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O fenômeno

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Publicado em 14/10/2014, às 10h29 - Atualizado em 17/06/2015, às 11h41 por Redação Pais&Filhos


Com uma infância cheia de molecagem que mais parece tirada de um filme antigo, André Sturm, pai de Barbara e porto-alegrense, cresceu no meio de livros, jogos de futebol e sessões intermináveis de cinema. Mudou-se para a capital paulista ainda criança e costumava passar férias no Guarujá, litoral de São Paulo. Infância saudável, como criança deve ter. E infância com família presente, que cuida e educa. “Minha mãe sempre me incentivou a consumir arte e a ler, desde muito cedo. As minhas primeiras memórias são dela contando histórias. Mas não era história de Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho, era a história de Napoleão, dos Reis da França e do Titanic. Isso quando eu tinha 3 anos de idade”, conta, e enfatiza que ela foi a primeira pessoa a incentivar (e muitas vezes, insistir) que ele lesse. “Eu achava chato ler, isso com 5 anos. Mas depois ela me apresentou alguns livros que despertaram o meu gosto pela leitura.”

Depois de conhecer os livros do personagem Piabinha (André não lembra o nome do livro), um peixinho detetive que morava no fundo do mar, e a autora Agatha Christie, André pegou gosto e não parou mais. Mas foi durante as férias na praia que ele se encantou pelos filmes (sua outra paixão). O curador conta que sempre frequentava o Cine Praiano, no Guarujá, onde assistia, pelo menos, três sessões por semana. “Nessa época, eu já era obsessivo e sentava no mesmo lugar. Um dia senti uma mão pesada no meu ombro me chamando. Era o Bolha, o porteiro do cinema que veio dar um recado da minha mãe. Não era difícil me encontrar. Eu era um menino magrelo que sempre ia ver filmes”, diz.

Com tantos estímulos e histórias para contar, é quase que inevitável o eu em sua vida. André criou em 1989 a Pandora Filmes, uma distribuidora de filmes. Entre 2004 e 2011 foi programador e responsável pelo Cine Belas Artes em São Paulo, e no mesmo ano assumiu o museu. É notável que sua gestão colocou tudo pra tremer e trouxe um frescor que há tempos não se via em muitas instituições culturais pela cidade. As exposições têm sido um sucesso constante, e as filas dobram as ruas. Durante a entrevista, André contou peculiaridades, como o transporte do acervo impossível do chinês Ai Weiwei. Fala também do boom de bilheteria e, claro, da atual exposição do Castelo Rá-Tim-Bum.

O que mudou no mis depois que você assumiu?

AS: Ele entrou na rota cultural das pessoas. A gente consegue perceber (por pesquisa e pelos comentários), que as pessoas vão ao museu não só pela exposição, mas pelo próprio espaço. Claro que uma exposição como a do Castelo Rá-Tim-Bum atrai, um número maior de visitantes. Não tem como negar. Além das exposições, as pessoas procuram o MIS pela programação voltada ao cinema, música e atividades infantis. O local virou uma opção de passeio bacana dentro da cidade de São Paulo.

Tem alguma faixa etária mais assídua às exposições?

AS: É sempre uma mistura de gerações. Tem vários programas que, literalmente, alcançam o público de 2 a 80 anos. Esse é um dos diferenciais do museu. A gente vê muito avô trazendo os netos ou famílias inteiras para ver um único evento.  Mas na maioria das vezes são pais e filhos (como diz a revista) que frequentam mais o MIS. Já no caso do Castelo, o público, em sua maioria, são as famílias. Pais que assistiram o seriado quando mais novos e agora estão trazendo seus filhos para conhecer todo universo mágico do Castelo Rá-Tim-Bum.

Foi intencional a ideia de integrar crianças às exposições? Como aconteceu?

AS: Quando a exposição do David Bowie estava engatilhada, pensamos em um monte de atividades que poderiam complementar. Assim surgiu a sessão de filmes do cantor, o Estéreo MIS do Bowie, o Green Sunset Bowie e o Cinematographo. Daí surgiu a ideia de fazer um evento para o público infantil com uma temática da exposição em cartaz. Mas como fazer isso com um artista como David Bowie? Uma figura tão andrógena! Foi quando caiu a ficha, e nós resolvemos pintar o raio no rosto das crianças. Além de ser uma caracterização emblemática do cantor, toda criança adora pintar o rosto. Elas adoraram, e teve muito adulto que quis pintar também.

