Criança

O tal TDAH

Imagem O tal TDAH

Publicado em 04/12/2014, às 16h01 - Atualizado em 07/12/2020, às 09h04 por Redação Pais&Filhos


A sigla se refere ao Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, doença que praticamente virou moda com o excesso de diagnósticos positivos entre as crianças brasileiras. Pergunta: será que estamos vivendo uma epidemia de crianças com o problema ou é o sistema que não sabe lidar com o comportamento delas e devolve a questão aos pais como se não tivesse nada com isso? A questão é delicada, assim como o diagnóstico. Afinal, quais são os limites entre uma infância saudável e  uma disfunção neurobiológica?

Sabe aquela criança que tem dificuldade de prestar atenção na aula, passa muito tempo sonhando acordada e se distrai facilmente? Poderia ser qualquer uma, não é mesmo? Porque isso tudo faz parte da infância e a gente está acostumada a lidar com os comportamentos sem se preocupar se eles são saudáveis ou não. Criança é assim. Aliás, a infância é assim: distraída, descompromissada, feliz, sonhadora, imaginária, fugaz e dispersa. Não fossem essas características, ela seria chata, monótona e nunca sairia do trilho. Ou seja, quando a sociedade pede que as pessoas sigam um padrão e executem funções com eficiência e rapidez, nós enfrentamos um problema sério dentro das escolas brasileiras que é o diagnóstico disparado de crianças com TDAH. Cabe aqui uma questão a se pensar: estamos nós, sociedade, empurrando para debaixo do tapete um sistema educacional antigo que não capacita profissionais para lidar com a criança da geração digital que tem o foco dividido e, portanto, uma menor concentração num único assunto? Ou estamos jogando na medicina a causa e a cura das famílias ausentes que suprem a falta disso e daquilo com consumo e deixam de dar atenção e carinho a seus filhos? Dois pontos extremos que geram comportamentos fora da caixinha com os quais não sabemos lidar e diagnosticamos como TDAH. Depois medicamos para deixar essas crianças quietas, mudas e domáveis. Elas passam a fazer aquilo que queremos, do jeito que nós achamos que deveria ser. Quase manipulado.

É claro que há um contraponto e que existe, sim, a doença. O questionamento não é esse. É em cima do alarmante número de diagnósticos que temos no Brasil e a forma com que estamos lidando com ele. Esse é o ponto. E entender a doença, as causas, os sintomas e como lidar com o problema é o primeiro passo para a compreensão. Para muitas famílias, essa é a hora de procurar um especialista. É ele que vai avaliar se os comportamentos do seu filho podem ser sintomas do TDAH ou não. Mas muita calma nessa hora! O diagnóstico não é nada simples e deve ser feito com todo o cuidado.

O TDAH é uma disfunção neurobiológica de causas genéticas que leva a sintomas como desatenção, inquietude, hiperatividade e impulsividade. O transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) se manifesta por volta dos 6 anos de idade e, de acordo com a Anvisa, é um dos problemas neurológicos de comportamento mais comuns da infância, atingindo de 8% a 12% de crianças no mundo.

O seu diagnóstico é superimportante e deve ser feito por um psiquiatra, mas, para chegar até a consulta, é preciso que os pais fiquem atentos ao comportamento dos filhos. “Normalmente, os pais começam a notar o problema durante a idade escolar, pois é nesse momento que a criança vai ter a chamada disfunção de performance. Mas há um erro grave em achar que o transtorno é relativo apenas aos estudos. É preciso se preocupar com a vida como um todo, inclusive com as relações sociais e familiares”, explica o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), dr. Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra e pai de Ana Luiza. Ele aborda ainda a questão do preconceito em relação ao TDAH. “Os pacientes que têm o transtorno sofrem porque muita gente ainda acha que isso não existe, que é uma doença inventada por preguiçosos, enquanto, na verdade, eles realmente precisam de tratamento.”

