Publicado em 13/11/2015, às 13h31 - Atualizado às 13h32 por Ligia Pacheco
Ser autônomo é ser capaz de fazer por si, e acrescento, com responsabilidade. Há muitas autonomias para uma criança conquistar e só há um jeito: deixarmos ela viver a experiência da autonomia, passo a passo, para ser bem construída. Isto vale para a conquista de tomar banho, arrumar a mochila, comer e se vestir sozinho. De saber ser, aprender, pesquisar, fazer tarefas, escolher, tomar decisões, organizar, conviver, cozinhar, lavar, passar, andar, viajar, dirigir.
Tantas são as autonomias necessárias até estar pronto para saber cuidar de si! Mas é fácil notar que o progresso do processo se dá passo a passo. Querer que um filho ganhe várias autonomias as vésperas da viagem de intercâmbio é loucura. Melhor começar de pequeno com passos progressivos e ciente de que cada nova conquista da criança é também dos pais com novos desafios, adaptações, seguranças, sabores e passos. Vejamos na história ilustrativa.
A mãe contava-me que fazia malabarismos para conseguir levar e buscar o filho na escola, mas que valia muito a pena. Aproveitavam para conversar sobre as aprendizagens, os fatos, as boas e más emoções e sentimentos. Trocavam histórias, falavam da vida, dos amigos, ajustavam comportamentos. Era um momento deles e importante para a construção da identidade e personalidade do menino e da relação afetiva entre eles.
Aos 4 anos, num dos dias em que ela estacionava e o levava até a mão da professora, o filho a pediu que o deixasse no portão e que não precisava mais entrar na escola. As mães sempre se abalam com um pedido deste! Mas ela percebeu o que estava por trás: o filho queria crescer e ganhar autonomia. Mostrava-se seguro e pertencente à sua escola, um lugar seu. Este papel da mãe de inserir o filho ao novo meio foi preciso, mas parecia cumprido. Então propos: “Eu entro com você no primeiro portão e a partir do segundo você entra sozinho.” Conversou com a professora, que aprovou a medida e se fez parceira. E começaram a viver a novidade, embora a mãe ficasse com o coração pequeno e apertado.
Para quem degusta cada fase, dá mesmo um friozinho na barriga e aperto no peito despedir-se dela. Mas nem dá tempo de curtir a fossa. Poucos meses depois, o filho queria entrar sozinho desde o primeiro portão. E lá foram ambos dando continuidade à construção da autonomia. O filho entrava e a mãe contorcia-se toda pelo portão e espichava os olhos até não poder mais vê-lo. Mas não tardou para o garoto pedí-la para não descer mais do carro (Observem… é passo a passo!).
Agora aos 6, a mãe o deixa no portão. Mas, buzina e faz sinal de positivo até que todos percebam a presença do menino. Bem mãe mesmo. Como somos parecidas! Mas agora ele quer ficar na esquina. Desta vez a mãe negou. É preciso outras autonomias para estar pronto a este desafio. E o filho arriscou: “E de condução?” Calma, calma!!! Afinal a mãe sabe que passo a passo se vai ao longe.
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