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Michel Odent

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Publicado em 09/08/2013, às 09h00 - Atualizado em 18/02/2021, às 08h13 por Redação Pais&Filhos


O médico francês, símbolo do parto natural, esteve no Brasil e falou sobre os vários projetos e teorias a que se dedica, do alto de seus 81 anos. Além de aprimorar a técnica do parto na água, Odent estuda a relação entre a ocitocina, hormônio usado para a indução do trabalho de parto, e o autismo e acaba de lançar o livro Childbirth in the Age of Plastics (Infância na Geração das Plásticas), que ainda não chegou por aqui. E também arranja tempo para preparar a Conferência do Meio Pacífico, evento que promete reunir diversos especialistas nas áreas de estudo do parto e da amamentação

Nós sempre começamos a entrevista falando da origem do entrevistado, sobre a família, os pais… Eu queria começar pela profissão dos seus pais.

Nasci em um vilarejo a 80 quilômetros de Paris que se chama Bresles. Minha mãe era professora no berçário do sistema público francês e meu pai era contador na usina de açúcar local. O interessante é que minha mãe foi uma das primeiras professoras de berçário da França influenciada por Maria Montessori [médica e educadora italiana, fundadora do método Montessori, que tem como base os conceitos de atividade, individualidade e liberdade]. Isso foi logo após a Primeira Guerra Mundial, em torno do ano de 1919. Minha mãe ficou impressionada pelo que ela ensinava, foi a Paris para assistir a uma palestra dela e isso foi o começo de tudo.

Gostaria de saber como foi o seu nascimento.

Nasci em casa, em 1930, com a única parteira do vilarejo. Meu pai estava em casa, mas não entrou no quarto. Eu sou o filho mais velho e, de acordo com a minha mãe, o dia do meu nascimento foi o mais feliz da vida dela. Ela teve a primeira contração às 22h e eu nasci à meia-noite.

Ficavam só a sua mãe e a parteira no quarto?

Eu acho que era a minha mãe, a mãe dela, minha avó, que estava morando no vilarejo. Naquela época o parto era uma coisa de mulher. O pai não entrava no quarto.

Você acredita que a maneira como você nasceu tem alguma influência no seu trabalho, na sua vida?

É difícil saber. Nós somos expostos a tantas influências que é difícil analisar e dizer o que provocou um efeito em uma instância de indivíduo. É impossível dizer. Você pode analisar o efeito em um grande número de pessoas. O resultado de todos os estudos que tenho acompanhado dizem que o período mais crítico é o momento do nascimento, porque é o momento em que acontece a interação dos genes com o ambiente. Atualmente não se fala em quais são os fatores de risco, mas quando acontece essa exposição, o timing. Por exemplo, crianças autistas estão dentro da média em relação ao resto da população no que diz respeito ao peso, circunferência da cabeça e peso da placenta, então você percebe que aquilo que acontece antes do nascimento não é tão importante. Apesar de todos os modismos, não existe nenhum estudo que demonstra a relação entre certas vacinas dadas a bebês e o surgimento de autismo. Temos razões para acreditar que a indução do trabalho de parto é um importante fator de risco.

De onde vem essa teoria?

Estamos fazendo uma pesquisa em Málaga, na Espanha, para testar se a exposição à forma sintética do hormônio da ocitocina durante o trabalho de parto pode ser um fator de risco para o autismo. Parece que a ocitocina sintética pode atravessar a placenta, chegar até o bebê e atingir sua circulação. E quando chega ao cérebro dele, pode interferir no desenvolvimento, em particular do sistema de ocitocina do feto e isso pode causar problemas para sintetizar ocitocina.

A ocitocina é o hormônio do amor, certo?

A ocitocina tem ação dupla: ela contrai o útero, possibilitando o nascimento do bebê e a saída da placenta. Por isso é o hormônio mais importante para o nascimento. Além disso, é ela a responsável por contrair os dutos mamários para que o leite materno seja liberado. O hormônio permite que o útero seja contraído também durante o orgasmo. E a ocitocina é responsável até pela ejaculação, já que ela manda uma mensagem para a próstata e vesícula seminal para que se contraiam. Tudo isso é a função mecânica da ocitocina. Agora descobrimos que ela tem um importante papel no âmbito comportamental. E podemos resumir dizendo: qualquer que seja a faceta do amor, a ocitocina está sempre envolvida.

Como você chegou a essa conclusão?

No nosso estudo, em Málaga, contamos com um grande hospital, com seis mil nascimentos por ano. Lá, acompanhamos bebês nascidos em 2006, que agora tem cinco anos, e sabemos tudo sobre como eles nasceram, os medicamentos a que foram expostos. Entrevistamos suas famílias e procuramos por autismo e outras patologias. Também verificamos a qualidade e duração do aleitamento materno, já que, em teoria, altos níveis de ocitocina sintética aplicada durante o trabalho de parto podem tornar os receptores dos seios menos sensíveis na hora da descida do leite. O amplo uso de ocitocina deve explicar porque tantas mulheres têm dificuldade em amamentar.

