Publicado em 09/08/2013, às 09h00 - Atualizado em 18/02/2021, às 08h13 por Redação Pais&Filhos
O médico francês, símbolo do parto natural, esteve no Brasil e falou sobre os vários projetos e teorias a que se dedica, do alto de seus 81 anos. Além de aprimorar a técnica do parto na água, Odent estuda a relação entre a ocitocina, hormônio usado para a indução do trabalho de parto, e o autismo e acaba de lançar o livro Childbirth in the Age of Plastics (Infância na Geração das Plásticas), que ainda não chegou por aqui. E também arranja tempo para preparar a Conferência do Meio Pacífico, evento que promete reunir diversos especialistas nas áreas de estudo do parto e da amamentação
Nasci em um vilarejo a 80 quilômetros de Paris que se chama Bresles. Minha mãe era professora no berçário do sistema público francês e meu pai era contador na usina de açúcar local. O interessante é que minha mãe foi uma das primeiras professoras de berçário da França influenciada por Maria Montessori [médica e educadora italiana, fundadora do método Montessori, que tem como base os conceitos de atividade, individualidade e liberdade]. Isso foi logo após a Primeira Guerra Mundial, em torno do ano de 1919. Minha mãe ficou impressionada pelo que ela ensinava, foi a Paris para assistir a uma palestra dela e isso foi o começo de tudo.
Nasci em casa, em 1930, com a única parteira do vilarejo. Meu pai estava em casa, mas não entrou no quarto. Eu sou o filho mais velho e, de acordo com a minha mãe, o dia do meu nascimento foi o mais feliz da vida dela. Ela teve a primeira contração às 22h e eu nasci à meia-noite.
Eu acho que era a minha mãe, a mãe dela, minha avó, que estava morando no vilarejo. Naquela época o parto era uma coisa de mulher. O pai não entrava no quarto.
É difícil saber. Nós somos expostos a tantas influências que é difícil analisar e dizer o que provocou um efeito em uma instância de indivíduo. É impossível dizer. Você pode analisar o efeito em um grande número de pessoas. O resultado de todos os estudos que tenho acompanhado dizem que o período mais crítico é o momento do nascimento, porque é o momento em que acontece a interação dos genes com o ambiente. Atualmente não se fala em quais são os fatores de risco, mas quando acontece essa exposição, o timing. Por exemplo, crianças autistas estão dentro da média em relação ao resto da população no que diz respeito ao peso, circunferência da cabeça e peso da placenta, então você percebe que aquilo que acontece antes do nascimento não é tão importante. Apesar de todos os modismos, não existe nenhum estudo que demonstra a relação entre certas vacinas dadas a bebês e o surgimento de autismo. Temos razões para acreditar que a indução do trabalho de parto é um importante fator de risco.
Estamos fazendo uma pesquisa em Málaga, na Espanha, para testar se a exposição à forma sintética do hormônio da ocitocina durante o trabalho de parto pode ser um fator de risco para o autismo. Parece que a ocitocina sintética pode atravessar a placenta, chegar até o bebê e atingir sua circulação. E quando chega ao cérebro dele, pode interferir no desenvolvimento, em particular do sistema de ocitocina do feto e isso pode causar problemas para sintetizar ocitocina.
A ocitocina tem ação dupla: ela contrai o útero, possibilitando o nascimento do bebê e a saída da placenta. Por isso é o hormônio mais importante para o nascimento. Além disso, é ela a responsável por contrair os dutos mamários para que o leite materno seja liberado. O hormônio permite que o útero seja contraído também durante o orgasmo. E a ocitocina é responsável até pela ejaculação, já que ela manda uma mensagem para a próstata e vesícula seminal para que se contraiam. Tudo isso é a função mecânica da ocitocina. Agora descobrimos que ela tem um importante papel no âmbito comportamental. E podemos resumir dizendo: qualquer que seja a faceta do amor, a ocitocina está sempre envolvida.
No nosso estudo, em Málaga, contamos com um grande hospital, com seis mil nascimentos por ano. Lá, acompanhamos bebês nascidos em 2006, que agora tem cinco anos, e sabemos tudo sobre como eles nasceram, os medicamentos a que foram expostos. Entrevistamos suas famílias e procuramos por autismo e outras patologias. Também verificamos a qualidade e duração do aleitamento materno, já que, em teoria, altos níveis de ocitocina sintética aplicada durante o trabalho de parto podem tornar os receptores dos seios menos sensíveis na hora da descida do leite. O amplo uso de ocitocina deve explicar porque tantas mulheres têm dificuldade em amamentar.
