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Eu fico triste

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Publicado em 01/04/2015, às 21h00 por Ana Guedes


Trabalhando em hospitais, maternidades e pediatrias, lendo e estudando, aprendi que “tudo passa para os bebês, dentro e fora da barriga e depois quando se desenvolvem”. 
Repetia o bordão como uma sumidade.

Até engravidar.
Pensava eu, quieta no quartinho: não posso chorar, não posso ter raiva, não posso me cansar, muito menos ter medo. “Tudo passa para o bebê”.

Santa é importante.

O Pedro nasceu. 2,700kg, icterícia nada moderada. CTI. Corte na barriga, mama de duas em duas horas. Sozinha no quarto.

-Enfermeira, cuida dele um pouquinho? Vou ali fora no banheiro chorar. É que… Bobagem. Estamos na CTI, lugar mais seguro do mundo, mas se eu chorar na frente dele, ele pode sentir, sabe…

Sim. A gente sabe. Tudo passa pro bebê.

Pedro saiu da CTI. 3,500kg. Um touro. 
É que eu sorria muito, chorava no banheiro e me vestia de mulher maravilha de manhã. Viu? Ficou bom!

Fomos pra casa. Fim da culpa!

Como todo bebê mama de duas em duas horas, tinha dificuldade de dormir (Viu? Falei! Foi o choro da CTI!). 

Na manhã seguinte, saíamos cedinho. Casa da avó, consultório, atravessa a rua, mama, fralda, nana, atravessa a rua, consultório, volta, cólica. Eu e minha capa azul anil!

Desta vez, não foi o que pensei. Foi o bauru ao meio-dia!

Intervalo: stress, sono, fome, vontade de chorar. Medo de ir pra casa. As cólicas começavam às dez. 
(Quem mandou ter medo? Viu? Cólica!)

Mas o pior estava por vir. A separação.

Agora estrago a vida deste guri de vez!

Logo eu, que estudei durante 10 anos que sentimento de culpa é delírio de grandeza! Que o mundo e o Pedro não giram ao meu redor. Não? 

Que decepção! Caiu a capa.

Aos dois anos e meio dele, tive alta de meus medos e de minha formação acadêmica: sozinhos em casa, deitados na cama, o bicho papão pergunta:

– Mãe. Tu e o pai… Por que vocês não namoram mais?
– Bom, Pedro, a gente se gosta como amigo, mas não pra namorar mais, sabe, aí tem que gostar muito mais! É um gostar diferente…
-Mas mãe, por que ele foi embora? Vocês brigaram pra sempre? 

(Paraaaa! Eu pensava!)

– Não, Pedro. A gente sentou, conversou, e os dois acharam melhor assim, ser amigos e cada um ter a sua casinha. Mas tu, querido, não tens culpa de nada. Isso é só meu e do papai. 
Eu, quase uma iogue de tão calma.

(Vai que! Penso eu. Se tudo passa pra ele, imagina a conta do analista!)

-Mãe… Ninguém tem as culpas de nada. Quer chorar, mãe? Não tem poblema. Eu também quéio.
Posso? 
-Pode. Pra sempre.

Tivemos alta os dois, na mesma sessão. E hoje o choro é livre, a tristeza saiu do banheiro e virou coisa de gente.

E esconder, aqui em casa, só pra brincar de esconde-esconde!

Tudo pode, pra sempre. Se for verdade, não mata. Fortalece.


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