Qual é a solução para evitar o uso de ocitocina, caso a mulher não entre em trabalho de parto até 42 semanas?

Você pode monitorar o bebê diariamente, se ele estiver bem não há motivo para tirá-lo do útero. O trabalho de parto é um processo involuntário e como tal, você não pode apressá-lo. É como se você pedisse ao seu esôfago para se contrair mais rapidamente. A ideia em voga atualmente é: “Você não pode parir sozinha”, você precisa de um treinador, alguém que possa te dizer quando fazer força, como tem que respirar, se você está em uma boa posição… Não! O que a mulher precisa é ser protegida de interferências que possam inibir o trabalho de parto. Ela não pode usar a área do cérebro ligada ao intelecto, ela tem que usar as estruturas arcaicas do cérebro. Um conceito físico que pode ser útil é o antagonismo entre adrenalina e ocitocina: quando os mamíferos liberam adrenalina eles não pode liberar ocitocina. Os mamíferos liberam a adrenalina em situações de emergência, particularmente quando estão assustados, quando se sentem observados ou quando estão com frio.

E após o nascimento, o que é mais importante para o bebê?

Temos algumas razões para manter otimismo, apesar de nos encontrarmos no fundo do poço. Descobertas científicas do século 20 nos levaram a acreditar no óbvio: o bebê precisa de sua mãe. Pode parecer óbvio para as gerações mais novas, mas para a minha não era. Antigamente os bebês eram separados de suas mães ao nascer. Hoje, graças à ciência moderna, sabemos que o bebê tem que ficar com a sua mãe quando nasce, que o leite materno é a melhor fonte de alimento e que a mãe é a melhor incubadora que existe. Os estudos nos mostraram o que aprendemos com os outros mamíferos. Com os outros mamíferos há um apego estabelecido imediatamente após o nascimento da cria. Com isso, aprendemos que o corpo do bebê deve ser colonizado por “germes amigos”, as bactérias que estão no corpo da mãe. No mundo ideal o contato do bebê recém-nascido deveria acontecer somente com uma pessoa, sua mãe. É incrível que tenhamos precisado da ciência para descobrir isso!

Você estava presente no parto dos seus filhos?

Para o nascimento da primeira, Sylvie, que nasceu em 1958, não pude estar lá. Na época o pai nunca ficava na sala de parto, além disso, eu estava na Argélia a serviço militar. Para o segundo, Christophe, estive presente por sorte. Estava almoçando e minha mulher falou: “Eu acho que o bebê está descendo”. Antes de voltar ao hospital a examinei e ela estava com cinco centímetros de dilatação, em trabalho de parto! Então eu disse: “Preciso voltar ao hospital, venha comigo”. Chegamos e ela deu à luz logo depois! O último foi Pascal, a mãe dele tinha 38 anos, era seu primeiro filho, e a gravidez era considerada de alto risco porque ela tinha esclerose múltipla. Por isso, ela quis dar à luz em casa e tínhamos que ligar para duas parteiras amigas nossas porque em 1985 eu não era registrado como médico na Inglaterra. Então foi uma situação ideal: estávamos só nós dois em casa e ela estava sozinha no quarto. Mas eu sempre encontrava uma desculpa para não estar com ela diretamente. Resultado: o bebê nasceu três horas depois da primeira contração. A parteira chegou na mesma hora que ele! Ela deu à luz no banheiro, eu estava lá, mas por sorte, mais uma vez.

Qual é a sua formação?

Ironicamente não me formei como obstetra, sou cirurgião. Em 1962 trabalhei em um hospital de uma cidade a 80 quilômetros de Paris, era o encarregado pela unidade de cirurgia. Extraoficialmente, por eu saber a técnica da cesárea, fiquei responsável pela maternidade também. Conforme conversava com as parteiras, me tornava mais interessado pela psicologia do parto e entendi que muitas regras aplicadas por lá eram reais. Então mudamos as regras para tudo, mas não foi do dia para a noite, isso levou anos.

Como vocês quebravam as regras?

Substituímos a tradicional sala de parto por uma salinha que se parecia com o quarto de uma casa, para que a mulher pudesse esquecer que estava em um hospital. Trouxemos um piano e convidamos as grávidas para cantar, se familiarizar com o lugar e com as parteiras. Compramos uma piscina inflável e usamos como opção de alívio da dor, no lugar dos medicamentos. Quando cheguei ao hospital em 1962 eram 200 partos por ano, e em 1977 eram mil nascimentos por ano. Continuei como o único médico da maternidade, com seis parteiras. Me falaram de uma maternidade com 800 partos por ano e 15 obstetras. Então quando digo que fui o responsável, sozinho, por mil partos, os outros médicos não podem acreditar! E eu nem sou obstetra!


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