No tête-à-tête

Ir ao médico, agendar um exame, pegar os resultados e pronto – basta levar de volta ao consultório e o diagnóstico será certeiro. Se para tantos outros casos isso é rotina, para o TDAH não funciona. Isso porque nenhum exame laboratorial é capaz de prever esse tipo de problema. É tudo na base da conversa. “Você senta com o paciente, escuta a queixa e vê se ele se encaixa nos sintomas. É tudo baseado na anamnese, nome que se dá à entrevista feita pelo médico”, explica o neuropsiquiatra dr. Paulo Breinis, pai de Jessica, Giovanna e Dave. Talvez por essa falta de um exame mais concreto, diagnósticos equivocados acontecem. “O que leva ao erro é a consulta malfeita e a pressa na conversa. Existem critérios estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria para avaliar se o paciente tem TDAH e é preciso ser rígido quanto a eles, mas, infelizmente, nem todos os médicos são”, diz o dr. Paulo, que cita um caso para exemplificar um diagnóstico errado: “Uma criança que se comportava normalmente e que mudou, ficando mais inquieta ou desatenta após o divórcio dos pais, provavelmente não tem o transtorno e passa apenas por uma fase que precisa ser isolada no diagnóstico”.

A droga da obediência

Uma vez diagnosticada com TDAH, o tratamento da criança provavelmente vai precisar de um remédio sobre o qual você já deve ter ouvido falar: a Ritalina. O medicamento feito à base de metilfenidato é um psicoestimulante que promove um aumento da atenção e do controle de impulsos. Uma tentação para pais de crianças mais levadas, não? Aí está o problema. A Ritalina está tão na moda que não é difícil encontrar pais que vão de médico em médico procurando um psiquiatra que finalmente diagnostique seu filho e receite o remédio para mantê-lo calmo. Isso é imprudente e, muitas vezes, basta dar uma atenção especial ao contexto familiar para entender o comportamento da criança.

De acordo com a pesquisa feita pela psicóloga Denise Barros, filha de Imaculada Lucia e José Maria, em sua tese de doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), houve um aumento de 775% no consumo da droga entre os anos de 2003 e 2012, no Brasil. Porém, é importante destacar que esses números não são relativos apenas a crianças (já que adultos têm TDAH e precisam ser tratados), mas também a pessoas que consomem o remédio de forma indevida, como é o caso de vestibulandos e concurseiros. “Toda a minha pesquisa foi feita com adultos e, mesmo que consumam Ritalina, não querem falar sobre o assunto.

A verdade é que não tem nenhum estudo no Brasil sobre o seu uso para aprimoramento cognitivo, mas ele é muito comum”, conta Denise, que explica que esses estudantes tomam Ritalina para conseguir se concentrar mais nos estudos. Mas é bom lembrar que a sua venda é controlada por receita especial. “Esses usuários contam que tiveram muita dificuldade para conseguir a receita. Então, a gente não pode generalizar dizendo que todos os profissionais medicam em excesso”, diz a psicóloga.

É preciso ter cuidado

Apesar de todos os critérios considerados para o diagnóstico, erros acontecem. Seja pela conversa apressada ou pela superficialidade da consulta, há psiquiatras que prescrevem o medicamento baseados apenas em uma entrevista rápida. “A avaliação acaba sendo muito subjetiva. O ideal é que se leve em conta todo o contexto em que a criança vive, escutando os pais e a escola”, afirma o psiquiatra de crianças e adolescentes e pai do Arthur, dr. Rossano Lima. “Antes de imaginar que a criança tem o transtorno, é preciso investigar se o comportamento dela tem alguma relação com o ambiente em que vive, com o método pedagógico do colégio ou com alguma situação familiar em que está inserida. São comportamentos antes de serem sintomas. O problema é que esse raciocínio se inverteu”, explica o médico.

Por fim, nunca é demais lembrar que só o remédio não resolve o problema. “O medicamento nunca dá conta de todas as questões e, muitas vezes, os pais ficam na expectativa de que ele vai resolver tudo. Além disso, quando se suspende o uso do remédio é provável que a criança volte à estaca zero”, diz dr. Rossano. Portanto, é essencial que o tratamento de TDAH vá além dos balcões de farmácia e abranja outras áreas, como a psicoterapia, a psicologia, a fonoaudiologia e outras. A atenção dos pais também é imprescindível, claro, sempre com muito carinho e amor.


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Saúde

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