Você pode monitorar o bebê diariamente, se ele estiver bem não há motivo para tirá-lo do útero. O trabalho de parto é um processo involuntário e como tal, você não pode apressá-lo. É como se você pedisse ao seu esôfago para se contrair mais rapidamente. A ideia em voga atualmente é: “Você não pode parir sozinha”, você precisa de um treinador, alguém que possa te dizer quando fazer força, como tem que respirar, se você está em uma boa posição… Não! O que a mulher precisa é ser protegida de interferências que possam inibir o trabalho de parto. Ela não pode usar a área do cérebro ligada ao intelecto, ela tem que usar as estruturas arcaicas do cérebro. Um conceito físico que pode ser útil é o antagonismo entre adrenalina e ocitocina: quando os mamíferos liberam adrenalina eles não pode liberar ocitocina. Os mamíferos liberam a adrenalina em situações de emergência, particularmente quando estão assustados, quando se sentem observados ou quando estão com frio.
Temos algumas razões para manter otimismo, apesar de nos encontrarmos no fundo do poço. Descobertas científicas do século 20 nos levaram a acreditar no óbvio: o bebê precisa de sua mãe. Pode parecer óbvio para as gerações mais novas, mas para a minha não era. Antigamente os bebês eram separados de suas mães ao nascer. Hoje, graças à ciência moderna, sabemos que o bebê tem que ficar com a sua mãe quando nasce, que o leite materno é a melhor fonte de alimento e que a mãe é a melhor incubadora que existe. Os estudos nos mostraram o que aprendemos com os outros mamíferos. Com os outros mamíferos há um apego estabelecido imediatamente após o nascimento da cria. Com isso, aprendemos que o corpo do bebê deve ser colonizado por “germes amigos”, as bactérias que estão no corpo da mãe. No mundo ideal o contato do bebê recém-nascido deveria acontecer somente com uma pessoa, sua mãe. É incrível que tenhamos precisado da ciência para descobrir isso!
Para o nascimento da primeira, Sylvie, que nasceu em 1958, não pude estar lá. Na época o pai nunca ficava na sala de parto, além disso, eu estava na Argélia a serviço militar. Para o segundo, Christophe, estive presente por sorte. Estava almoçando e minha mulher falou: “Eu acho que o bebê está descendo”. Antes de voltar ao hospital a examinei e ela estava com cinco centímetros de dilatação, em trabalho de parto! Então eu disse: “Preciso voltar ao hospital, venha comigo”. Chegamos e ela deu à luz logo depois! O último foi Pascal, a mãe dele tinha 38 anos, era seu primeiro filho, e a gravidez era considerada de alto risco porque ela tinha esclerose múltipla. Por isso, ela quis dar à luz em casa e tínhamos que ligar para duas parteiras amigas nossas porque em 1985 eu não era registrado como médico na Inglaterra. Então foi uma situação ideal: estávamos só nós dois em casa e ela estava sozinha no quarto. Mas eu sempre encontrava uma desculpa para não estar com ela diretamente. Resultado: o bebê nasceu três horas depois da primeira contração. A parteira chegou na mesma hora que ele! Ela deu à luz no banheiro, eu estava lá, mas por sorte, mais uma vez.
Ironicamente não me formei como obstetra, sou cirurgião. Em 1962 trabalhei em um hospital de uma cidade a 80 quilômetros de Paris, era o encarregado pela unidade de cirurgia. Extraoficialmente, por eu saber a técnica da cesárea, fiquei responsável pela maternidade também. Conforme conversava com as parteiras, me tornava mais interessado pela psicologia do parto e entendi que muitas regras aplicadas por lá eram reais. Então mudamos as regras para tudo, mas não foi do dia para a noite, isso levou anos.
Substituímos a tradicional sala de parto por uma salinha que se parecia com o quarto de uma casa, para que a mulher pudesse esquecer que estava em um hospital. Trouxemos um piano e convidamos as grávidas para cantar, se familiarizar com o lugar e com as parteiras. Compramos uma piscina inflável e usamos como opção de alívio da dor, no lugar dos medicamentos. Quando cheguei ao hospital em 1962 eram 200 partos por ano, e em 1977 eram mil nascimentos por ano. Continuei como o único médico da maternidade, com seis parteiras. Me falaram de uma maternidade com 800 partos por ano e 15 obstetras. Então quando digo que fui o responsável, sozinho, por mil partos, os outros médicos não podem acreditar! E eu nem sou obstetra!
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