Como você monta a  programação infantil do museu?

AS: Acho que é o único espaço em São Paulo com uma programação voltada ao público infantil. A Maratona Infantil dura um dia inteiro e acontece uma vez por mês, aos domingos.  Quando o projeto foi idealizado, pensamos que não poderia ter apenas um teatrinho. Tinha que ser completo: teatro, show, palhaços, circo, oficina, tudo que envolvesse as diversas áreas da cultura e o MIS. Todas as atividades são focadas nas crianças. Queremos que essas crianças cresçam achando que ir ao museu é algo bacana e interessante. Desmistificar o pensamento de que museu é algo chato e que só tem “coisa de museu”. Essa percepção ainda é muito forte nas gerações anteriores. E esse público inserido aos espaços acaba trazendo os pais para cá também.

E como vocês direcionam as escolhas das exposições?

AS: É um processo supercriativo e nada burocrático (como se imagina). Funciona de duas maneiras: eu fico sabendo que está acontecendo algo interessante, como foi com a exposição do Bowie, e vou atrás. Ou fico pensando que preciso fazer algo de diferente! Daí começa o processo de busca. Caso não tenha nada de novo, montamos uma exposição do zero, como aconteceu no Castelo Rá-Tim-Bum. A exposição do Castelo foi idealizada e construída por nós. Nunca tinha acontecido isso no MIS. Foi a primeira vez.

E trazer o chinês Ai WeiWei, foi difícil?

AS: Logo que entrei no MIS, fui a Paris na Galeira Jeu de Paume para negociar uma exposição de Andre Kertesz, um fotógrafo influente em seu ramo. No meio da conversa, vi que eles iam abrir uma exposição do Ai Weiwei e na mesma hora pensei que tinha que trazer para São Paulo. Os diretores da galeria me disseram que pertencia a um museu em Winterthur, na Suíça. Não pensei duas vezes e pedi o contato do responsável pelo acervo. Mandei alguns e-mails para os diretores, que me responderam que iriam pensar no caso. Eles estavam me enrolando, claro! Já que tinha que resolver um problema na Europa, comprei uma passagem para a Suíça e fui atrás. Durante três dias fiquei puxando o saco dos diretores, até que eles perceberam que eu não iria desistir tão fácil. Depois de muita insistência, eles toparam. Quando tudo estava certo, descobri que o acervo só tinha sido exposto em quatro lugares do mundo. Eles eram muito exigentes. Mas valeu a pena insistir e trazer a exposição para o museu!

E a exposição que você mais gostou?  

AS: Eu podia dar aquela resposta bem clichê: a próxima. Mas eu gosto muito do Castelo, por ser a última, e a do Kubrick. Nem vou comentar a do Bowie, porque, pra mim, ele é um supermegapopstar. Eu chorei quando chegou a exposição, vi várias vezes. Já quando fui ver a exposição do Kubrick, pela primeira vez, em Los Angeles, só tinha vitrines e coisas penduradas na parede. Para um cinéfilo era incrível, mas para um curador de museu era muito pouco. Nessa exposição, a gente queria criar algo que tivesse sintonia com o universo dos filmes do diretor. Suspense, clima tenso e sombrio. Tinha que provocar essa sensação nos espectadores. Foi com essa ideia que construímos os ambientes de acordo com as cenas dos filmes. A exposição foi ótima. Nem todo mundo conheceu o Kubrick. As pessoas saíram do museu querendo ver todos os filmes e conhecer mais sobre o diretor. A exposição cumpriu o seu papel.

O Brasil é um polo artístico bom para se expor?

AS: Hoje, sim. Tem uma questão fundamental que é o dinheiro. O Brasil é um país que tem recurso financeiro e ao mesmo tempo a Europa está muito mal. E tudo isso converge a nosso favor. Se, há 20 anos, me dissessem que o museu de D’Orsay emprestaria as obras impressionistas para o Brasil, eu daria risada. Eu aposto que antes os curadores brasileiros tentavam negociar exposições e eles nem atendiam. Agora somos públicoalvo para receber coleções internacionais. Claro que, além do setor financeiro, temos qualificações técnicas.

Os favoritos do André:

1. Cine Belas Arte (claro!)

2. Pinacoteca do Estado: Acervo incrível e a arquitetura do prédio é fantástica

3. Instituto Tomie Ohtake: Programação de qualidade

4. Masp: Está no coração da cidade, na Avenida Paulista, e tem um acervo inacreditável


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