valorize a ordem – o que só vai criar confusão na cabeça dos pequenos. “Por isso, os pais precisam escolher uma escola que compartilha dos mesmos ideais e valores de vida”, aconselha Rosa, do Augusto Laranja.  

Daniela, da Cia de Educação, dá ainda outro conselho aos pais: além de cobrar, ouçam a escola. “O ambiente escolar é uma oportunidade para verificar se os valores de casa estão funcionando na vida em sociedade do filho. Se há algum problema, ele não é do filho, mas de todos da família. Então, é preciso avaliar se a escola é a certa e se a educação que você dá está correta”, diz. Não existe escola ideal nem pais perfeitos, mas, fazendo um esforço em conjunto, dá pra passar de ano.

Para saber mais

Escola sem conflito: parceira com os pais, de Tania Zagury
A autora mostra que, depois de dois séculos de lua-de-mel, escolas e pais hoje vivem em conflito. Além de apontar as causas do atual estranhamento, indica alguns caminhos para o retorno da tão necessária confiança mútua.
Ed. Record (record.com.br), R$29,90

Afetividade e limites: uma parceria entre família e escola, de Edileide Castro
Com texto reflexivo e propostas práticas, a autora mostra caminhos para se construir uma educação com limites e afetividade. O livro desafia pais e professores a avaliarem seus relacionamentos.
Wak Editora (wakeditora.com.br), R$25

Educação na família e na escola, de Jaume Sarramona Lopez
O livro aborda, de modo simples e preciso, questões que inquietam a maioria dos pais, como que escola escolher, qual deve ser a relação com a escola e a melhor forma de participar da vida escolar do filho.
Ed. Loyola (loyola.com.br), R$15

Pais & Educadores – quem tem tempo de educar?,  de Isabel Parolin
Adultos apressados  fazem pelas crianças o que elas deveriam aprender, depois, reclamam da falta de independência delas, diz a autora. O livro dá dicas de como aproveitar o tempo da melhor forma possível.
Ed. Mediação (editoramediacao.com.br), R$34

Consultoria: Daniela Rogatis, mãe de Nick, Joey e Marie, consultora da Companhia de Educação. Tel.: (11) 2244-4490. Luciana Sigaud Sellos, mãe de Pedro, Paulo e Ana Luísa, coordenadora da educação infantil do colégio Catamarã. Rosa Costa, mãe de Bruno e Fábio, diretora do colégio Augusto Laranja. Silvio Barini Pinto, padrasto de Julia, diretor do Colégio São Domingos. Quézia Bombonatto, mãe de Rodrigo, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, abpp.com.br


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