Publicado em 17/12/2013, às 22h00 por Ligia Pacheco
Muitos pais devem achar que estão distantes deste dia. Eu também achava. Ontem minha barriga crescia, deliciosamente eu amamentava, observava o engatinhar, os primeiros dentinhos, os primeiros passos, o primeiro machucado, as primeiras palavras, a primeira grande descoberta. A primeira dormida fora de casa, o primeiro dia de aula, a primeira briga com a melhor amiga, o primeiro beijo, a primeira balada.
Ainda ontem eu levava e buscava na escola, ensinava a estudar e a aprender, falava do certo e do errado, de responsabilidade e autonomia. Brincava, dançava, cantava, ria e chorava com elas. Exatamente ontem, eu as protegia com minhas asas, contava e ouvia as histórias, olhava-as alegremente rodando no carrossel, descendo na montanha-russa, lia para dormirem. Logo ali, ontem, fazíamos biscoitos, assistíamos desenho animado, ríamos do palhaço, vibrávamos no zoológico, aprendíamos com as mais diversas viagens. Ontem construíamos castelos de areia, contávamos as ondas do mar e as estrelas. Ontem… ontem… E enquanto íamos nos constituindo como seres, o tempo correu num piscar de olhos.
Naquele tempo cuidamos para que desenvolvessem e fortalecessem as asas e as raízes nas mais diversas facetas do ser. E assim fizeram, bem aproveitaram e foram aos poucos ensaiando seus primeiros voos, que num instante foram ficando mais distantes e mais altos, o que lhes proporcionaram ver a realidade e a si próprias de forma mais ampla e complexa. Com isso, os sonhos e os voos ganharam novas dimensões. E, rapidamente, tão novas e tão maduras estão a voar por este mundo cheio de desafios e perigos. Haja coração e estômago! Traço um antiácido!
A primeira reação que tive foi querer protegê-las para sempre. Mas, que egoísmo seria e que vida sem graça lhes proporcionaria! A segunda foi-me bem clara. Dizia: “Voe, voe.” E, sem perceber, pisava na ponta de suas asas. A terceira foi acreditar que não estavam prontas. Até que olhei para mim e vi que ainda não estou. A quarta foi olhar a casa silenciosa,os quartos e armários vazios com os cabides a balançar ao vento. Que sensação dolorosa! A quinta foi novamente olhar pra mim: “E agora?” Sim, chegou o ninho vazio. Não é nada fácil. Missão comprida e cumprida? Claro que não. Ainda são adolescentes. Mas ganham, a cada dia, oportunidades para se fortalecerem, protegerem, decidirem e assumirem por si só a própria vida. Mas não é muito cedo? Nunca saberei, mas uma tranquilidade tenho: confio na educação dada e bem aproveitei cada momento vivido com elas. Hoje estudam e moram longe de nós. Viva a tecnologia para matar as saudades e fazer os ajustes educacionais necessários. Viva os nossos reencontros! Viva o amor construído, a confiança, nossas memórias vivas. Viva a felicidade de ser mãe e a coragem de deixar voar. Viva as lágrimas! Viva viver cada tempo como se fosse único. Viva viver! Amanhã você verá os seus filhos voando. Aproveite ao máximo o hoje, lembrando que o passado e o futuro se constroem no aqui e agora. Fortaleça seus filhos, prepare-se para os seus voos e aprenda desde cedo a encantar-se com eles. Piscou, chegou.
Desejo a todos um Natal iluminado, um 2014 esplêndido e repleto de esperança. Esperança que não se encontra no amanhã, mas neste exato instante. Até o ano que vem!
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